Maria Lucia Victor Barbosa
O ser humano tem necessidade
de acreditar em alguma coisa que dê sentido à sua vida e, assim, se torna alvo
fácil fácil de espertalhões de todos os tipos, sendo mais visíveis aqueles que
transitam na esfera pública. Entretanto, a “ética da malandragem” não é
monopólio de nenhuma classe social. É praticada tanto pelo indivíduo que vende
ilegalmente terrenos que não lhe pertencem aos seus iguais favelados, quanto
por empresários que praticam a “ética de mercado”, nome politicamente correto
para a corrupção que se espraia como nunca em perfeita simbiose com a esfera
pública.
Aliás, sempre houve o
intercâmbio governo e elites econômicas, sendo que atualmente chefões mafiosos
também mandam em altos escalões governamentais. A sucessão de quedas de
ministros acusados de atos ilícitos no primeiro ano do mandato de Dilma
Rousseff, que estariam ainda em seus cargos não fossem as denúncias feitas pela
imprensa é prova do que aqui se afirma.
Outros ministros estão, como
se diz, blindados. Estes podem navegar tranquilos em suas lanchas, singrando
sem problemas o mar de lama da corrupção público-privada. Neste caso e no dos
que caíram dos ministérios, mas seguem impávidos em outros cargos importantes,
a impressão que se tem é a de que companheiros pairam acima da lei ou mantêm a
lei a seu favor. Ingênuo, desinformado ou indiferente o povo acredita em faxina
presidencial, está otimista quanto à economia e atribui 77% de aprovação à
presidente cujo mandato até agora foi de um vazio absoluto. Algo, sem dúvida,
politicamente surrealista.
Deve-se o atual estado de
putrefação moral ao PT, que aos poucos vai solapando valores capazes de
funcionar como bússola de condutas e impondo falsos valores atrelados ao seu
projeto de poder. Ao mesmo tempo, a classe dominante petista vai centralizando
cada vez mais poder no Executivo e levando a reboque o Legislativo e o
Judiciário. Tudo está a serviço do Partido, o resto é coadjuvante. Sem oposição
fica fácil ir aos poucos completando o domínio. E, se recentemente houve
rebelião nas bases aliadas, um sucedâneo de mensalão pode refazer a completa
dominação petista sobre o Congresso. Basta Lula da Silva chamar às falas sua
pupila e cobrar dela o mesmo que fazia seu “companheiro de guerrilha”, José
Dirceu.
“Corrupção sempre existiu
desde que Cabral pisou a Terra de Santa Cruz”, gritarão os militantes. “Nunca
existiu mensalão”, dirão outros repetindo o ex-presidente que nunca deixou de
presidir, “o que há é coalizão”. É verdade, corrupção que leva pelo ralo o
dinheiro que devia ser destinado ao povo sempre foi praticada, só que agora
está sacramentada, oficializada e é exercida com desfaçatez inédita.
Em estado de beatitude o povo
aplaude e se regozija com a roubalheira que o prejudica, com os altos impostos,
com a péssima situação da Saúde, como o baixíssimo nível da Educação.
Para tanto êxito dos antigos
militantes éticos funciona a deturpação dos dados econômicos, o falseamento dos
fatos. E, se “a estatística é uma forma nobre de mentira”, o marketing pode ser
uma forma ignóbil de enganação.
Somos a sexta economia
mundial, alardeou o governo, mas passou batido que em 2011 tivemos um pibinho
de 2,7% e não os prometidos 5% do ministro Mantega. Foi de longe o pior PIB dos
Brics, o mais baixo da América Latina, um fiasco completo diante da jactância
oficial.
Na realidade cresce a
inadimplência e o comprometimento da renda das famílias com o pagamento de
juros e amortizações, o que deve frear de novo o PIB deste ano. O que faz o
governo? Manda o povo comprar mais e para isso grita como um Sílvio Santos
através do Banco do Brasil e da Caixa Econômica: “Quem quer dinheiro? Aqui
temos crédito abundante e juros baixos. Os bancos particulares que nos sigam”.
Será que já vimos um filme um tanto parecido em outro país, o que gerou a crise
mundial?
Quanto à indústria Brasileira,
que vem se desindustrializando por conta de questões como, entre outras, carga
tributária, pesados encargos trabalhistas, custo do dinheiro, problemas de
infraestrutura, escassez de mão-de-obra qualificada, foi agraciada com um
pacote de boas intenções e exacerbação de medidas protecionistas que só fazem
atrasar nosso possível desenvolvimento.
Quando Lula da Silva chegou à
presidência na quarta tentativa herdou a herança bendita do Plano Real e
navegou nas águas calmas da economia mundial, que só começaram a se tornar
turbulentas em 2008. Rousseff herdou do seu mestre e de si mesma uma herança maldita
e trafega em meio à crise mundial. O governo vai precisar de algo mais que
encenações e enganações para que o PIB desse ano não seja um pibinho.
Título e Texto: Maria Lucia
Victor Barbosa é socióloga, 09-04-2012
Grifos: JP
Excelente e lúcido o texto de Maria Lucia, desmascarando a falácia da propaganda oficial repetida pela mídia chapa-branca todos os dias.
ResponderExcluirParabéns!