Duarte Marques
Na passada sexta-feira
assistimos na Assembleia da República a um dos momentos mais tristes do debate
sobre a educação em Portugal. Após anos de experiência, e alguma polémica
inicial, o recurso aos exames da quarta classe revelou-se bastante positivo e
até algo surpreendente para muitos professores, pais e encarregados de
educação. O jornal Público fez uma longa reportagem sobre o tema e vários foram
os professores que, céticos à partida, se revelaram apoiantes entusiasmados dos
"malditos exames".
Chamaram-me a atenção as
razões apontadas pelos diversos professores, alguns mesmo diretores, ouvidos
nas mais diversas reportagens que foram publicadas a propósito da prevista
extinção dos exames. A mais surpreendente de todas é aquela que recorda a maior
preocupação e responsabilidade dos pais na educação e sucesso dos filhos. Sim,
o papel dos pais na educação dos filhos é fundamental, não substituindo o papel
do professor mas cumprindo o seu papel de pai e cuidador. Pais empenhados na
educação dos filhos costuma resultar em filhos com melhor aproveitamento
escolar. Outros pais, e encarregados de educação, revelam que são entusiastas
dos exames porque isso legitima mais a sua exigência quanto ao empenho dos
filhos nos estudos. Por umas ou por outras razões, e apesar da histeria
inicial, a verdade é que os exames da quarta classe convenceram os mais
céticos, os diretores mais renitentes e até os pais mais distantes.
Os exames preparam os alunos
para a exigência, são um teste às suas capacidades, mas também uma oportunidade
para avaliar o sistema pois permitem comparar os resultados. O PS em campanha,
e no seu programa eleitoral, prometia "avaliar o sistema de exames
nacionais", mas não hesitou, no primeiro debate sobre educação, em votar a
favor das propostas da extrema-esquerda portuguesa e, agora, sua aliada. Fê-lo
sem debate, sem ouvir os parceiros do sector e, pior do que tudo, contrariando
o seu programa eleitoral e usando um argumento falso que seria a concordância
do Conselho Nacional de Educação (CNE) com a extinção dos exames.
O grupo parlamentar do PS
citou falsamente, e de forma ardilosa, um suposto parecer do CNE que defenderia
o fim dos exames nacionais. Jamais o CNE defendeu a extinção dos exames da
"4.ª classe", jamais houve um parecer a defender a eliminação destes
exames.
Para não ficarmos com dúvidas
o melhor mesmo é ler o dito parecer e facilmente se perceberá que a realização de
exames nunca foi posta em causa. Aquilo que se diz é: "Reavaliar a
adequação das provas finais de 4º e 6º ano aos objetivos de aprendizagem dos
ciclos que encerram, bem como rever as condições da sua realização". Ou
seja, adequar o conteúdo dos exames aos objetivos de aprendizagem e realizá-los
fora do período de aulas, à semelhança dos restantes. Aliás, o que é proposto
pelo PSD/CDS e pelo PS nos seus programas eleitorais é muito semelhante nesta
matéria e concordante com esta posição do CNE.
No referido debate em
plenário, o Bloco de Esquerda chegou até a reconhecer os bons resultados
obtidos nesses exames nacionais, mas atingiu o absurdo quando afirmou que os
resultados do 4.º eram bons "porque muitos alunos chumbam no 3.º ano
com medo dos exames". À falta de argumentos mais
inteligentes, este utilizado pelo BE atinge o Olimpo da estupidez.
De uma assentada, o PS foi a
reboque da esquerda radical, tal como na questão dos exames dos professores
(matéria legislada pelo próprio partido socialista), contrariando o seu
programa, o seu passado e a sua tradição. Sem debate, sem discussão e sem ouvir
os parceiros habituais, a nova coligação de esquerda "mandou às urtigas
duas das reformas mais corajosas, e de maior sucesso, que foram feitas na área
da educação. Apetece repetir a pergunta que ontem o Alexandre Homem de Cristo
fez no Observador "Quem manda na Educação?" pois não acredito que
seja o PS. Não me parece que o novo Ministro da tutela, tendo em conta o seu
percurso e formação, tenha concordado com esta diminuição da exigência e de
rigor.
O perigo real é verificar que
o PS está mesmo refém dos seus parceiros de coligação, não só noutras áreas mas
sobretudo na educação onde as reformas têm um impacto direto na formação das
novas gerações. Os jovens não podem ser cobaias do radicalismo de
esquerda, do novo revanchismo caviar que apenas procura uma pequena
vingança contra um modelo de educação que ao longo de 4 anos nunca conseguiram
derrubar, um modelo assente na exigência, na qualidade e no rigor,
características que causam repulsa ao ideário da esquerda radical que revê mais
no facilitismo, na falta de exigência e na falta de avaliação.
Esta é a primeira grande
pirueta do Partido Socialista após a tomada de posse do novo governo. É triste
mas é verdade. Como diria Ferro Rodrigues "habituem-se".
Título e Texto: Duarte Marques, Expresso,
2-12-2015
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