Aparecido Raimundo de Souza
AMO A SUA PRESENÇA marcante que massageia meu sorriso. Amo o
seu olhar profundo de menina mulher. De fêmea criança, fundida num ser único,
inimitável, o coração a espocar alegrias numa manifestação alardeante de
regozijos indescritíveis.
Como se voasse ao infinito pervagueio vórtices e torvelinhos
vorazes e me aquieto letárgico em seus remansos. Sou como aquela ave arribada
que achou o ninho procurado.
É por isso que amo. Amo a sua meiguice ímpar, a sua maneira
de me agraciar mixada com gestos suaves cheios de mesuras e reverências. Amo o
seu gostar de palavras balbuciadas em meus ouvidos, recordando nossos encontros
às escondidas.
Nessas horas de ocultismo, me desmantelo no gargalo das suas
curvas pecaminosas. E me deixo ser levado, sem amarras, como se buscasse a
promissão.
De repente, você parece uma divinizada que me surgiu do
nada, a cantar o indizível que há de melhor dentro de si. Meu mundo que parecia
acabado, eis que num piscar de olhos, se transforma, e, nessa louca ilusão
amigável, me faz enteiado, novelado em seus ternos labirintos.
Nessa complexidade intrincada de corredores e passagens,
passagens e corredores, me sinto como um bebê carente tateando no escuro para
encontrar um ponto de apoio. Meu ponto de apoio é você.
Insidiado na irmandade que brota da sua alma, a sua alquimia
se expande, se propaga em nós, em mim principalmente. Vira num espocar de
desvarios atração diante de meus olhos famintos dos seus desejos ainda não
realizados. Seus caprichos e afoitezas são piores que o labirinto.
Você, na verdade, é uma teia de enigmas que não desvendo.
Você me devora. Nesse engolir, me afogo na língua dos seus clamores bebendo a
saliva da miopia apaixonada que brota as lufadas, de dentro de meu ser
profligado.
Como das outras vezes, lembro que você chegou com tudo.
Realejo para encantar o meu universo até então sombrio e coberto por negras
nuvens de uma solidão carrancuda que não sei em que circunstância ou por qual
empenho resolveu se azarar perto de mim.
Passo igual, nesse ofício de louco, posto que amar é ser
alienado e estólido, passei a viver cotidianamente numa impressão
fantasticamente imutável.
Delirado e prisioneiro dos seus queixumes, eu amo. Não
desisto. Amo, pois, quando você me entrelaça entre meus medos, como se quisesse
me reter do tempo agora. Amo quando você me pega pelo braço e sai a passear
comigo, mãos dadas, esquecida das coisas aborrecíveis e deploráveis que se
aventuram a me deixar para baixo.
Amo a sua voz serena que fortalece meus vazios, as suas
palavras de carinho e conforto, a sua ternura bucólica que inebria o meu
recôndito secreto acendendo uma chama que parece ficar eterna e não querer mais
se extinguir.
Da mesma forma inexorável, amo a felicidade que emana do seu
calor, dessa vivacidade sua, que me transporta para um lugar além daqui
desconhecido e diferente. No complexo, um chão de vertigem onde tudo fala e
transpira paz e tranquilidade.
Amo seus gestos e sinais, seus propósitos sutis, seus
trejeitos faciais e hospedeiros, seus galanteios delicados e sociáveis, seu
andar de garota do Rio, das calçadas de Copacabana. Amo seu gostar
despretensioso, penetrante e engenhoso.
Amo seu mirar comprido, esse avistar que, no fundo, bem sei,
abala, palpita, perturba e desassossega com minha cabeça... e pior, me deixa a
ver navios, completamente fora de órbita. Algo que não evanesce.
Amo o seu descuido, seu esquecimento, seu desleixo, quando
brigamos por motivos corriqueiros. Amo a sua indelicadeza matreira, astuta e
sabida, quando finge estar zangada, chateada, de humor abespinhado. Amo seu
silêncio, seu âmago que se descompassa quando digo que não lhe quero mais ao
meu lado, e pretendo partir.
Você tem consciência, sabe de cor e salteado, que o meu
partir, o meu ir embora não passa um palmo acolá da porta que encerra as quatro
paredes das intimidades da nossa cama.
Quando lhe pego sob o lençol, e rolamos no macio gostoso do
colchão me embriago no meio de suas pernas. Ao meu apetite, foge uma calcinha
às carreiras. Num passe de mágica, ao bater do condão, uma gruta de loucuras me
prende numa passagem sem volta.
Fora de mim, como um vassalo, amo mais ainda. Amo quando
você diz, em contrapartida, que também criará asas e dará no pé. Sumirá da
minha vida. “Desta vez não haverá retorno”. Amo, sobretudo, quando faço carinha
de choro e você larga as bolsas no chão e corre, apressada e temerosa, a me
abraçar.
De novo, adusto e abrasado, impetuoso e injungido, me volto
a me esquecer no estreito da serventia que você me mostra, escancarada e me
prende com chaves e grilhões macios no cárcere eloquente da sua cegueira. Viajamos.
Amo esses momentos, amo de verdade porque no fundo, você,
sem saber, me põe de quatro, os pneus furados, os faróis acesos, a bateria a
abrolhar num amplexo que não sei como fugir como escapar, tampouco resistir.
Amo, igualmente no instante desse envolver, a emoção, o
alvoroço, a agitação que faz com que me aperte contra seu peito, como se eu
fosse um bichinho de estimação. Um brinquedo adorado que você acabou de achar e
não lembrava aonde havia guardado. Você me torce me morde, me espedaça.
Desmilindrosa com a fissura de um anjo encouraçado derrama o
perfume de todas as palavras retidas numa prosa em versos metrificados que nos
põe no topo do IBOPE da mais ousada das alucinações.
Por isso que amo o seu gostar, o seu não gostar. O seu meio
termo. Amo o seu desdém, a sua rebeldia de mentirinha, só para me fazer raiva.
E faz. Amo o seu interior que me espelha como se eu fosse parte de você – como
se eu e você –, num só entrelaçamento explodíssemos em nós mesmos, levados por
uma feitiçaria diferentemente desigual, incoerente, anormal e dissonante.
Amo o magnetismo, o arroubo do amor ergástulo, percorrendo
de uma forma nova, consistente, inexorável e puro intocável, o virginal de
nossos corpos sobre a bandeira do prazer. Amo perdidamente sem meios termos,
sem recear ou me inquietar com o amanhã.
O futuro que nos rodeia, é um istmo Amo sem duvidar, sequer,
do futuro. Ou se ele, de fato, algum dia existirá para nós. A meu ver, o que
conta é o agora. O porvir a Deus pertence.
Amo, meu Deus! Eu amo... venero, cultuo, obstino, essa sua
paixão sangriada pelo inédito, pelo impreciso, pelo apocalítico ambíguo, dúbio
e cabalístico. Nesse pensar, de
contraponto com a poesia de Ecila Yleus, sigo adiante:
“Quero a emoção de Java, a beleza da flor que nasce entre as
pedras, a palavra de adeus, mas, me espera. O vocabulário em latim falando de
Vinícius... a flor de cactos no sertão de laços”.
Amo, finalmente, finalmente amo, amo, amo, amo, quando
parte, ainda que em ilusões quiméricas, num investigar incansável para nós
dois, ideando, perseguindo sendas e atalhos, carreadouros e veredas que nunca
foram... que jamais, em tempo algum, foram pisados.
Título e Texto: Aparecido
Raimundo de Souza, jornalista. Da Lagoa Rodrigo de Freitas, no Rio de
Janeiro. 15-12-2017
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Quisera eu ser amada dessa maneira!É o que toda mulher gostaria.
ResponderExcluirAPARECIDO, gosto quando seu texto não usa eufemismos, e palavras inovadas ou chulas.
ResponderExcluirEu pessoalmente sou adepto que todo o sentimento é uma reação dos nossos 5 sentidos.
Não acredito no AMOR.
O coração é apenas a fonte de nosso cérebro, o qual envia impulsos elétricos para que o bobo coração continue batendo.
Sei que alguns algozes me criticarão.
O cego ama.
O surdo ama.
O mudo ama.
Sim eles amam porque os dois sentidos restantes são os principais de nossas vidas.
Sem TATO não haveria ORGASMO.
Sem OLFATO não seria sentido os FEROMÔNIOS.
Às vezes você vê aquela mulher linda e maravilhosa com aquele sujeito disforme e horroroso, ou vice versa, que não é por causa do que se vê ou do que se ouve, é a cheiro, o perfume do sexo.
Aquele toque das mãos, do beijo, da carícia e do abraço que eriça os pelos do corpo, que entumece mamilos e provoca o desejo e a ereção.
Esse dois sentidos são os que levam o bebê ao mamilo, quando enxerga apenas névoas, e ouve apenas ruídos desconhecidos.
Por isso não acredito em almas gêmeas.
Esse amor que tanto falam, aquele doentio, que apequenam as mentes, eu nunca possuí.
Acredito que existam milhões de pessoas que possam ser a sua, a minha ou as delas combinações de feromônios que nos excitam.
Sexo jamais mantém um relacionamento por longos anos.
Amizade e tolerância sem sofrimentos são basilares na vida a dois.
Quem se une por sexo, fatalmente viverá caminhando essa vida pulando de galho em galho.
Tenho 35 anos de relacionamento com a esposa que me escolheu, acolheu, do qual cuido com imenso prazer.
Dar e receber são vitórias.
fui...