Flavio Morgenstern
A Câmara dos Deputados já aprovou projeto
que pode proibir o Uber no Brasil. Algo pode ser pior do que um político
definindo o que é bom?
Passou, na Câmara dos Deputados, um projeto de lei que “regulamenta” os aplicativos de carona (como Uber, 99 ou Cabify) em todo o Brasil. Na prática, a “regulamentação” do serviço pelo projeto de lei significa que aplicativos de caronas pagas, como o Uber, se tornarão proibidos, a não ser que se tornem taxis, controlados por sindicatos e mais políticos.
Sistemas de carona paga como o
Uber, 99 ou o Cabify são fáceis de entender para o leitor médio. Mais difícil
de explicar é o que de bom pode vir da Câmara dos Deputados, a despeito de todo
aquele belo discurso sobre “escolhemos nossos representantes” e “democracia” que aprendemos na escola. Não é preciso
ler notícias para inferir que o projeto é de autoria de algum petista de
sobrenome chic (no caso, Carlos Zaranatti, de São Paulo).
Em um momento em que o país
passa por uma crise econômica como só vista nos anos Sarney/Collor, é
fácil saber quem está melhorando a vida de um povo sofrendo de desemprego:
apps como Uber, 99 e Cabify ou a Câmara dos Deputados.
Basta preencher os slots dos
“representantes” com alguém cujo único trabalho é nos obrigar ou nos proibir e
o discurso abstrato, assim que se torna mais concreto, parece um pouco menos
interessante.
Na prática, o projeto de lei
da Câmara dos Deputados, ávidos por justificar seus emolumentos, determina
pela população o que é uma carona aceitável e o que não é. O próximo passo,
provavelmente, virá na forma de um projeto de lei proibindo que se fale com
estranhos.
Tal como as pessoas se
assustam quando economistas não-ideológicos falam em “economia de mercado”,
acreditando que o mercado seria uma espécie de kraken de mil tentáculos
controlando toda uma nação sozinho, sem perceber que o mercado são justamente
as próprias pessoas, livremente, aqui também há a tentativa da Câmara dos
Deputados (o kraken cheio de tentáculos ele próprio) tentando “regulamentar
o mercado” para o bem das pessoas (o próprio tentáculo). Soa lindo em discurso:
basta ser concretizado para se perceber que nem só de cacoetes acadêmicos vive o homem.
Resta voltar à filosofia do Senso Comum, tão incomum nestes dias: o que qualquer pessoa
ganharia “regulamentando” o Uber, o 99, o Cabify e outros aplicativos, além de sindicatos violentos e políticos ávidos por aumentar a
crise, ao dificultar um ganha-pão e entupi-la de impostos “regulamentais”
e “distributivistas”, que só irá encher seus próprios bolsos? Claro que tais
políticos não precisam se preocupar com Uber, 99, Cabify e afins, tendo mais de
17 mil por mês em verbas de gabinete, pagas com os impostos do trabalhador
(tanto o que paga Uber quanto o que dirige).
Apesar do discurso mavioso,
basta pensar no que significam palavras adoradas, como “regulamentação”, e
palavras odiadas, como “mercado”, para entender o que está em jogo, e por que
os nossos grandes inimigos gigantes da adolescência podem se mostrar meros
moinhos de vento após uma olhadela mais cuidadosa.
O que políticos querem com
“regulamentação” é apenas o dito alemão atribuído a Lenin: „Vertrauen
ist gut, Kontrolle ist besser“. A confiança é boa, mas o controle é melhor.
A despeito de toda a verborragia sobre “ditadura” e “liberdades individuais”,
basta pensar rapidamente no que temos na realidade, ao invés do mero discurso,
para perceber que o gigantesco Estado-Babá criado por políticos e pela ideologia de
esquerda é que quer controlar até como vamos para casa. Quem regulamenta a
Câmara dos Deputados?
Alguém está ganhando com o
controle autoritário sobre Uber, 99, Cabify e similares. E definitivamente não
é o povo.
Título e Texto: Flavio Morgenstern, Senso Incomum, 5-4-2017
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