Pois é, é como eu sempre escrevo… e escrevo de
novo: algumas vezes me deparo com opiniões, acontecimentos e atitudes que me
fazem rodar a manivela da cabeça e aí saio pensando em escrever isto e aquilo…
mas, por várias razões, todas humanas, não coloco no papel, ou melhor, no word, as palavras que pensei. Se uma das
razões é a preguiça (ou incompetência), outra das razões, e esta é mais
importante, é que acabo encontrando aquilo que me custou tanto a pensar muito
melhor escrito se houvesse sido eu a fazê-lo (num assomo de coragem contra a
preguiça, well…).
Estou com o semanário SOL desta semana, saiu
ontem, sexta-feira, com alguns artigos muito interessantes. Pensei em
transcrever alguns. Fui ao site do jornal, os artigos desta edição só estarão
disponíveis na terça-feira. Dando uma olhada no site aterrissei num artigo de
Inês Pedrosa cujo título é “A cultura do falhanço” e o lead é “A
introdução de exames nacionais no final do quarto ano de escolaridade não
promove a excelência, mas a discriminação social.” E a autora prossegue
desancando a intenção do Governo em voltar a implantar os exames da quarta
classe. Os argumentos são os mesmos de sempre, são aqueles forjados em
simpósios, seminários, de pedagogos, sociólogos e outros ólogos que adoram teorizar e pressionam os governos da sua famiglia a colocar em prática. E estes,
os governos, que adoram parecer e se dizer progressistas,
apressam-se a implantar.
A autora escreve algumas vezes "pobres crianças de 9 anos". Bom, que são crianças, até devo concordar. Porque eu fui
uma delas que fiz exame escrito e oral na quarta classe. Aliás, nesse ano,
prestei quatro exames!! Sim, o de
final do ensino primário, a tal quarta classe, o de admissão ao Liceu e o de
admissão à Escola Industrial. E o quarto? O quarto exame (escrito e oral)
prestei-o em segunda chamada, que era uma segunda chance dada aos alunos que
reprovavam na primeira chamada – o que me aconteceu na prova oral de admissão
ao Liceu.
Detalhe: os exames escritos eram descritivos, não
de cruzinhas. A pergunta era, por exemplo, “Quem descobriu o Brasil?” e você
tinha que escrever numa letra legível (senão podia ser penalizado) a resposta.
Curiosamente nunca acertei essa pergunta. Só muito tempo depois, recentemente,
é que vim a saber quem foi o descobridor do Brasil: Luiz Inácio Lula da Silva!
Pois bem, fiz esses exames todos e não me consta
que tenha chegado traumatizado à minha idade. Devo ser o único…
Eis o que escreve Guilherme Valente, no blogue “Rerum Natura”
Resposta a Inês Pedrosa no
"Sol"
Tenho de confessar, embora me custe, porque a Inês
Pedrosa dá o que tem, que nunca li nada tão cego à mais evidente evidência, tão
deprimentemente obtuso (é o termo mais suave que me ocorre) do que aquilo que
Inês Pedrosa escreveu na sua crónica no Sol de 5 de Abril.
A tragédia do que foi a educação nos últimos
trinta anos em Portugal quem mais feriu foi as crianças pobres, as que não
tinham livros em casa, nem pais que pudessem ensiná-las ou pô-las a estudar nas
escolas diferentes, como aquela em que – aposto – Inês Pedrosa, pôde,
felizmente, pôr a filha a estudar.
Foram trinta anos de crime e irresponsabilidade, a
deixar que as crianças pobres entrassem na escola pública sem nada e saíssem
dela sem coisa nenhuma. Miseravelmente, polpotianamente, sacrificadas à
ideologia obscurantista. Um analfabeto deixa de ser um analfabeto por lhe
oferecerem um diploma de doutoramento?
O resultado desses trinta anos de delírio está aí,
aos olhos de todos, nos resultados da educação e na realidade social (o
abandono escolar não parou, o fosso entre pobres e ricos não deixou de
aumentar, etc., etc., todos os indicadores foram já mais do que divulgados),
cultural, política, económica.
Mas valerá a pena tentar explicar ou pedir lucidez
a quem não entende o óbvio e não vê a realidade mais do que gritante à sua
volta? Não vale. Inês Pedrosa é claramente um daqueles seres que acredita no
que deseja acreditar.
Relevante é o saber e a competência do ministro e
a determinação que está a demonstrar. Aguardemos os resultados. Virão muito
depressa. E é disso que andam com medo.
Guilherme Valente, no blogue “Rerum Natura – Da natureza das coisas”, 13-04-2012
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