Numa altura em que a
austeridade e o desemprego obrigam os jovens espanhóis, portugueses, italianos
e gregos a abandonar os seus países para arranjar emprego, a Polónia está a
tornar-se um destino altamente atrativo.
Jerzy Ziemacki
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Uma feira de emprego em
Wrocław, em abril de 2011.
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Elena Barcia Fernandez, da
bela ilha solarenga de Maiorca, tinha 20 anos quando a crise atingiu a UE. Na
época, em 2008, o fenómeno ainda era considerado uma crise financeira. Dois
anos mais tarde, tornou-se uma crise económica. Hoje em dia, Elena é direta: é
uma crise existencial. Não há trabalho, dinheiro nem perspetivas. Um em cada
dois espanhóis entre os 18 e 30 anos está desempregado. E quando se tem um emprego,
nunca se sabe por quanto tempo, uma vez que em Espanha há pessoas a ficar sem
emprego a cada minuto. O número de desempregados aumentou para um máximo
histórico de seis milhões. “Comparada com a Espanha, a Polónia é atualmente um
país próspero”, disse Fernandez ao Przekrój.
Segundo ela, os jovens
espanhóis estão a abandonar o país por já não acreditarem nos políticos. E por
que haveriam de o fazer? Antes das eleições, o Partido Popular (no poder)
declarou que iria criar 3,5 milhões de postos de emprego. O Governo anunciou
recentemente que durante o seu mandato, que acaba em 2015, não iria haver novos
postos de trabalho.
A mesma situação pode ser
observada no Sul da Europa: em Portugal, Itália, Grécia ou Chipre. O desemprego
está a afetar todos os setores e os jovens têm imensa dificuldade em entrar no
mercado de trabalho. Para melhorar as suas probabilidades com potenciais
empregadores, muitos jovens, na Espanha e na Itália, decidiram remover as suas
tatuagens.
Os mais corajosos e
determinados imigram. Os destinos populares incluem países do Norte como a
Alemanha, Áustria, Holanda, Bélgica e o Reino Unido, onde a taxa de desemprego
é relativamente baixa. As condições do mercado de trabalho também são mais
favoráveis em Malta, no Luxemburgo e na Polónia.
Polónia “mi casa”
“A Polónia oferece grandes
oportunidades. A situação do mercado de trabalho está bem melhor do que em
Espanha”, afirma Óscar Charro, 35 anos, que se instalou há ano na Polónia. Foi
uma decisão bem pensada: queria abrir um negócio mas em Espanha, onde dezenas
de pequenas e médias empresas fecham as portas todos os dias, não parecia boa
ideia. Charro decidiu então iniciar a sua aventura num dos países da UE com um
crescimento económico superior ao da Espanha. Acabou por escolher a Polónia
porque aqui, diz ele, os empreendedores têm espaço para crescer. “Varsóvia é
uma verdadeira capital europeia. Aqui, sinto que estou no sítio certo, na
altura certa.”
Charro já lançou o seu negócio
no domínio da energia solar. “Estou mesmo a considerar ficar na Polónia e
continuar a minha carreira aqui”, acrescentou.
Diego Garea, 32 anos,
especializado na área das TI, instalou-se em Varsóvia no mês de agosto do ano
passado. Conheceu a cidade durante o campeonato da Europa de futebol de 2012 e
ao regressar ao seu país foi informado de que tinha sido despedido. Surgiu-lhe
a ideia de enviar o seu currículo para empresas de TI do país anfitrião do
torneio. Funcionou. Desde setembro de 2012, Garea trabalha para uma pequena empresa
de tecnologia digital. A sua namorada, que não conseguiu arranjar emprego em
Espanha, deverá juntar-se a ele na Polónia, no próximo mês. No início, pensa
trabalhar como operadora na sua língua nativa. Mas mais tarde, se os seus
amigos decidirem também imigrar, tenciona abrir um restaurante espanhol.
“Para nós, arranjar emprego na
Polónia é fantástico. Queremos viver sozinhos, sentir-nos responsáveis, ter os
nossos deveres e despesas. Queremos ser independentes”, diz Ines Ribas Garau,
uma jovem de 25 anos do Sul de Espanha. “Trabalhar permite-nos crescer”,
acrescenta num tom sério. Ines Garau acredita que trabalhar, além de ser uma
questão económica, é também uma questão psicológica. “O desemprego desgasta-nos
mentalmente, paralisa o nosso crescimento social e emocional”, afirma.
Quando há uma década Moises
Delgado se mudou para a Polónia os seus amigos espanhóis ficaram surpresos. Tal
como Garau e Fernandez, a primeira vez que viajou para a Polónia foi como
estudante de Eramus. Gostou do sítio, aprendeu a língua e arranjou emprego na
sua área. Afirma estar feliz na Polónia: “Vir para aqui foi a melhor coisa que
fiz. Sou filólogo por formação e encontrei trabalho no setor das publicações”.
Inúmeras candidaturas
Os departamentos de Recursos
Humanos das empresas polacas estão estupefactos: inúmeras candidaturas a postos
de trabalho vindas da Europa Ocidental amontoam-se nas suas secretárias,
sobretudo para posições na área da engenharia e gestão. Muitas proveem da
região mais afetada pela crise, o Sul da Europa: Portugal, Espanha, Itália. A
maioria dos candidatos estrangeiros são jovens com pouca experiência, mas com
formação. Outro grupo são os gestores com experiência em multinacionais. Devido
à acentuada depressão no setor da construção, a procura de arquitetos em
Espanha caiu em cerca de 90%. As empresas de arquitetura polacas têm sido muito
procuradas.
O número de candidatos de
países desenvolvidos à procura de trabalho na Polónia disparou no último ano.
Algo pouco surpreendente dado que o desemprego entre as pessoas de 25 e 35 anos
é de apenas 10,5%, um valor não muito mais elevado do que um dos maiores
destinos de imigração, o Reino Unido, com 8%.
Ouve-se cada vez mais pessoas
a falar espanhol em cidades como Cracóvia, Poznań, Wrocław ou Gdańsk. “Todas as
noites vêm aqui, pelo menos, 20 espanhóis beber uns copos”, afirma um barman de
Warszawska. Brindam ao sucesso. Muitos encontraram trabalho e, mesmo que ganhem
menos do que na Europa Ocidental, também gastam menos. A Polónia continua a ser
um país onde o custo de vida é relativamente baixo. E, ao que parece, é um
lugar divertido para se viver.
“Viver aqui é extremamente
divertido. A Europa de Leste costumava ser uma incógnita para nós. Estamos a
descobri-la e tem sido uma agradável experiência. Aprendemos a curar a ressaca
com pepino de pickles. Os polacos são muito amáveis para nós. Adoramos-vos!”,
afirma Rodrigo, encostando-se ao bar. Está a pagar uma rodada de licor de noz
polaco aos seus amigos espanhóis e todos erguem os copos para o tradicional
brinde polaco: “Na zdrovye!”.
Título e Texto: Jerzy Ziemacki, Presseurope,
12-06-2013
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