sábado, 21 de abril de 2012

O povo unido...

Otacílio Guimarães
O texto de Rubem Alves é forte e eu concordo com ele em parte, não no todo. Só nunca concordei com o fato de Rubem Alves ser esquerdista. Todo esquerdista é utopista, portanto, um tolo.  
O povo é isto que ele descreve, entretanto, o povo pode ser vítima de líderes mal-intencionados ou abençoado por líderes bem-intencionados. E o povo não pode ser colocado no mesmo saco como se fosse batatas. Afinal, há povos educados e povos mal-educados. Onde eu vivo atualmente, o povo é em sua maioria educado. Na Nova Zelândia também, assim como no Canadá e em outros países.  
O mal dos pensadores brasileiros é imaginar que o planeta Terra se resume ao Brasil. E o mal dos esquerdistas brasileiros é achar que são donos da verdade. Aliás, este é o mal de todos os esquerdistas do mundo inteiro.  
Não é a toa que Rubem Alves só escreve para a Folha de São Paulo, o jornal reduto da esquerdalha brasileira. Dá um ar de intelectual citando autores famosos, quando o verdadeiro intelectual procura apenas transmitir seus próprios pensamentos. E comete neste artigo uma estupidez ao tentar colocar o povo como batatas embaladas no mesmo saco.  
Sabe, amigo, pensar sozinho, em silêncio e em seu reduto secreto é bom. Porém, desprezar o povo e tentar viver longe dele não passa de debilidade mental. É o que todo esquerdista é, um débil mental. Rubem Alves não foge à regra.  
Eu tenho viajado pelo mundo e sei que o povo não é o que Rubem Alves pensa. O problema dele é que seu universo mental é estreito, mesquinho, arrogante, decadente. Ele não consegue sequer olhar em volta para perceber que o ser humano é bem diferente dele. Como todo bom esquerdista, ele se fechou em si mesmo e não consegue enxergar nada além de suas vísceras e da merda que elas produzem.  
Eu, pelo contrário, como um democrata capitalista, adoro o povo, amo o povo. O Brasil está infestado de falsos intelectuais como esse Rubem Alves. Deve ser um sujeito muito infeliz, pois quem vive isolado do povo, não faz parte do povo e portanto é muito infeliz. Tenho pena desse cara.   
Otacílio Guimarães
PS: Eu me permito corrigir a frase abaixo: Rubem Alves - Comunista da Folha de S. Paulo.



Ganhei coragem
Rubem Alves - colunista da Folha de S. Paulo 
“Mesmo o mais corajoso entre nós só raramente tem coragem para aquilo que ele realmente conhece“, observou Nietzsche. É o meu caso. Muitos pensamentos meus, eu guardei em segredo. Por medo. Albert Camus, ledor de Nietzsche, acrescentou um detalhe acerca da hora quando a coragem chega: “Só tardiamente ganhamos a coragem de assumir aquilo que sabemos“. Tardiamente. Na velhice. Como estou velho, ganhei coragem. Vou dizer aquilo sobre que me calei: “O povo unido jamais será vencido“: é disso que eu tenho medo.
Em tempos passados invocava-se o nome de Deus como fundamento da ordem política. Mas Deus foi exilado e o “povo“ tomou o seu lugar: a democracia é o governo do povo... Não sei se foi bom negócio: o fato é que a vontade do povo, além de não ser confiável, é de uma imensa mediocridade. Basta ver os programas de televisão que o povo prefere.
A Teologia da Libertação sacralizou o povo como instrumento de libertação histórica. Nada mais distante dos textos bíblicos. Na Bíblia o povo e Deus andam sempre em direções opostas. Bastou que Moisés, líder, se distraísse, na montanha, para que o povo, na planície, se entregasse à adoração de um bezerro de ouro. Voltando das alturas Moisés ficou tão furioso que quebrou as tábuas com os 10 mandamentos. E há a estória do profeta Oséias, homem apaixonado! Seu coração se derretia ao contemplar o rosto da mulher que amava! Mas ela tinha outras idéias. Amava a prostituição. Pulava de amante a amante enquanto o amor de Oséias pulava de perdão a perdão. Até que ela o abandonou... Passado muito tempo Oséias perambulava solitário pelo mercado de escravos... E que foi que viu? Viu a sua amada sendo vendida como escrava. Oséias não teve dúvidas. Comprou-a e disse: “Agora você será minha para sempre...“ Pois o profeta transformou a sua desdita amorosa numa parábola do amor de Deus. Deus era o amante apaixonado. O povo era a prostituta. Ele amava a prostituta. Mas sabia que ela não era confiável. O povo sempre preferia os falsos profetas aos verdadeiros, porque os falsos profetas lhes contavam mentiras. As mentiras são doces. A verdade é amarga. Os políticos romanos sabiam que o povo se enrola com pão e circo. No tempo dos romanos o circo era os cristãos sendo devorados pelos leões. E como o povo gostava de ver o sangue e ouvir os gritos! As coisas mudaram. Os cristãos, de comida para os leões, se transformaram em donos do circo. O circo cristão era diferente: judeus, bruxas e hereges sendo queimados em praças públicas. As praças ficavam apinhadas com o povo em festa, se alegrando com o cheiro de churrasco e os gritos. Reinhold Niebuhr, teólogo moral protestante, no seu livro O homem moral e a sociedade imoral observa que os indivíduos, isolados, têm consciência. São seres morais. Sentem-se “responsáveis“ por aquilo que fazem. Mas quando passam a pertencer a um grupo, a razão é silenciada pelas emoções coletivas. Indivíduos que, isoladamente, são incapazes de fazer mal a uma borboleta, se incorporados a um grupo, tornam-se capazes dos atos mais cruéis. Participam de linchamentos, são capazes de pôr fogo num índio adormecido e de jogar uma bomba no meio da torcida do time rival. Indivíduos são seres morais. Mas o povo não é moral. O povo é uma prostituta que se vende a preço baixo. Meu amigo Lisâneas Maciel, no meio de uma campanha eleitoral, me dizia que estava difícil porque o outro candidato a deputado comprava os votos do povo por franguinhos da Sadia. E a democracia se faz com os votos do povo... Seria maravilhoso se o povo agisse de forma racional, segundo a verdade e segundo os interesses da coletividade. É sobre esse pressuposto que se constrói o ideal da democracia. Mas uma das características do povo é a facilidade com que ele é enganado. O povo é movido pelo poder das imagens e não pelo poder da razão. Quem decide as eleições – e a democracia - são os produtores de imagens. Os votos, nas eleições, dizem quem é o artista que produz as imagens mais sedutoras. O povo não pensa. Somente os indivíduos pensam. Mas o povo detesta os indivíduos que se recusam a ser assimilados à coletividade. Uma coisa é o ideal democrático, que eu amo. Outra coisa são as práticas de engano pelas quais o povo é seduzido. O povo é a massa de manobra sobre a qual os espertos trabalham. Nem Freud, nem Nietzsche e nem Jesus Cristo confiavam no povo. Jesus Cristo foi crucificado pelo voto popular, que elegeu Barrabás. Durante a Revolução Cultural na China de Mao-Tse-Tung, o povo queimava violinos em nome da verdade proletária. Não sei que outras coisas o povo é capaz de queimar. O nazismo era um movimento popular. O povo alemão amava o Führer. O mais famoso dos automóveis foi criado pelo governo alemão para o povo: o Volkswagen. Volk, em alemão, quer dizer “povo“...
O povo unido jamais será vencido! Tenho vários gostos que não são populares. Alguns já me acusaram de gostos aristocráticos... Mas, que posso fazer? Gosto de Bach, de Brahms, de Fernando Pessoa, de Nietzsche, de Saramago, de silêncio, não gosto de churrasco, não gosto de rock, não gosto de música sertaneja, não gosto de futebol (tive a desgraça de viajar por duas vezes, de avião, com um time de futebol...). Tenho medo de que, num eventual triunfo do gosto do povo, eu venha a ser obrigado a queimar os meus gostos e engolir sapos e a brincar de “boca-de-forno“, à semelhança do que aconteceu na China.
De vez em quando, raramente, o povo fica bonito. Mas, para que esse acontecimento raro aconteça é preciso que um poeta entoe uma canção e o povo escute: “Caminhando e cantando e seguindo a canção...“ Isso é tarefa para os artistas e educadores: O povo que amo não é uma realidade. É uma esperança.
Texto: Rubem Alves, Folha de S. Paulo, 05-05-2002, também no blogue “A casa de Rubem Alves

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