Uma das frases mais
fascinantes e ambíguas sobre a política foi cunhada no Brasil há mais de 60
anos. “Rouba, mas faz”, que tinha como destinatário Adhemar de Barros, figura
cimeira da governação paulista, foi lançada pelos seus adversários como um
ataque aos métodos pouco ortodoxos do influente político; no entanto, numa
daquelas deliciosas ironias da vida, a expressão acabou por ser aproveitada
pelos apoiantes do próprio como um poderoso slogan de
campanha, provando que a opinião pública e as avaliações dos eleitores são
lugares ainda mais estranhos do que o amor.
Nos últimos dias, deste lado
do Atlântico, destacados elementos do Partido Socialista têm-se destacado,
ainda que involuntariamente, na aplicação da máxima brasileira ao legado do
ex-primeiro-ministro José Sócrates, alternando entre a “vergonha” que sentem
das suas manigâncias (o que roubou) e o “orgulho” que experimentam em relação à
sua obra governamental (o que fez). Como acontece muitas vezes quando importamos
teorias e conceitos do estrangeiro, há um grande problema nesta adaptação. O
“roubou, mas fez” não representa, neste caso, a oposição entre uma coisa má e
uma coisa boa; representa, sim, a composição de duas coisas más, sendo a
segunda bastante pior do que a primeira.
Se Sócrates tivesse roubado o
dobro e feito apenas metade, ter-nos-ia ficado mais em conta. O grande azar do
país foi ter tido um PM com aquelas características a utilizar o pensamento de
Adhemar em vez de se dedicar a um muito menos cansativo “rouba e não faz”.
Imaginem que José Sócrates, em vez de assinar contratos, despachos e decretos,
tinha passado a totalidade dos seus anos como chefe do governo a transportar
barras de ouro do cofre do Banco de Portugal para o sótão da casa de Carlos Santos
Silva. Isso teria significado, na pior das hipóteses, um prejuízo de 12 mil
milhões de euros para os contribuintes, valor total das reservas douradas da
nação. Para verem o que representou essa obsessão contemporânea com o “deixar
obra feita”, só o resgate da troika foi de 78 mil milhões! É
mais do que tempo de legislarmos no sentido da proibição do uso de canetas na
sala do Conselho de Ministros e no Palacete de São Bento.
Em relação à dúvida do momento
– são os partidos todos iguais ou o PS abusa mais do que os outros? –, deixo
aqui um episódio que me contaram, verídico como todos os que vos vou
transmitindo nos meus textos:
Uma vez, num clube de natação
frequentado por forças partidárias, o diretor do equipamento chamou o Partido
Socialista e disse-lhe:
– Caro PS, o senhor vai ser
expulso por fazer xixi na piscina.
– Mas, senhor Diretor –
respondeu o PS –, todos os partidos fazem!
– Talvez, mas da prancha de
saltos você é o único.
Título, Imagem e Texto: Sérgio Barreto Costa, Blasfémias, 11-5-2018
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