Vitor Cunha
Eu ia fazer um cartaz muito
giro com o logotipo da Benetton sobre uma imagem de fundo que determinei, na
qualidade de especialista em marketing, ser a do miúdo afogado na praia turca.
Depois olhei para a imagem e não fui capaz, sentido-me enojado com a minha
própria ideia.
É extremamente provável que no
navio a abarrotar de albaneses rumo à Itália há mais de 20 anos viajassem
crianças, talvez de calções e t-shirt ocidentais, talvez com sapatilhas e meias
pelo tornozelo, decerto com um corte de cabelo daqueles que todas as crianças
têm. Não seria inovador fazer o meu cartaz mas, mesmo assim, contive-me.
Porém, vocês não se
contiveram. OK, não estão a vender t-shirts, como a Benetton, mas também estão
a vender algo: estão a vender a ideia de que todos somos culpados por algo que
não fizemos. Eu não fiz nada, tosco, pára de me acusar.
Milhares de crianças morrem
diariamente em zonas de conflito; muitas morrem nos paraísos das utopias
fanáticas dos regimes com que os progressistas europeus namoram. Não vejo essas
fotografias nem quero ver. Vocês também não querem ver. É como as coisas são.
Lamentar a morte de uma
criança não é o mesmo que providenciar porta aberta para que todos possam
encontrar o leite e mel. Eu gosto de uma Europa em que se usa biquini e em que
a Joana Amaral Dias pode posar nua para uma revista. Estou disposto a aceitar
todos os estrangeiros que gostem dessa – a única – forma de ser europeu; os
outros, os que não gostam, os que estão dispostos a mudar o que demorou séculos
a conquistar, esses têm muitos outros sítios no planeta para migrar, incluindo
o seu próprio país.
Título e Texto: Vitor Cunha, Blasfémias,
7-9-2015
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