Aparecido Raimundo de Souza
O caso da cueca
A estudante Maria
Vai Com As Outras, do Alto dos Cogumelos, nos escreve reclamando do elevado
número de buracos em sua rua. Diz ela que existe uma cratera tão grande, perto
do portão de sua residência, “que, outro dia, seu namorado, ao sair apressado e
literalmente pelado (por causa da chegada dos seus futuros sogros), deixou cair
a cueca que levava nas mãos, junto com a calça e a camisa. Até agora – continua
–, apreensiva, o pessoal da Prefeitura não conseguiu localizar as peças. “Quer
saber, dentre outras coisas, se o rapaz tem direito a algum tipo de
indenização”.
Resposta:
Sim, claro! Inclusive, Maria, segundo nos relatou o ouvidor do bairro, seu
namorado pode pleitear que a Prefeitura lhe reembolse, além do montante em dinheiro
(referente às peças perdidas), com uma consulta a um médico oculista e,
consequentemente, com o aviamento de uns óculos de grau, a fim de que o fato
não se repita, e, sobretudo, para que ele possa enxergar melhor os lugares onde
pisa. E, veja bem: se ele preferir, a Prefeitura pode providenciar, também, o
pagamento das mensalidades, pelo período de um ano, de um sistema de alarme de
segurança bastante sofisticado que soará com antecedência de cinco minutos toda
vez que seus pais (os sogros dele) estiverem chegando.
Piolhos
a dar com o pau
O ajudante de
caminhão João Engole Cobra, do Jardim dos Caixões Sem Alças, furioso, denuncia
uma infestação maligna de piolhos na escola onde estuda seu filho mais novo, o
Joãozinho Engole Minhoca. Diante desse problema, o cidadão deixa no ar uma
pergunta sem resposta: “Que providências tomar, de imediato?”.
Resposta:
Fomos procurar a direção da escola e a assistente pedagógica do colégio (que
muito educadamente nos recebeu) mandou um recado bastante simples com uma solução
fácil de ser seguida. Disse a jovem para que passássemos para seu João o
seguinte: que ele corte, ou arranque, a cabeça do filho, e a deixe em casa, de
preferência num congelador ou de molho no álcool. Tal medida evitará problemas
com piolhos futuros, além do que, ela, assistente de pedagogia, não terá mais
que ouvir as lamúrias e as cantadas (notadamente, as cantadas) de um desocupado
que, não tendo mais nada a fazer, a não ser encher a cara de cachaça, ficar
bêbado de não se aguentar em pé, aparecer depois somente para torrar o saco e a
paciência, como se ela não tivesse mais nada a fazer dentro da escola.
Insuportável
O estagiário em
suprimentos de estoques de supermercados Juraci Costa Bigorrilho, do Bairro dos
Degolados, reclama do mau cheiro nos fundos do prédio que faz divisa com seu
terreno. Diz ele que, naquele local, funciona uma divisão da Delegacia de
Homicídios, para onde são levados presos da Justiça para serem submetidos a
torturas e sevícias. No auge do desespero, nos pergunta: “O que fazer?”.
Resposta:
Caro amigo, diga ao pessoal da tal Divisão de Homicídios que você não se
importa nem um pouquinho com o tratamento que eles dispensam aos detentos,
porém, que o delegado responsável desove os “presuntos” em lugar mais afastado
ou você abrirá a boca e contará tudo à imprensa.
Entupimento
A cabeleireira
Filomena Mão Leve, do Ribeirão dos Camundongos, se queixa do entupimento
constante de seu lavatório. Diz que já é décima vez que chama o encanador, mas
o “problema continua persistindo”.
Resposta:
Sugerimos que a senhora troque, urgentemente, de profissional. Da próxima vez,
tente contatar um bombeiro hidráulico com uma mangueira que possa ser
introduzida no seu lavatório, de preferência que saia direto na caixa de
esgoto.
Escuridão
O militar da
reserva Pedro Cabeça de Mosquito, do Parque das Oliveiras, solicita a
substituição de uma lâmpada de mercúrio queimada, no poste principal da Alameda
Psiu.
Resposta:
O ouvidor municipal Hélio Deixa Como Está nos informou que a Secretaria de Serviços
Urbanos já trocou a referida lâmpada por mais de vinte vezes. A câmera de
segurança instalada no local flagrou por diversas vezes um motoqueiro,
entregador de pizzas, que, todas as noites, após fazer a entrega nessa alameda,
encosta a moto, “trepa” no poste e carrega a lâmpada e, no lugar, ainda deixa
um bilhete mal escrito com os seguintes dizeres: “Da próxima vez, seus trouxas,
coloquem uma lâmpada mais forte. Mamãe sofre das vistas e as porcarias que
tenho levado para casa não estão resolvendo o problema dela”.
Interurbano
O senhor
Cincinato do Amor Magoado, da vizinha cidade dos Cabritos, distante oitenta
quilômetros da capital, quer saber por que suas ligações locais “continuam
sendo cobradas como se fossem interurbanos feitos para outras localidades?”.
Resposta:
A Companhia Telefônica, em nota a nós enviada, esclareceu que, de acordo com
uma regulamentação da Anadeuoanel, isso vai continuar acontecendo, até porque,
as prestadoras, de um modo geral, precisam arranjar dinheiro para cobrir os
rombos enormes deixados por gestões passadas, bem como pagar uma porrada de
funcionários fantasmas e garantir a sobrevivência dos diretores atuais. Por
assim, a grana tem que sair, custe o que custar dos bolsos de alguém. Nada
melhor que venha dos babacas que utilizam os serviços da empresa.
Medicamentos
O desempregado
Armando Em Cima de Alguém, do Jardim dos Anfíbios, reclama da falta de um
medicamento nas farmácias de seu bairro. Alega que sua irmã é epiléptica e
precisa de um remédio de uso contínuo chamado Lamotrigina, que “está sempre
para chegar, mas nunca chega”.
Resposta:
O superintendente de Ações de Saúde pede ao Armando que troque sua querida irmã
por uma pessoa que sofra de uma doença mais popular, cujo remédio não seja tão
difícil de ser encontrado nas prateleiras das drogarias.
Porcos
O vendedor de
cacarecos Jorge Pensa Que Pode, da vizinha cidade de Carapicuíba, reclama de
uma criação de porcos sem autorização da saúde pública na Avenida Celeste, onde
mora com a família. Diz ele que o “mau cheiro está insuportável. Não sei mais a
quem apelar. No chiqueiro também vivem cachorros doentes e gatos cegos”.
Resposta:
O Diretor do Departamento de Posturas da Prefeitura de Carapicuiba nos garantiu
que irá pessoalmente sentir o “mau cheiro” alegado. Roga, entretanto, que o
senhor Jorge aguarde uns dias, até que seu resfriado passe de vez e o nariz
volte a respirar normalmente sem a ajuda de descongestionantes. Tão logo esteja
com os ditos orifícios nasais em forma, e as vias liberadas, fará uma visita ao
local e, se realmente o “mau cheiro” estiver insuportável, notificará, ato
contínuo, o proprietário da pocilga para que dê um banho nos animais e procure,
com urgência, um oculista especializado em gatos.
Clandestinos
O operário de
máquinas Eliseu Passa Bem, de Santana, denuncia comércios irregulares próximos
ao seu condomínio, na Avenida Voluntários da Pátria. “Os ambulantes vendem
cigarros e bebidas alcoólicas bem na porta do prédio, o que é proibido por Lei.
Além disso, furtam energia elétrica do relógio central da garagem, deixando
fios expostos”.
Resposta:
O administrador regional de Santana, senhor Tadeu Tadando, nos informou que
todos os comerciantes irregulares foram notificados. A fiscalização está
fazendo plantão noturno no local. Todavia, parece que existe um fiscal que
comanda a área e recebe umas “propinas” por baixo dos panos. A ideia é
prendê-lo em flagrante, mas até agora, o espertalhão conseguiu escapar sem ser
pego com a boca na botija. Quanto ao problema da iluminação clandestina, o
melhor é o cidadão cortar os fios, sem ser visto pelos meliantes. Ou, por
outra, contratar um bom eletricista e pedir a ele para arrancar e esconder
todos os relógios da caixa de barramento (incluindo o central da garagem),
torcendo, claro, como bem observou o senhor Tadeu, para que os demais moradores
do prédio não entendam o gesto de maneira errada e acabem lhe cobrindo a cara
com uma série de porradas.
AVISO AOS NAVEGANTES:
SE O FACEBOOK, CÃO QUE FUMA, PARA LER E PENSAR OU OUTRO SITE
QUE REPUBLICA NOSSOS TEXTOS, POR QUALQUER MOTIVO QUE SEJA, VIEREM A SER
RETIRADOS DO AR, APAGADOS OU CENSURADOS PELAS REDES SOCIAIS, O PRESENTE ARTIGO
(COMO OS DEMAIS QUE FOREM PRODUZIDOS), SERÁ PANFLETADO E DISTRIBUÍDO NAS
SINALEIRAS, ALÉM DE INCLUÍ-LO EM NOSSO PRÓXIMO LIVRO “LINHAS MALDITAS” VOLUME
3.
Título e texto: Aparecido Raimundo de Souza, jornalista. De
Juiz de Fora, nas Minas Gerais, 2-4-2017
Colunas anteriores:
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Não publicamos comentários de anônimos/desconhecidos.
Por favor, se optar por "Anônimo", escreva o seu nome no final do comentário.
Não use CAIXA ALTA, (Não grite!), isto é, não escreva tudo em maiúsculas, escreva normalmente. Obrigado pela sua participação!
Volte sempre!
Abraços./-