Cesar Maia
1. A crise brasileira – econômica, política, social e moral – tem
um caráter cumulativo: um novo fato negativo agrava os demais. A projeção de
cenários para quando todos os nomes de políticos envolvidos estiverem
denunciados é de um impasse parlamentar. Vai se sentir saudades da dinâmica
parlamentar dos últimos meses. A cada medida econômica que o governo propõe sem
pré-consulta e esta se mostra inviável – total ou parcialmente –, a percepção
posterior da crise se torna maior que a anterior. CPMF é um dos exemplos. O
dólar um indicador.
2. O tamanho da inorganicidade ministerial e parlamentar é de tal
ordem que vários analistas, fazendo um exercício de laboratório, passaram a
achar que o melhor seria Dilma assumir-se apartidariamente e pagar para ver,
organizando um governo de quadros. Isso, ao tempo que produziria dissensos
parlamentares, construiria consensos internos e externos e poderia reverter as
expectativas. Seria um risco. Mas a paralisia atual é a certeza que o fundo do
poço continuará se ampliando.
3. A crise política tem duas dimensões. Por um lado a
inorganicidade parlamentar e por outro a desintegração da autoridade política
da presidente, numa situação de impopularidade sem precedentes. A consequência
disso é não ter nem base parlamentar, nem unidade em seu partido e muito menos
apoio junto aos sindicatos, associações e ONGs atreladas ao PT e financiadas
pelo governo. Há uma “babelização” da política.
4. O clamor por corte de despesas levou a um foco prioritário: os
39 ministérios, que só não são 40 pelas piadas nas redes sobre Ali Babá. Mesmo
que não produzisse redução significativa nas despesas, seria simbólico da
disposição de Dilma em fazê-lo. Sendo assim, esse passou a ser o foco. E
iniciou-se a discussão e os vazamentos.
5. Até se entendia que a
presidente fizesse concessões em nome da governabilidade. Mas o que se está
vendo não é isso. Dilma tem um só foco, na dita reforma ministerial, uma só
preocupação, que nada tem a ver com o país nem com a crise econômica. O único
foco de Dilma é construir uma base parlamentar contra seu impeachment, custe o
que custar, faça as concessões que tiver que fazer. Seu passeio diário de
bicicleta, inevitavelmente leva à lembrança das “pedaladas”.
6. A resultante desse quadro é mais um fato, impulsionando a
cumulatividade da crise, a sua impopularidade e, em seguida, a se submeter a
mais um jogo das pressões menores. Ou seja, a continuidade da desintegração de
sua autoridade. Não há nenhuma reforma ministerial, seja por despesas, seja por
qualificação do gabinete, seja por governabilidade.
7. A reforma ministerial – para a delícia dos que têm suas próprias
bancadas, partidárias ou não – é um mercado persa contra o impeachment hoje.
Mas como não é sustentável, o jogo continua, em direção a novas concessões. O
que Dilma imagina ser a sua defesa contra o impeachment será a aceleração do
processo em direção a esse mesmo impeachment.
Título e Texto: Cesar Maia, 29-9-2015
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