Não há dúvida de que a
governanta está sendo bem-sucedida. E, mais uma vez, a mentira estatística
sobre o Mapa da Fome da FAO
Reinaldo Azevedo
Ai, ai…
Não sei se me indigno com a
mistificação ou rio da piada. A presidente Dilma Rousseff discursou nesta terça
na abertura da 5ª Conferência Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional, em
Brasília. Ela aproveitou para surfar numa mentira referendada por um aliado seu
na ONU e para exaltar as glórias da dieta alimentar que faz. O primeiro caso
indigna; o segundo provoca o rico.
No primeiro caso, Dilma chamou
para si e para e seu partido a proeza de ter tirado o país do Mapa da Fome: é a
mistificação; no segundo, usou a si mesma como exemplo de que é possível vencer
a obesidade, cuja diminuição, disse ela, é meta do seu governo: é a piada. Ou
por outra: Dilma está disposta a emagrecer o brasileiro. Convenham: dá para
perceber que ela está fazendo um grande esforço para isso. Com um pouco mais de
eficiência, seremos, definitivamente, um país de magros. Sim, estou fazendo
graça.
Vamos ver. A presidente
aproveitou para bater bumbo porque os governos do PT teriam tirado o país do
Mapa da Fome. É mesmo? Os petistas conseguiram nomear, em 2011, o petista José
Graziano para o comando da FAO, o órgão das Nações Unidas que responde pela
segurança alimentar.
Graziano foi o primeiro
comandante de um programa falido chamado “Fome Zero”, que nunca nem conseguiu
sair do papel. Com dez meses de governo, Lula o aposentou, reuniu todos os programas
sociais que herdou de FHC num só e criou o “Bolsa Família. O Fome Zero, que
daria três refeições por dia para todos os brasileiros, foi só uma ideia do
marqueteiro Duda Mendonça.
Provada a sua inviabilidade
prática, o Apedeuta aderiu ao que já existia, tendo apenas a esperteza de
reunir todos os programas de transferência direta de renda num só, unificando
os cadastros. Vale dizer: Lula estava errado sobre a forma de combater a
pobreza extrema; Graziano também estava errado, e FHC estava certo. Adiante.
Em 2013, segundo os números da
FAO e a metodologia então empregada, 7% da população brasileira consumiriam
abaixo de 2,2 mil calorias. Em 2014, pimba! Sob o comando de Graziano, o
critério mudou, e os 7% em situação, vamos dizer, de deficiência calórica
caíram para 1,7%. E pronto! Por decreto, o Brasil estava fora do Mapa da Fome,
que foi o que Dilma exaltou nesta terça.
É fabuloso! Trabalhando no
Brasil, Graziano não conseguiu matar a forme nem do mendigo da esquina. Com
pouco mais de dois anos à frente da FAO, ele conseguiu transformar 17 milhões
de pessoas com fome em apenas 3,4 milhões. Graziano é o maior exterminador de
famintos do mundo: eliminou 13,6 milhões de uma penada só.
E como se conseguiu esse
milagre? Ah, é que a FAO não considerava antes as refeições servidas fora de
casa, em programas sociais os mais variados, como mitigadoras da fome. E aí
passou a considerar. Mas essa comida é servida pelo governo federal? É claro
que não! Mas os petistas não ligam em usar os ex-famintos alheios. Aliás, tomar
o alheio nunca foi freio para essa tigrada.
Muito bem! Agora vamos à
piada. Dilma se elegeu prometendo que o Brasil daria início a um novo ciclo de
desenvolvimento. Prometeu uma terceira geração de programas sociais, que
capacitaria os pobres a andar por suas próprias pernas, na esteira do
crescimento econômico. Disse que era chegada a hora da Pátria Educadora, com um
padrão que revolucionaria a vida dos mais pobres. Também a saúde passaria por
uma reformulação, que iria mudar a vida dos brasileiros.
Bem, ela deve promover neste
ano uma recessão de 3,5%; outra, por enquanto, de mais de 1% no ano que vem,
com inflação, em 2015, na casa dos 10% e juros na estratosfera. O desemprego
cresce de forma acelerada, e pelo menos 3,3 milhões de famílias, entre 2015 e
2017, devem migrar da chamada nova Classe C para as velhas Classes D e E. Isso
corresponde ao número que havia saltado da base para a tal Classe C entre 2006
e 2012. Vale dizer: a governanta vai anular em dois anos o que se havia
conquistado em seis.
O que restou à presidente como
meta factível de governo? Ela deixou claro: emagrecer os brasileiros. Disse a
governanta nesta terça na abertura da tal conferência:
“Essa é a nossa meta principal
para o próximo período, e esse é o meu compromisso. A minha própria experiência
mostra a importância de uma boa alimentação e da prática de exercícios. Nada
mais necessário para que possamos diminuir a quantidade de remédios que tomamos
e para que não haja obesidade, porque depois lutar contra ela é muito mais difícil”.
Acho que Dilma pode ficar
relativamente tranquila. Na sua gestão, tem sido mais fácil emagrecer. Consumir
mesmo as calorias ruins tem sido bastante difícil, com inflação de 10% ao ano.
Já a boa alimentação, bem, aí a coisa realmente complica, não é? Parece certo
que a presidente não tem ido nem ao supermercado nem à feira.
Pregar a dieta é coisa bem
mais simples quando, como diria Fernando Pessoa, mordomos invisíveis
administram a casa.
Dilma se elegeu prometendo a
revolução da educação e agora se contenta em emagrecer os brasileiros.
Finalmente, uma meta factível.
E, se a gente não tomar cuidado, ela dobra essa meta.
Título e Texto: Reinaldo Azevedo, VEJA,
4-11-2015
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