Diogo Agostinho
O povo falou. Soberano, no seu
exercício do voto, disse o que queria depois de quatro anos de mandato. Pode
parecer normal, mas uma legislatura foi concluída, a primeira com um Governo de
Coligação.
Quem diria que quatro anos
depois de um duro exercício de poder executivo, muitíssimo constrangido por um
difícil e exigente Memorando da Troika, a Coligação que governou o País, em tão
pouco auspiciosas circunstâncias, voltaria a vencer eleições?
Aconteceu. Já algo semelhante
tinha acontecido no Reino Unido, com David Cameron e agora com Tsipras, versão
moderada, depois de um enorme pacote de austeridade.
Teremos um quadro parlamentar
e político novo. Novas dinâmicas, que obrigam a novas respostas. No entanto, as
pessoas depositaram novamente a sua confiança em Pedro Passos Coelho e Paulo
Portas para prosseguirem com a liderança do País.
É espantosa a multiplicação
dos discursos de vitória. Todos querem a taça e apresentam-se como vencedores,
mas cuidado com as tentações de querer ganhar na secretaria. É confuso, mas é
bom diferenciar. Não existe hoje uma maioria absoluta na Assembleia da
República. Porém, também não existe um mandato objectivo para uma Maioria
negativa, sem ligação, sem coerência e sem alicerces para Governos à esquerda,
que não seria mais do que um vazio exercício de bota abaixismo, descurando o
sentido de responsabilidade para com as exigências externas do país.
Apesar das incertezas podemos
apontar vencedores e vencidos e são claros. Porque ontem também foi dia de
futebol podemos elencar os diferentes vencedores e derrotados.
Vencidos:
António Costa –
Chegou qual D. Sebastião, da política em Portugal, em dia de nevoeiro, um pouco
como Rui Rio à Direita. Na hora da verdade, provou-se que o país não é apenas a
Pastelaria Versailles, o Martinho da Arcada, a Baixa de voltinhas pelo Chiado e
as ruas com tuk-tuk em Lisboa. Não bastava falar grosso e ser agressivo. Levou
um banho de realidade e de humildade, foi a desilusão eleitoral e a desilusão
do serão eleitoral. Agarrou-se ao lugar e não percebeu que deveria ter de
colocar o lugar à disposição. Perdeu-se entre a esquerda e o centro. E tem um
belo número pela frente no que toca a Presidenciais. Novamente partindo com um
Ferrari, acabou de burro.
Rui Rio – Por
falar em Presidenciais, Rui Rio ainda olhava para este dia com uma centelha de
esperança. Era a outra solução. Não havendo Belém, poderia existir São Caetano
à Lapa. Terá uma palavra a dizer no que toca à próxima campanha eleitoral, mas,
não terá um caminho fácil. Nada de triunfalismos em ombros.
Jerónimo de Sousa –
O quase grande animador da campanha. O homem sereno, perdeu o lugar para um
Bloco jovem e surpreendente. Afinal o PCP, perdão, a CDU, perde eleições. E é
bom relembrar o maior embuste democrático que é esta coligação Democrática
Unitária, que nunca foi a votos separada e que procura atenuar a “imagem
pesada” do Partido Comunista no eleitorado.
Pacheco Pereira e Manuela
Ferreira Leite – São dois grandes derrotados neste dia. Disseram,
criticaram, verdadeiros guerrilheiros sénior, e atacaram o Governo da Coligação
e Pedro Passos Coelho. A raiva cegou, por muitas vezes, estes dois militantes
do PSD.
José Sócrates –
Foi lastro que puxou António Costa para baixo. Começar um mandato com o último
Chefe de Governo do seu partido preso não é fácil. No entanto, esta campanha
passou, em grande medida, ao lado do Engenheiro Sócrates. E ainda bem. Ainda
bem, porque não era o tema, porque não se trata de um preso político e porque a
Justiça deve estar sempre separada da Política.
Marinho e Pinto –
Foi um epifenómeno claro, uma espécie deone hit wonder político. A
demagogia é muito bonita, mas os portugueses só caíram à primeira, na cantiga
do malandro.
Livre – Não foi
Tempo de Avançar. O sonho deste Partido vindo quase na maioria do Bloco, perdeu
o comboio. Uma desilusão.
Vencedores:
Pedro Passos Coelho –
É o grande vencedor da noite. Em quem poucos, ou quase nenhuns acreditavam, ele
acreditou e segurou um Governo austero, no meio de uma crise política em 2013,
vinda de dentro. De irrevogável, passou a incontestável. Começou nesse momento
decisivo a mudar a percepção que as pessoas tinham de si. Mostrou uma dureza e
friezas que ficam para a história. Esta vitória é sua e de mais ninguém.
António José Seguro – É
também um vencedor da noite eleitoral. Não saberemos quais seriam os resultados
se fosse ele o líder. Mas depois da vitória de Pirro, poucochinha, nas eleições
europeias, tem demonstrado um sentido de dever enorme, recolhido nas Caldas da
Rainha, soube manter um silêncio de ouro. A política é, hoje, gestão de
expectativas. E Seguro demonstra o valor de se afastar, no momento certo.
Paulo Portas – É o
sobrevivente nestas eleições. O líder político com mais tempo, em exercício de
funções, soube negociar uma coligação que lhe foi muito benéfica. Mais uma vez
o seu instinto de sobrevivência foi providencial para o CDS-PP e soube fazer as
despesas nos ataques da coligação ao PS, entre chapéus e arruadas. Está aí e
continuará no Governo.
Catarina Martins –
Sofreu um lifting político tremendo. De uma oposição
histriónica no Parlamento, percebeu a mais valia que, a estrela da Comissão de
Inquérito ao caso BES, Mariana Mortágua trouxe à esquerda e regressou a
serenidade que tanta falta fazia ao Bloco. Mudou o tom e foi a surpresa desta
campanha.
PAN – Um resultado
surpreendente, que denota a tendência de um maior cuidado das pessoas para com
o tema dos animais. O Facebook que o diga.
Marcelo Rebelo de Sousa –
Acaba por ter a passadeira vermelha estendida para ser Presidente da República.
Era o melhor cenário que tinha pela frente. Este ou uma vitória por poucochinho
de Costa. Ter Maria de Belém e Sampaio da Nóvoa (quem?) como opositores é o
mesmo que jogar sozinho com a bola. Contra a parede. Veremos se não entrará em
mais cenários e faz o de sempre: perde por falta de comparência.
Tem agora a palavra o
Presidente Cavaco Silva. Será dele o papel central, neste novo quadro político.
Hoje, dia 5 de Outubro, não estará nas comemorações do Dia da República. Mal.
Como sempre teimoso, quis deixar o seu contributo em vésperas de eleições. Terá
agora de chamar os Partidos e obrigar a um entendimento para o futuro.
Teremos política. Agora, é
tempo de exigir sabedoria, cabeça fria, capacidade de diálogo e entendimentos.
Os portugueses foram claros:
querem este Governo e responsabilidade do PS. Agora, entendam-se.
Título e Texto: Diogo Agostinho, Expresso,
5-10-2015
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