Sinto-me bem, o que resto é um
direito: sentir-me bem. Bem, vou dar uma volta a que tenho direito. Saio, não
sem antes fechar bem a porta da habitação a que tenho direito e aproveitar para
ir ao trabalho. Que também tenho por direito. Hoje é dia de salário e só espero
que não se atrasem senão recorro à justiça a que tenho direito. Por isto, o
direito a sentir-me bem, era escusado. Mas pensando bem – também tenho o
direito de pensar mal – é melhor estar tudo escarrapachado preto no branco, no
livro da constituição dos direitos. Há sempre prevaricadores liberais que não
respeitam os direitos. E são estúpidos – que sei também ser um direito – pois
não sabem como é ótimo passear na via pública e usufruir de todos os direitos.
Passar junto do restaurante e o proprietário, com toda a gentileza, perguntar
se quero o almoço a que tenho direito. Ou no café, onde me sento na esplanada
após passagem pelo quiosque dos jornais. Fiquei com um só jornal, apesar de ter
direito a todos. Vou continuar a volta a pé. Por direito, podia utilizar os
transportes públicos, mas gosto de um pouco de exercício. Olha, um
estabelecimento novo. Vou saber do que se trata. Fornece algo a que também
tenho direito. O comerciante insiste, pois não quer ser condenado por não
cumprir a obrigação de me conceder um direito. Não vi como recusar e, nem sei
se teria o direito para tal. Era uma funerária. Estou dentro do caixão a
consultar a Constituição, para confirmar e, sim, confirmei: tenho direito a ser
velado.
Apareçam, é vossa obrigação
Alberto de Freitas
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