sábado, 7 de abril de 2012

Contos moucos dos loucos (XIII) - O direito do direito aos direitos

Sinto-me bem, o que resto é um direito: sentir-me bem. Bem, vou dar uma volta a que tenho direito. Saio, não sem antes fechar bem a porta da habitação a que tenho direito e aproveitar para ir ao trabalho. Que também tenho por direito. Hoje é dia de salário e só espero que não se atrasem senão recorro à justiça a que tenho direito. Por isto, o direito a sentir-me bem, era escusado. Mas pensando bem – também tenho o direito de pensar mal – é melhor estar tudo escarrapachado preto no branco, no livro da constituição dos direitos. Há sempre prevaricadores liberais que não respeitam os direitos. E são estúpidos – que sei também ser um direito – pois não sabem como é ótimo passear na via pública e usufruir de todos os direitos. Passar junto do restaurante e o proprietário, com toda a gentileza, perguntar se quero o almoço a que tenho direito. Ou no café, onde me sento na esplanada após passagem pelo quiosque dos jornais. Fiquei com um só jornal, apesar de ter direito a todos. Vou continuar a volta a pé. Por direito, podia utilizar os transportes públicos, mas gosto de um pouco de exercício. Olha, um estabelecimento novo. Vou saber do que se trata. Fornece algo a que também tenho direito. O comerciante insiste, pois não quer ser condenado por não cumprir a obrigação de me conceder um direito. Não vi como recusar e, nem sei se teria o direito para tal. Era uma funerária. Estou dentro do caixão a consultar a Constituição, para confirmar e, sim, confirmei: tenho direito a ser velado.
Apareçam, é vossa obrigação
Alberto de Freitas


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