sábado, 21 de abril de 2012

"Exames escolares de meninos de 9 anos mantêm as classes sociais estáticas"


Pois é, é como eu sempre escrevo… e escrevo de novo: algumas vezes me deparo com opiniões, acontecimentos e atitudes que me fazem rodar a manivela da cabeça e aí saio pensando em escrever isto e aquilo… mas, por várias razões, todas humanas, não coloco no papel, ou melhor, no word, as palavras que pensei. Se uma das razões é a preguiça (ou incompetência), outra das razões, e esta é mais importante, é que acabo encontrando aquilo que me custou tanto a pensar muito melhor escrito se houvesse sido eu a fazê-lo (num assomo de coragem contra a preguiça, well…).
Estou com o semanário SOL desta semana, saiu ontem, sexta-feira, com alguns artigos muito interessantes. Pensei em transcrever alguns. Fui ao site do jornal, os artigos desta edição só estarão disponíveis na terça-feira. Dando uma olhada no site aterrissei num artigo de Inês Pedrosa cujo título é “A cultura do falhanço” e o lead é “A introdução de exames nacionais no final do quarto ano de escolaridade não promove a excelência, mas a discriminação social.” E a autora prossegue desancando a intenção do Governo em voltar a implantar os exames da quarta classe. Os argumentos são os mesmos de sempre, são aqueles forjados em simpósios, seminários, de pedagogos, sociólogos e outros ólogos que adoram teorizar e pressionam os governos da sua famiglia a colocar em prática. E estes, os governos, que adoram parecer e se dizer progressistas, apressam-se a implantar.
A autora escreve algumas vezes "pobres crianças de 9 anos". Bom, que são crianças, até devo concordar. Porque eu fui uma delas que fiz exame escrito e oral na quarta classe. Aliás, nesse ano, prestei quatro exames!! Sim, o de final do ensino primário, a tal quarta classe, o de admissão ao Liceu e o de admissão à Escola Industrial. E o quarto? O quarto exame (escrito e oral) prestei-o em segunda chamada, que era uma segunda chance dada aos alunos que reprovavam na primeira chamada – o que me aconteceu na prova oral de admissão ao Liceu.
Detalhe: os exames escritos eram descritivos, não de cruzinhas. A pergunta era, por exemplo, “Quem descobriu o Brasil?” e você tinha que escrever numa letra legível (senão podia ser penalizado) a resposta. Curiosamente nunca acertei essa pergunta. Só muito tempo depois, recentemente, é que vim a saber quem foi o descobridor do Brasil: Luiz Inácio Lula da Silva!
Pois bem, fiz esses exames todos e não me consta que tenha chegado traumatizado à minha idade. Devo ser o único…

Eis o que escreve Guilherme Valente, no blogue “Rerum Natura

Resposta a Inês Pedrosa no "Sol"
Tenho de confessar, embora me custe, porque a Inês Pedrosa dá o que tem, que nunca li nada tão cego à mais evidente evidência, tão deprimentemente obtuso (é o termo mais suave que me ocorre) do que aquilo que Inês Pedrosa escreveu na sua crónica no Sol de 5 de Abril.
A tragédia do que foi a educação nos últimos trinta anos em Portugal quem mais feriu foi as crianças pobres, as que não tinham livros em casa, nem pais que pudessem ensiná-las ou pô-las a estudar nas escolas diferentes, como aquela em que – aposto – Inês Pedrosa, pôde, felizmente, pôr a filha a estudar.
Foram trinta anos de crime e irresponsabilidade, a deixar que as crianças pobres entrassem na escola pública sem nada e saíssem dela sem coisa nenhuma. Miseravelmente, polpotianamente, sacrificadas à ideologia obscurantista. Um analfabeto deixa de ser um analfabeto por lhe oferecerem um diploma de doutoramento?
O resultado desses trinta anos de delírio está aí, aos olhos de todos, nos resultados da educação e na realidade social (o abandono escolar não parou, o fosso entre pobres e ricos não deixou de aumentar, etc., etc., todos os indicadores foram já mais do que divulgados), cultural, política, económica.
Mas valerá a pena tentar explicar ou pedir lucidez a quem não entende o óbvio e não vê a realidade mais do que gritante à sua volta? Não vale. Inês Pedrosa é claramente um daqueles seres que acredita no que deseja acreditar.
Relevante é o saber e a competência do ministro e a determinação que está a demonstrar. Aguardemos os resultados. Virão muito depressa. E é disso que andam com medo.
Guilherme Valente, no blogue “Rerum Natura – Da natureza das coisas”, 13-04-2012

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