Luciano Henrique
Em nome da facilidade de
entendimento, aqui está um debate ocorrido no Facebook – este é um post longo,
mas para quem quiser entender um tanto das divisões hoje entre a direita vale a
pena. A polêmica começou depois que fiz o seguinte post:
Se eu já disse que Olavo de
Carvalho foi o grande remédio para a direita no Brasil, fiquei devendo uma
informação, que atualizo agora. Os efeitos colaterais estão sendo terríveis. Ao
denunciar o Foro de São Paulo, foi ridicularizado pela mídia. Ele estava com a
razão. Também estava com a razão ao explicar a mente esquerdista pela primeira
vez para os brasileiros, e também ao demonstrar o modus operandi gramsciano. Em
relação ao tão negado Foro, ele parece nunca ter se livrado deste
ressentimento. Isso está se tornando cada vez mais nítido, não apenas em seu
comportamento mas em muitos de seus seguidores, que praticamente já compõem um
“novo perfil” de direitistas. Está defendendo coisas como “intervenção civil
(que depois seria complementada por uma intervenção militar, é claro)” e
retirada de direitos políticos de oponentes (após a intervenção civil), além de
ter dito, à Joice Hasselmann, que o PT “deveria ser tirado do poder de qualquer
jeito”. Essas ideias são autoritárias e, pior do que tudo, negam a política.
Como consequência, os que aceitam essas ideias à risca também negam a política.
Fazendo isso, não irão lutar por um impeachment, pois, para eles isso seria
“submissão a políticos”. Eles são claros enquanto falam isso. Logo, pode até
ser que eles tenham outra meta. Mas para impeachment, não podemos contar com
eles. Pelo potencial intelectual de Olavo e assertividade, de todos os casos,
este é o que mais podemos definir como “desperdício de esforços”.
Dois leitores de Olavo ficaram
muito bravos e vieram no meu inbox. Daí escrevi o seguinte, apontando o que
compreendia como se fosse meramente uma lista de fatos:
(1) Olavo acertou no caso do
Foro (foi indevidamente ridicularizado, por estava com a razão)
(2) Acertou sobre estratégia
gramsciana
(3) Acertou sobre a mente
esquerdista
(4) Vive tocando na tecla do
Foro, pois nunca esquece a negação dos jornalistas – por isso, talvez,
a questão tenha virado ponto de honra
(5) Seus leitores compõem
quase um “novo perfil” de direitistas
(6) Muitos desses leitores
usam estruturas argumentativas e retóricas similares às de Olavo
(7) Ele defende intervenção
civil (que inexoravelmente precisa ser complementada por intervenção militar)
(8) Ele defende extinção de
direitos políticos de seus oponentes
(9) Ele disse que o PT
“deveria ser tirado do poder de qualquer jeito”.
(10) Há autoritarismo nessas
ideias
(11) Há também negação da ação
política tradicional (que é a que o PT faz há décadas)
(12) Olavo e seus leitores não
estão focados em impeachment
(13) Se formos contar com
eles, é para outra meta, não impeachment
(14) Isto é uma pena, pois, em
uma ação de impeachment, ele poderia nos ajudar muito com seu potencial
assertivo
Aos leitores de Olavo que não
gostaram: qual dos 14 itens acima vocês querem CONTESTAR? Reparem: não é
JUSTIFICAR (pois as justificativas de “beco sem saída” eu já conheço de cor e
salteado).
Ora, se eu problematizei a
atuação desses três FORMADORES DE OPINIÃO na QUESTÃO DO IMPEACHMENT, então eu
não posso ser refutado por alguém que diga “ah, mas veja, devemos renegar o
impeachment por…”, pois isso é a VALIDAÇÃO de minha tese, e não uma refutação.
Alias, entender um problema
desta forma é algo que o Olavo de Carvalho já ensinou também…
Filipe G. Martins escreveu o seguinte, para, supostamente, me rebater:
(1) O
que isso significa? Por que começar por aqui e não, digamos, pela construção
dos métodos e das abordagens que permitiram a ele obter acertos muito maiores
do que o mencionado? Será por que você está falando de um fragmento do Olavo e
não do Olavo que as pessoas que vão além do Facebook e dos Hangouts conhecem?
(2) Ele não apenas acertou
sobre a estratégia gramisciana. Ele a estudou, a assimilou, e compreendeu suas
falhas e lacunas. Você, por outro lado, sempre que fala no assunto demonstra
conhecer Gramsci apenas de ouvir falar.
(3) Ele não acertou apenas
sobre a “mente esquerdista”, ele acertou sobre a mente revolucionária, uma
categoria bem mais abrangente, incluindo iluministas e pseudos-neo-iluministas
que acham brilhante a idéia de usar Gramsci para outros fins.
(4) Este é talvez a afirmação
mais ridícula, pois é baseada numa especulação que projeta motivações
psicológicas infantis sobre as motivações de um homem que tem um horizonte de
consciência muito mais amplo que o seu. De onde você tirou que ele só toca
nesse ponto por não esquecer a negação dos jornalistas e ver isso como uma
questão de honra? Você sequer cogitou a possibilidade de que ele insista nesse
ponto por que o julga de fato mais importante e essencial para derrotar a
esquerda?
(5) Essa afirmação não diz
nada, posto que não foi sustentada com argumentos ou demonstrações.
(6) Isso é natural. Ninguém
usa estruturas argumentativas e retóricas totalmente originais. Então, é apenas
mais uma banalidade que nem deveria ser mencionada.
(7) A “intervenção civil” não
precisa ser complementada por uma intervenção militar. Isso é bobagem das
grossas. O próprio Gene Sharp, o principal referencial neste ponto, propõe a
resistência civil como uma forma de evitar a intervenção militar, que nunca
pode ser controlada e quase sempre tem um desfecho imprevisível e indesejado.
(8) Incorreto. Ele não defende
a extinção de direitos políticos de seus oponentes, ele defende a cassação de
direitos políticos de criminosos — e diz que isso nem precisa ser feito pelas
vias oficiais, bastando que a população continue se negando a ouvi-los.
(9) Você sofre de síndrome de
asperger? Tem dificuldade com linguagem que não seja literal? Acredita, por
exemplo, que ao dizer isso ele estava afirmando que, caso um sacrifício de
todos os filhos dele em um altar satanista fosse resultar na queda do PT, ele
faria tal sacrifício?
(10) Há uma inversão aqui. Não
há autoritarismo nessas idéias, mas anti-autoritarismo. Seria autoritário pedir
a cassação dos direitos políticos de grupos autoritários ou totalitários como
nazistas e comunistas?
(11) Não há negação da ação
política tradicional; há, isto sim, uma rejeição da escolha de se limitar à
política tradicional, sem alargar os limites que foram fixados pelo PT e pela
esquerda para o jogo político e sem completar a etapa que antecede essa ação
que é a de construir uma base de apoio sólida para além da política
tradicional.
(12) Eles não estão focados no
impeachment, mas possuem objetivos mais amplos que abrangem o impeachment.
(13) Portanto, vocês podem
contar com eles para o impeachment. Mas eles não podem contar com vocês para os
objetivos mais amplos que possuem, devido a limitação de seus objetivos.
(14) O que é uma pena, pois,
em uma ação que mire não apenas em uma presidente frágil mas vise mudar o
cenário político, toda ajuda — mesmo a de quem não entende muita coisa e nem
percebe isso — é bem-vinda.
O respondi assim:
Filipe Martins é o típico
“bravinho” que acha que vai gerar resultados políticos assim. Ah, se ele
resolvesse assistir as discussões táticas da esquerda para ver que é outro
nível… Mas, enfim, não adianta falar.
(1) Não interessa se são
“fragmentos”. O que interessa é que vocês, que seguem os “fragmentos”, executam
ações no MUNDO. E estamos vendo o resultado… Apelo metafísico não muda o
resultado.
(2) Tenho todos os livros de
Gramsci, obrigado. E não só isso. Não pense ser mais esperto do que realmente
é.
(3) O que ele chama de mente
revolucionária é a religião política, já vista por Norman Cohn, Voegelin e
Gray, em outros termos. É bom estudo sim, mas não pertence só à esquerda…
Gramsci é usado até em empresas para implementar processos, caso você não
saiba.
(4) Se isso é culto a
personalidade, nada mais é. O fato de Olavo ter um horizonte de consciência
alto, não muda o fato de que ele é humano. Afirmar que a repetição excessiva da
história de que “muitos tentaram ignorar o Foro de São Paulo” pode ter
deixado-o com rancor não é um desrespeito. É uma observação normal em análises
críticas.
(5) Quando eu digo que os
leitores de Olavo praticamente compõem um “novo perfil” de direitistas, Filipe
diz o seguinte: “Essa afirmação não diz nada, posto que não foi sustentada com
argumentos ou demonstrações.”. Não seja por isso. Já publiquei a primeira
versão de um checklist, e logo sai a próxima, no blog, capaz de prever os
discursos que você usarão em várias situações. O padrão de comportamento já é
mapeável.
(6) Quando eu falei que muitos
leitores utilizam estruturas argumentativas e retóricas similares às de Olavo,
Filipe diz: “Isso é natural. Ninguém usa estruturas argumentativas e retóricas
totalmente originais. Então, é apenas mais uma banalidade que nem deveria ser
mencionada.”. Claro que deveria ser mencionada, pois se há equívocos em um
discurso, e eles são reproduzidos ipsis literis, melhor sabermos os padrões. E
isto é uma pena, pois se o Olavo indica aos seus alunos que busquem expandir o
horizonte de conhecimentos, repetir exatamente o que ele diz parece até uma
contradição. Eu mesmo tomo por base o pensamento de Olavo mas o expandi com
outros autores. Isso é ser influenciado de fato, ao invés de querer virar um
simples decalque.
(7) Sobre “intervenção civil”,
ok, mas então vocês precisam dar um sumiço em vídeos onde o Olavo explica que
ao fim do processo o exército deve ter uma escolha de apoiar o grupo que tomar
o poder, depois de escrever a nova constituição.
(8) Olhem só que maravilha.
Filipe diz: “Ele não defende a extinção de direitos políticos de seus
oponentes, ele defende a cassação de direitos políticos de criminosos — e diz
que isso nem precisa ser feito pelas vias oficiais […]”. Isso se chama apenas
um reframe, mas não é dos melhores. Táticas de desumanização envolvem usar
atributos para os oponentes na justificativa de ações autoritárias. Os
petistas, alias, estão jogando o jogo político há décadas. Como retribuição, a
ideia é cassar direitos políticos. Maravilha.
(9) No item 9 vem a ofensinha
tradicional com a qual essa tropa encara os debates críticos, motivo pelo qual
jamais estarão aptos a qualquer discussão tática que qualquer esquerdista faz
com um pé nas costas: “Você sofre de síndrome de asperger? Tem dificuldade com
linguagem que não seja literal? Acredita, por exemplo, que ao dizer isso ele
estava afirmando que, caso um sacrifício de todos os filhos dele em um altar
satanista fosse resultar na queda do PT, ele faria tal sacrifício?”. Nem merece
resposta. O que eu disse é o oposto. Ao dizer que o oponente “deve ser vencido
de qualquer jeito”, ele dá o comando verbal para que os limites que conhecemos
no trato ao oponente político podem ser quebrados.
(10) Momento mágico: “Há uma
inversão aqui. Não há autoritarismo nessas idéias, mas anti-autoritarismo.
Seria autoritário pedir a cassação dos direitos políticos de grupos
autoritários ou totalitários como nazistas e comunistas?”. He he he…. Isso se
chama misturar esferas de debate (lógico e político), um amadorismo de dar dó.
De fato é possível criar um argumento desse jeito, mas, politicamente, quem
atuou no âmbito cultural para transformar comunismo em algo tão condenável
quanto nazismo? Pior, se o comunismo é mutante, enquanto o nazismo não é, como
atacar um adversário que muda de forma à vontade do mesmo jeito que se ataca um
outro adversário parado? Essas questões, para começar, mostram que o próprio
argumento tático não vai à frente.
(11) Filipe diz: “Não há negação
da ação política tradicional; há, isto sim, uma rejeição da escolha de se
limitar à política tradicional”. Que beleza. Justamente no momento em que
vitórias políticas são necessárias, uma legião de pessoas é orientada a pensar
em “usar política com moderação”. O resultado é isto aí. Não se tem uma coisa
nem outra.
(12) Outra: “Eles não estão
focados no impeachment, mas possuem objetivos mais amplos que abrangem o
impeachment.” Claro, claro… Quem diria algo diferente, certo?
(13) Filipe: “Portanto, vocês
podem contar com eles para o impeachment. Mas eles não podem contar com vocês
para os objetivos mais amplos que possuem, devido a limitação de seus
objetivos.”. É exatamente o oposto. Ao pedir “ok, impeachment, mas com
moderação”, há uma retirada de esforços clara no momento de ações táticas que
precisam de esforços. Ao falar de “objetivos mais amplos que possuem”, essa foi
uma das mais desastrosas premissas que já ouvimos, pois é inventar um atributo
que os outros não possuem. De onde se tirou que os grupos que apoiam o
impeachment iriam desistir em caso de sucesso? Inventar premissas é o caminho
para o desastre.
(14) E por fim, Filipe
complementa: “O que é uma pena, pois, em uma ação que mire não apenas em uma
presidente frágil mas vise mudar o cenário político, toda ajuda — mesmo a de
quem não entende muita coisa e nem percebe isso — é bem-vinda.” Eis de novo o
argumento de que “não é para focar tanto no impeachment, mas no objetivo mais
amplo”, que é EXATAMENTE O PROBLEMA apresentado. Me surpreende que alunos do
Olavo não estejam sabendo DISCUTIR UM PROBLEMA. Se vocês estão sendo acusados
de prejudicar uma ação (x) factível, a partir da elaboração de um discurso
focado em “ambições maiores” (o que é algo comum quando se discute senso de
urgência, então não há nada de novo no seu argumento), a partir de premissas
falsas sobre quem defende a ação (x), não adianta dizer “temos ambições
maiores” ou “vocês vão interromper a luta contra o Foro se o PT cair” que isso
apenas CONFIRMA o meu argumento.
Enfim, Filipe, ficou mal, pois
você confirmou meu argumento, ao invés de rebatê-lo.
E, enfim, Filipe respondeu, e
a partir de agora, o que se verá é um debate entre eu e ele. Na verdade, é
minha resposta longa a um post dele, em um formato mais amigável para a compreensão
de todos, ao invés de forçar todos a ler um texto extenso de uma única parte,
para depois outro.
O DEBATE
Felipe: Você
facilitou um bocado o meu trabalho ao começar essa segunda postagem com o erro
mais essencial que você havia cometido na postagem anterior: o de partir para
especulações de natureza psicológica enquanto lança mão da régua de sua própria
ignorância para medir seus interlocutores.
Luciano: Padrão de
ofensinha básico: “[x] mede o outro por sua régua”. Ele usa o truque da
ampliação indevida ao achar que eu estava fazendo “especulações de natureza
psicológica”. Na verdade usei a explicação mais caridosa.
Felipe: Se na
postagem anterior você construiu todo o seu raciocínio sobre o alicerce de uma
hipótese pouco plausível constituída de uma especulação puerial sobre as
motivações do Olavo, nesta você tenta vender aos seus leitores a idéia falsa e
infundada de que só um indivíduo movido pelas emoções, um típico bravinho,
poderia discordar de seus argumentos, além de deixar no ar a sugestão de que
esse sujeito bravinho que ousou questionar o que você escreveu é um amador sem
qualquer familiaridade com as discussões táticas da esquerda.
Luciano: Falso. Em
estava cagando e andando para as motivações de Olavo. Fui caridoso ao usar uma
hipótese elegante para explicar o comportamento. O termo “bravinho” também não
tem nada a ver com “tentativa de vender (x) como alguém motivado por emoções
(w)”. É apenas uma forma de definir bem um grupo de pessoas que se tornou
notório pelo comportamento antissocial diante do menor questionamento. Se meu
interlocutor é amador em relação a (x) ou não, é algo que nem aventei em meu
argumento.
Felipe: “Imagino
que qualquer leitor um pouco mais treinado seja capaz de perceber o quão pueril
e primário é esse método.”
Luciano: Os tais
métodos estão na imaginação de Felipe. Ele está apontando intenções em meu
texto que não é capaz de provar. Agora se entende como os negacionistas erram
tanto ao apontar intenções nos outros. Eles simplesmente inventam…
Felipe: “Não à toa
seus leitores, à exceção de um número insignificante, se negaram a curtir e
endossar essa besteira, mesmo que a maioria deles não me conheça e não saiba se
eu estou ou não familiarizado com tais discussões.”
Luciano: Era o
resultado esperado de um texto longo. Ninguém aqui está se importando se o
Filipi tem intenções (x) ou (y). O uso do termo “bravinho” foi feito apenas com
base em um padrão que já se tornou notório em outros fóruns. Se o Olavo é
culpado por este comportamento, não sei. Não me importa.
Felipe: (1) É
evidente a qualquer pessoa que esteja minimamente familiarizada, não digo com a
análise política ou com a análise filosófica, mas com a análise de textos que o
escrutínio de fragmentos, via de regra, conduz a interpretações bastante
diferentes das que seriam obtidas com a análise do objeto em sua completude.
Portanto, não apenas interessa como é essencial determinar se estamos
analisando fragmentos ou o todo de um dado objeto.
Luciano: Não
interessa se estivermos fazendo uma análise filosófica. Se estivermos avaliando
efeitos de um discurso sobre o mundo, interessa.
Felipe: Você dá
continuidade à tentativa de se esquivar das perguntas feitas por mim dizendo
que o que interessa é que nós, que seguimos os fragmentos (sic), executamos
ações no mundo e que você está “vendo o resultado” e então completa com uma
frase completamente sem sentido sobre eu ter apelado à metafísica, algo que ao
que tudo indica você nem ao menos sabe o que é.
Luciano: O termo
metafísica foi utilizado satiricamente, como forma de se referir ao uso de
algum mingau sem sentido para tentar fugir da discussão – não que toda
discussão metafísica seja isso, claro. O fato é que não adianta alguém dizer
“não avaliem meus fragmentos, vejam o todo” se estes “fragmentos” estão gerando
efeitos que estão sendo criticados por serem danosos. Esta é uma tentativa de
esquiva, que não funciona nesta análise técnica.
Felipe: Pois bem,
diante disso eu pergunto: (a) por que você não se esquivou minhas perguntas?
Luciano: ?
Felipe: (b) quem
são o “vocês” de que você está falando e o que dá unidade a esse grupo?
Luciano: Todos
aqueles que utilizam um determinado tipo de discurso apelando a “uma luta
maior”, rejeitando conquistas atuais, vivem entrando nos fóruns dizendo “não se
derrota (x) pelas vias democráticas, então aceite (m)”, etc. Decerto em um
checklist de 10-15 itens, essas pessoas atendem a no mínimo 80%. Então, é um
comportamento padronizado, agencialista, exclusivistas e, por vezes,
autoritário.
Felipe: (c) o que
garante que as pessoas que discordam de você estão seguindo fragmentos e não
algo mais abrangente que coloca variáveis novas na equação e produzem um
resultado que não pode ser entendido por quem, como você, só conhece os
fragmentos?
Luciano: Isso não
importa em termos de resultados. Se os outros “só conhecem os fragmentos”,
então por que se esquivam tanto de explicar o que querem? Já expliquei o
motivo.
Felipe: (d) o que
diabos tem a ver o que eu disse com um apelo metafísico?
Luciano: Respondido
antes.
Felipe: (2)
Gramsci publicou sete livros. Não é necessário um esforço muito grande para
obtê-los e menos ainda para armazená-los. Portanto, que mérito há em ter todos
os livros dele?
Luciano: Há muito
menos méritos em esquecer de apontar quais são minhas falhas de entendimento em
relação ao que Gramsci escreveu. Era o mínimo que se esperava.
Felipe: Se nem
mesmo a leitura desses livros garante a compreensão das idéias ali
apresentadas, o que dizer da mera posse?
Luciano: Bela
ética argumentativa. Se um autor toma como base Gramsci para suas ideias e cita
que foi preciso ler Gramsci de cabo a rabo, dizer que ele está apenas alegando
“mera posse” é uma canalhice sem limites. Previsível.
Felipe: Um sujeito
que desconsidera a importância da distinção entre idéias fragmentadas e idéias
integradas, noção essencial para a compreensão de Antonio Gramsci, deve ter uma
dificuldade imensa para compreendê-lo, o que comprova minha suspeita e explica
as dezenas de besteiras que você já disse sobre esse autor em seus textos –
sendo a mais notória delas a sua ignorância acerca do caráter totalitário do
método gramsciano.
Luciano: O padrão
que ele usa é “Quem faz [x] não consegue [r]”. O problema é que ele mentiu ao
dizer que eu confundi “ideias fragmentadas com ideias integradas”. Na verdade,
o argumento usado por Vagner Freitas, da CUT, ao dizer que ia “pegar em armas”
e que depois não era bem assim, é igualzinho ao dele. Pois assim seja: mesmo
sendo “ideias fragmentada”, elas pode ter consequências no mundo, se tomadas
como comandos, e, como tais, podem ter seus efeitos avaliados. Quanto ao
“caráter totalitário do método gramsciano” isto é de ignorância sem fim. Se
alguém vai implementar algo em uma organização, pode ir pelo método leninista
ou gramsciano. Alguém escolhe. O que Felipe está confundindo é o método
gramsciano com os valores de Gramsci. Um erro tão grande que incapacita alguém
a falar sobre política de verdade. Enfim, método gramsciano é uma coisa. A
moralidade das ideias de Gramsci para tomar o poder é outra coisa.
Felipe: (3) Com
essa afirmação, você demonstra de uma só vez que não apenas não está
familiarizado com os estudos do Olavo sobre a mentalidade revolucionária como
desconhece as teses dos demais autores citados.
Luciano: O tal
verbal assault pattern dizendo “Com [x] você demonstra não saber nada sobre
[l]”. Mas é outra picaretagem felipistica. Qual parte da análise sobre
mentalidade revolucionária minha está errada? Qual parte de minha análise sobre
a religião política, de Voegelin e Gray, está errada? Qual parte do estudo dos
cultos milenaristas, de Cohn, está errada? Usar um pattern que não engana
ninguém que queira ir a fundo na guerra política não serve…
Felipe: Se é
verdade que os estudos sobre a mentalidade revolucionária se beneficiam em
alguma medida desses autores, também é verdade que eles vão muito além, se
distanciando em diversos pontos e até defendendo teses contrárias em outros.
Luciano: Claro que
podem ir além. Podem ir até as nuvens. Podem ir para o espaço sideral. Não há
limites. Mas temos que nos ater ao que está sendo discutido aqui. Esse pattern
dizendo “[x] vai muito além do que sua vã compreensão pode captar” é bem
manjado.
Felipe: (4) Bela
tentativa de colar em mim o rótulo de idólatra e cultor de personalidade.
Luciano: Isso é
teatro, não argumentação (esse “pattern” do Olavo é bom, e honesto). Só o que
aconteceu é que foi aventada uma hipótese caridosa pelo excesso de apego de
Olavo à história de que muitos desprezaram sua análise sobre o Foro. Talvez por
isso ele tenha assumido como meta algo que não era tão importante – por
exemplo, atacar os métodos do Foro (como, por exemplo, o controle petista de
campanha, a censura sutil, etc.) seria mais importante do que ter gente se
manifestando “Fora Foro”. Em cima disto, escrevi uma linha, descompromissada.
Ter se apegado tanto em esforço para dizer “O Olavo jamais teria uma
preocupação deste tipo” e “cairia em um erro assim…” é uma baita de uma
frescurite. Eu havia escrito: “Em relação ao tão negado Foro, ele parece nunca
ter se livrado deste ressentimento.”. Observem até que eu escrevi “parece”. E o
Felipe se doeu todo. Algo como se dissesse: “Onde já viu dizer que Olavo pode
ter sentimentos (x)?”. Ora, para alguém como Felipe, Olavo não pode ser julgado
pelo mesmo padrão que julgaríamos todos os humanos, não é? Goste ou não, isso
tem todo o tom de culto à personalidade.
Felipe: Funcionaria
se eu tivesse de fato feito observações morais e pedido respeito, algo que eu
não apenas não fiz como jamais pensei em fazer. Mesmo o leitor desatento se
dará conta de que tudo o que eu fiz foi apontar um erro – e, repito aqui, o
erro mais essencial de toda a sua argumentação.
Luciano: Que coisa
deprimente estamos assistindo. Esse chororô todo por causa disto que eu
escrevi: ““Em relação ao tão negado Foro, ele parece nunca ter se livrado deste
ressentimento.” Este é o erro “mais essencial” de minha argumentação. Aliás,
nem é parte do meu argumento. Ele está na fase do chilique puro…
Felipe: E que erro
é esse? Você se apega a uma hipótese incerta extraída de uma especulação de
natureza psicológica para construir toda essa argumentação e esse é um erro
primário e até risível.
Luciano: Haja saco
viu…
Felipe: Veja bem.
Ainda que a hipótese fosse plausível, seria equivocado construir todo um
raciocínio em cima dela.
Luciano: Isto aí
mesmo. Vai por aí mesmo campeão… Lembremos da frase que o incomoda tanto: “Em
relação ao tão negado Foro, ele parece nunca ter se livrado deste
ressentimento.” Então ele “provou” que Olavo não pode ter este tipo de ressentimento,
de forma (não provou, mas vamos fingir que sim), logo todo meu argumento (que
fala sobre consequência de decisões, não sobre a origem dessas decisões – e ele
se perdeu nisso) estaria invalidado. Na cabeça de Felipe, todo meu argumento
depende de que a frase “Em relação ao tão negado Foro, ele parece nunca ter se
livrado deste ressentimento” seja validada. Então vou tirar o chão debaixo dos
pés dele: não, não depende. Ele está se agarrando a uma bobagem.
Felipe: Como a
hipótese nem ao menos é plausível – afinal, ela atribuí motivações infantis
evidenciadas por nada além da sua falta de imaginação às ações de um homem com
um horizonte de consciência muito mais amplo do que o seu – todo o seu
raciocínio cai por terra como altamente improvável.
Luciano: Isso é de
um fingimento digno de petista. Eis um teatrinho boboca. Oh… o Olavo é “um
homem com um horizonte de consciência muito mais amplo do que o seu”. Logo, ele
não se ressentiria. Bem, suponhamos que o horizonte de consciência de Olavo
seja o mais amplo da história da humanidade. Isso não muda meu argumento sobre
consequência de ações em nada. Acho que o teatrinho em cima de minha frase
descompromissada podia parar né?
Felipe: (5) Sobre
esse ponto só me resta esperar pela versão completa de seu checklist, mesmo que
você já tenha dado mostras de que não está em posição de elaborá-lo.
Luciano: Torça
então para que o checklist não mapeie os padrões de comportamento que estão
sendo gerados por alguns discursos específicos.
Felipe: (6) Aqui
você exibe mais uma limitação digna de pena ao mostrar que não sabe a diferença
entre estruturas argumentativas e retóricas e os argumentos e discursos em si
mesmos.
Luciano: Se sou
digno de pena, Felipe não tem compaixão. Ele não tem pena de mim ao ter que me
fazer aturar o lero lero dizendo “você confunde estrutura argumentativa e
retórica e os discursos em si mesmos”, quando isto é irrelevante em termos de
ações julgadas na análise de táticas políticas. Se alguém quer entrar no
ambiente da política de combate (onde a linguagem importa muito) deveria estar
prestes a ser julgado por isso.
Felipe: Ao
valer-se de estruturas argumentativas e retóricas, um
indivíduo não reproduz os mesmos argumentos e discursos que ouvi em outro lugar, mas utiliza as mesmas categorias e estruturas para expressar seus próprios argumentos e discursos. Essa é uma distinção básica que qualquer um deveria conhecer – sua confusão entre as duas coisas é realmente digna de pena.
indivíduo não reproduz os mesmos argumentos e discursos que ouvi em outro lugar, mas utiliza as mesmas categorias e estruturas para expressar seus próprios argumentos e discursos. Essa é uma distinção básica que qualquer um deveria conhecer – sua confusão entre as duas coisas é realmente digna de pena.
Luciano: Ele está
fingindo, para a plateia, que eu fiz “confusão entre duas categorias de
discursos”. Truque manjadíssimo. Na verdade, não. Estou avaliando as
consequências de determinados tipos de discursos, que estão se traduzindo em
ações táticas. O que Felipe pede é a condescendência com um autor por que “ele
tem uma ideia mais ampla”. Nunca disse que ele não tinha. Então ele criou uma
fantasia para lutar contra ela. Aliás, dois “digno de pena” em um mesmo
parágrafo, como verbal assault, em nome de uma mentira. Bem, neste caso Felipe
não é digno de pena. É safado mesmo.
não é digno de pena. É safado mesmo.
Felipe: Se eu
soubesse que você estava falando de repetições “ipsis literis” e não utilizando
expressões que não conhece, eu teria refutado sua generalização e não a
aparente banalidade de sua afirmação.
Luciano: Repetição
do truque anterior.
Felipe: Banalidade
que está presente também na sua afirmação de que devemos expandir o horizonte
de conhecimentos com outros autores, como se qualquer leitor ou aluno do Olavo
que não se limite aos fragmentos não fizesse exatamente isso.
Luciano: Lá vem
ele de novo com a ideia de “fragmentos”…
Felipe: (7) Não é
necessário dar sumiço em vídeo algum. Se muito, é necessário voltar ao começo
da discussão e, indo devagarinho com o bê-á-bá, ensinar a você a distinção
entre os fragmentos colhidos em afirmações soltas e o todo apresentado em teses
com começo, meio e fim.
Luciano: Deja vu…
Felipe: Ainda
assim, mesmo se tomarmos apenas o fragmento, é evidente que afirmar que o
exército deverá escolher que grupo apoiar não significa que o exército deva
agir ativamente para derrubar o governo, basta que ele se recuse a agir para
suprimir as ações populares.
Luciano: Volta a
conversa de “fragmentos”. Legal esse negócio de atuação do exército hein? Ao
invés de pedir intervenção militar, basta se recusar a agir para suprimir as
ações populares, permitindo que um grupo tome o poder pela força. E, após isso,
ir dar sustentação ao grupo que “tomou o poder”, claro. Ou não é? O grupo que
chegou ao poder vai se sustentar com o que? Com rezas? Ou olhos de raio laser?
Eu não nasci ontem, né…
Felipe: (8) Aqui
você também está equivocado. Não se trata de um reframe, mas de coerência e
senso comum. Você sempre insiste que o PT é liderado por psicopatas e
criminosos sem qualquer escrúpulo. Diante disso, eu pergunto: devemos permitir
que psicopatas ocupem cargos públicos e liderem o país? Não há autoritarismo em
propor uma lei que impeça isso.
Luciano: Deixe-me
ver: sabendo que seu oponente é um psicopata, você fala em público que ele deve
ser impedido de ocupar cargos públicos? Talvez não tenha pensado que ele morre
de rir ao ouvir isso. E, sim, é autoritarismo, pois não há lei impedindo
psicopatas de ocupar cargos públicos.
Felipe: (9) Não há
ofensa alguma aqui. Só estou tentando entender a razão de sua dificuldade em
lidar com linguagem não literal, um defeito gravíssimo para quem se pretende
analista do que quer que seja.
Luciano: O pattern
“[x] é algo muito grave para alguém que se diz [y]” é conhecidíssimo, mas não
se aplica aqui. A questão não era o que estava “na visão ampliada” do Olavo,
mas no resultado tático que isso tem gerado.
Felipe: O Olavo
não deu comando verbal algum, apenas utilizou uma figura de linguagem para
expressar a importância de conter as ações de um governo que você próprio diz
ser liderado por psicopatas.
Luciano: É difícil
saber o que você entende por comando verbal. Um comando verbal é toda frase que
pode servir de orientação, esteja ela de acordo com as intenções de seu
propagador ou não. É um conceito mais comum na dinâmica social, onde a
linguagem é avaliada pelos resultados, e não tanto pela intenção do argumentador.
Tentar se defender com um modelo argumentativo usado na filosofia (onde julgar
as intenções ou “visões mais amplas” na comunicação é essencial) para avaliar
um comportamento político (onde os frames é que contam) é o fim da picada. Já
disse que, diante de psicopatas, falar descuidadamente é a pior das opções.
Felipe: Nem todo
mundo vive para jogar o joguinho de aparências ao qual você escolheu dedicar o
seu tempo e a sua energia.
Luciano: Normalmente
pessoas renegam o jogo político por dizer que é “joguinho de aparências”, mas
isso, aí sim, é confusão entre método e moral. A meu ver o jogo político é
essencial para quem tem a verdade em mãos em qualquer questão do mundo. Na sua
visão é “joguinho de aparências”. Talvez você queira dizer que jogar o jogo político
inevitavelmente é viver de aparências, mas isso, logicamente, não se sustenta.
Felipe: O Olavo é
um filósofo e não um empacotador de slogans e chavões – ou de frames, se você
preferir – tentando ganhar um joguinho de aparências.
Luciano: E eu não
estou julgando a filosofia de Olavo, mas o comportamento de muitos de seus
leitores, NA POLÍTICA. Aliás, você está confundindo os planos da discussão.
Felipe: (10) De
fato temos aqui um amadorismo de dar dó: o seu. Afinal, o que além de
amadorismo poderia explicar o fato de você ter visto confusão entre esferas de
debate onde havia apenas uma contestação simples a uma afirmação simplista – a
de que há autoritarismo na proposta de cassar os direitos políticos de
psicopatas após estes serem derrotados?
Luciano: Eu sou
realmente um amador, na arte felipistica de vender autoritarismo como algo
palatável. Não sei fazer isso. Não quero aprender. Vamos avaliar
detalhadamente. Há lei para punir psicopatas na política? Não há. Você quer
estabelecer uma? Por enquanto, nem falou isso. Mas já quer cassar direitos
políticos oponentes com base em uma lei que nem existe e nem sequer é
discutida. E ainda não é autoritário? Hehehehe….
Felipe: A
discussão apresentada foi exatamente esta: há autoritarismo nas idéias
apresentadas pelo Olavo? Você afirmou que sim e eu demonstrei que não.
Luciano: Demonstração
maravilhosa você deu… de que usa joguinhos retóricos para vender autoritarismo
como algo palatável. Será que você teria coragem de escrever um post detalhando
O QUE VOCÊ QUER no processo de TOMADA DE PODER? Ou ficaria com vergonha?
Pensando bem, você falou demais por aqui. Bom que tenha sido assim.
Felipe: O que vai
além disso pode até ter sua relevância, mas tem de ser necessariamente
precedido pela discussão que eu enderecei.
Luciano: Digo o
mesmo.
Felipe: Suas
perguntas, por sua vez, demonstram apenas afobação. O Olavo jamais propôs, em
sentido literal, a cassação imediata dos direitos políticos dessa gente. A
proposta dele é coroar a derrota dessa gente com essa cassação.
Luciano: Aha…
Felipe: Portanto,
ao perguntar quem atuou para tornar o comunismo tão condenável quanto o nazismo
referindo-se ao passado, você demonstra não ter atentado nem sequer para o
lugar que essa proposta tem na fala do Olavo.
Luciano: Explica
aí então. Deve ser uma beleza…
Felipe: (11)
Ninguém está sendo orientado a usar a política com moderação. A orientação é de
ir além dos limites da política tradicional, atuando em esferas que a
transcendem e a sustentam.
Luciano: Quais são
os limites que devem ser superados? Você pode dizer isso claramente? (Aliás, se
já deixamos o truque de “você não sabe diferença entre fragmentos e ideias mais
amplas” e “você tem que provar que Olavo tem sentimentos (x) sobre (o)” você
poderia quebrar o galho nosso e ser mais claro a esse respeito)
Felipe: Como a
esta altura não confio que você entenderá claramente o que estou dizendo,
enfatizo para que fique mais claro: a orientação é esgotar as possibilidades da
política tradicional, utilizando-a tanto quanto possível dentro dos seus
limites, mas não aceitando se subjugar ou se limitar a ela e buscar ações fora
dessa esfera.
Luciano: Aliás,
isso se explica pelo fato de que os adeptos do negacionismo (em maior ou menor
grau) na política são geralmente muito desanimados para as ações táticas. Se
tivessem lido Sun Tzu saberiam que na hora do campo de batalha não há
titubeação. O PT ganha as batalhas políticas pois sabe que “é tudo ou nada na
política”. E você defende uma ideia de “vai na política até onde dar, e se não
der, supere-a”. A tendência é que fiquem no meio do caminho. Infelizmente, é
assim que as coisas são. Já falei suficiente sobre isso em outros fóruns.
Felipe: (12) Não
há nada aqui além de uma tentativa mal elaborada de se esquiar do ponto
levantado.
Luciano: Eu havia
escrito: “Outra: ‘Eles não estão focados no impeachment, mas possuem objetivos
mais amplos que abrangem o impeachment’. Claro, claro… Quem diria algo
diferente, certo?”. E esse é o PONTO CENTRAL de meu argumento: criticar a
ausência de esforços no impeachment a partir de argumentos dizendo que existem
“metas maiores”.
Felipe: (13) Quem
foi que pediu “impeachment, mas com moderação”? O que se propõe é a conquista
do impeachment como não mais do que uma vitória tática em uma estratégia muito
mais abrangente.
Luciano: Bem,
estranho. Por é desse grupo de pessoas que estão surgindo discursos com foco em
“desistência do impeachment” ou “abandono de toda a classe política”.
Felipe: Também não
há aqui nenhuma “invenção de premissas”. Não há sequer premissas. Como a presença
do “portanto” no início da frase indica, o que há aqui é uma conclusão – a
conclusão de que ao dar atenção demasiada a uma vitória tática e ignorar a
estratégia como um todo, não dedicando uma única linha ao day after, eles não
poderão contar com vocês após a conquista dessa vitória tática, mas vocês
poderão contar com eles até que essa vitória chegue.
Luciano: A ideia
de que se ignora uma estratégia maior é uma premissa inventada. Não há fatos
para justifica-la. A noção de atenção demasiada à vitória tática mais
importante do momento é meramente baseada em concentração de esforços, assunto
que vocês jamais trataram adequadamente. O discurso dizendo que “eles não
poderão contar com vocês após a conquista dessa vitória tática” é uma mentira
deslavada. Por fim, “vocês poderão contar com eles até que essa vitória chegue”
não tem correspondência na realidade, pois são vocês que, agora no mesmo tom
que os intervencionistas, estão atuando fortemente em fóruns desanimando as
pessoas para a batalha política.
Felipe: (14) Por
fim, você atribui a mim argumentos que eu nunca usei.
Luciano: Qual?
Felipe: Tudo o que
eu apresentei aqui foi um lamento posterior à conclusão apresentada acima. Que
você analise um lamento como quem analisa um argumento oferece apenas mais uma
evidência de que você tem uma dificuldade imensa em distinguir diferentes tipos
de linguagem.
Luciano: Eis o
cúmulo de sua desonestidade. Você disse: “O que é uma pena, pois, em uma ação
que mire não apenas em uma presidente frágil mas vise mudar o cenário político,
toda ajuda — mesmo a de quem não entende muita coisa e nem percebe isso — é bem-vinda.”
Isso é claramente uma requisição de esforços em uma direção (dizendo “olhem
para a mudança do cenário político”, mas é exatamente este pedido, no momento
em que os esforços deveriam estar concentrados em um lugar só, que está sendo
criticado). Ao ser contestado diz que “foi um lamento posterior”. E daí diz
“tem uma dificuldade imensa em distinguir diferentes tipos de linguagem”. Sabe
por que você faz esse teatrinho? Por que é um autoritário, com propostas de
tomada de poder indecentes (e que não vão funcionar), e tem que ficar fingindo
o tempo todo dizendo “você só entendeu fragmentos”. Mas o resultado está aí:
meu argumento continua intacto, em nome de propostas alegadas como “metas
maiores”, pessoas da própria direita estão tirando esforço do impeachment, e,
exatamente por isso, devem ser questionadas. Isto é um fato do mundo. Dizer que
“é só fragmento” ou “só um lamento” não serve para te absolver.
Felipe: Seja como
for, resta a você demonstrar que a elaboração de uma estratégia abrangente à qual
se integra a tática de obter uma vitória em relação ao impeachment traz algum
prejuízo ao sucesso da execução dessa mesma tática.
Luciano: As
pesquisas demonstram uma redução de interesse no impeachment. O que era
esperado depois do show de ataques que vocês lançaram contra os movimentos. O
motivo para isso é básico: agora as pessoas não vão mais para o impeachment
como “tudo ou nada”. Mas deveriam.
Felipe: Indo um
pouco além você também terá que explicar o motivo pelo qual, após pensarem
apenas na vitória tática de longo prazo, os movimentos resolveram voltar atrás
e adotar os meios que o Olavo havia sugerido desde o início, complementando a
ação política tradicional com ações que a transcendem.
Luciano: Ações não
violentas são ações políticas. De onde você tirou que não são? E essas técnicas
já eram utilizadas pelos grupos. Na verdade, foram comentadas por lá antes de
serem trazidas à tona por Olavo.
Felipe: Terá sido
por que eles se deram conta de que o diagnóstico do Olavo estava certo e que
eles não irão obter nem uma vitória modesta (o impeachment) se não agirem à luz
da estratégia mais abrangente em que essa ação tática está inserida?
Luciano: Ou terá
sido que você mais uma vez está inventando história para fingir que “estratégia
de longo prazo é aqui”. Foi esse o truque, não? Na época em que começaram a
atacar os movimentos, inventou-se a mentira de que “eles não tinham estratégia
de longo prazo”, como desculpar para atacar o pedido de impeachment.
Felipe: Curiosamente,
aqui, nós voltamos para o ponto de onde começamos: é necessário distinguir os
fragmentos do todo; é necessário entender como esses fragmentos se relacionam
como o todo e, portanto, compreender como uma ação tática se integra à
estratégia.
Luciano: Não, nada
de fragmentos. Creio que devemos avaliar tudo que você declarou aqui, e
escrutiná-lo. Queiram ou não, pessoas como você devem ir para a arena, e serem
avaliadas, em seus discursos, em suas táticas, etc. E esta era a essência de
meu argumento, que você mentiu para tentar engabelar o público fingindo que o
oponente não entendeu a diferença entre “fragmentos e ideias completas”. Não
vou falar por todos do seu grupo, mas se a coisa for nesse nível de
desonestidade, é melhor desconfiarmos muito de gente como vocês, pois, com
tantas trucagens, as intenções com certezas não são as melhores.
Felipe: Para
concluir, eu não diria que ficou mal. Pois, se por um lado, eu demonstrei
completamente a sua linha de raciocínio – apoiada em premissas frágeis e falsas
–, por outro, um de seus objetivos foi alcançado. O objetivo de expor, por meio
do escrutínio cético, um desses sujeitos que prejudicam a derrubada do PT por
se meterem a oferecer opiniões sobre assuntos que entendem apenas parcialmente:
você.
Luciano: Mas como
vemos aqui, você não mostrou onde há falhas de entendimento. Ao contrário, você
confirmou tudo que eu havia dizendo: há pessoas que dizem que “impeachment é só
um detalhezinho em algo maior” (o que consequentemente vai reduzir impacto
sobre esforços para o impeachment) e atuando de maneira organizada, e este é um
ponto que devemos lidar. Para alguém que queria expor um oponente como alguém
que “não entende”, você deveria ter sido mais cuidadoso. Por não ter sido,
permitiu que eu mostrasse que, ao menos no escopo deste debate, eu acertei em
cheio.
Felipe: Entendo
que perto das suas pretensões de expor o Olavo de Carvalho, o Reinaldo Azevedo
e o trio do Antagonista, a exposição de alguém como você não é muita coisa, mas
espero que lhe sirva de consolo.
Luciano: Lá vem o
truque tradicional (“ui, olha, eles têm mais audiência, então cale-se diante
deles”) que só enganaria retardados. Aqui não funciona. Alias, não era essa a
minha pretensão. Ela é outra: explicar que quanto mais alguém tem exposição
como formador de opinião, mais deve ser escrutinado e relação ao impacto de
suas ideias, ou mesmo qualquer tipo de discurso; e se estes discursos (e não
adianta dizer “olha, é só fragmento, portanto não pode ser julgado por seu
efeito”) geram efeitos em relação a objetivos, este questionamento deve ser
ainda maior. Por não repararem nisso, Olavo de Carvalho e Reinaldo Azevedo,
mesmo com todo o potencial que possuem (e abrangência) não geram tantos
resultados para o lado de lá, como Paulo Nogueira e Paulo Henrique Amorim geram
para o outro lado de cá. Por que lá, qualquer “fragmento” é bem pensado, para
gerar efeitos, em UMA DIREÇÃO. Esse é o fato, que dá o centro do meu argumento,
que permaneceu intocado por você. Quanto a ser “só fragmento”, eu digo
“foda-se”. Na política, ao contrário do que ocorre na filosofia, essa desculpa
não cola. Sendo assim, pode ficar com o consolo para você, pois vai precisar.
P.S.: Eu até acho que posso
ter sido um pouco injusto com Olavo de Carvalho neste post ao Filipe, mas
digamos que o clima de confronto, com o qual a outra parte quis levar o debate
resultou nisso. O post Sun Tzu,o dia D e o que a direita deveria ter em mente ao divagar sobre impeachment? explica um pouco. Eu realmente não acho que
Olavo arquitete um discurso para esconder intenção de intervenção militar. Acho
que minha resposta ao Filipe pode ter dado essa impressão. Mas, como se diz,
são “fragmentos”, logo, alguns possíveis excessos contidos no debate podem ser
melhor explicitados. Em todo caso, mantenho a integra de minhas refutações ao
Filipe, e reconheço que menções à outras partes podem trazer alguns excessos.
Título, Imagem e Texto: Luciano Henrique, Ceticismo Político, 18-10-2015
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