Clark Whelton
Há algo de assombrador em um mundo
pós-apocalíptico onde se entende claramente que aqueles que controlam os
grandes meios de comunicação são poderosos e intolerantes. Fale fora de hora, e
você pagará o preço. “Um Lugar Silencioso” vai além: fale qualquer coisa e você
morrerá
O novo suspense de ficção
científica de John Krasinski, “Um Lugar Silencioso”, vem arrecadando cifras
grandes nas bilheterias. Espectadores e críticos estão fascinados com um filme
sobre criaturas cegas que tomam conta da Terra. Usando sua audição altamente
aguçada para caçar e destruir apenas pelo som, esses monstros mortíferos já
eliminaram praticamente toda a resistência. Alguns humanos corajosos sobrevivem
aqui e ali, conservando silêncio absoluto.
O filme começa no “dia 89” do
ataque das bestas cegas. A partir de manchetes velhas de jornais e outras
pistas, ficamos sabendo que os monstros implacáveis, que se deslocam tão
rapidamente que são quase invisíveis, derrotaram as forças armadas dos EUA e
exércitos de outros países também. Em três meses a raça humana passou de
predadora a presa. A origem das criaturas nunca chega a ser explicada, mas
desconfiamos que elas vieram do espaço. Não somos informados por que elas estão
furiosas conosco. Se quisermos sobreviver, nossa única esperança será fazer
silêncio.
Há algo de assombrador em um
mundo pós-apocalíptico onde se entende claramente que aqueles que controlam os
grandes meios de comunicação são poderosos e intolerantes. Fale fora de hora, e
você pagará o preço. “Um Lugar Silencioso” vai além: fale qualquer coisa e você
morrerá.
Trata-se de apenas mais um
filme sobre o fim do mundo – ou de uma narrativa alegórica sobre a conquista da
sociedade ocidental pelos implementadores da correção política?
Essa interpretação pode soar
improvável e exagerada, mas as plateias se sentem atraídas por alguma coisa
aqui, e não é a originalidade da premissa. Os dois elementos principais da
trama foram emprestados de filmes anteriores. Criaturas cegas que caçam humanos
pelo som é algo inspirado no filme clássico “The Day of the Triffids” (no
Brasil, “O Terror Veio do Espaço”), enquanto o final de “Um Lugar Silencioso”,
com a descoberta feliz do ponto fraco dos monstros, é copiado abertamente de
“Marte Ataca!”, sátira de ficção científica dirigida por Tim Burton em 1996.
Mesmo assim, multidões estão fazendo filas nos cinemas.
É evidente o fascínio dos
espectadores diante de um mundo em que as pessoas têm medo mortal de falar — e
eles sabem um pouco sobre isso graças às manchetes. Sabem que políticos
progressistas e intelectuais politicamente corretos vêm abandonando as
proteções consagradas na Primeira Emenda, que antes juraram defender. Sabem que
uma professora respeitada da Universidade da Pensilvânia foi denunciada por
falar publicamente de fatos dos quais é proibido falar. Sabem que manifestantes
nos campi regularmente calam oradores que não sejam politicamente corretos,
quase sempre com o consentimento de seus professores. A Califórnia está
propondo a proibição de livros politicamente incorretos. Mesmo empresas
poderosas como a Starbucks operam em um clima de medo.
Os jovens estão ouvindo a
mensagem: calar a boca faz sentido. Eles sabem que o Facebook não apenas
rastreia os textos e mensagens que eles postam online, mas também vende suas
informações. Sabem que Facebook e Twitter atuam como fiscais da política
progressista, fechando as contas de pessoas que saem da linha.
Em “Um Lugar Silencioso”, os
monstros que tudo ouvem e que assumiram o controle do mundo ultrapassam de
longe o que Mark Zuckerberg pode fazer. Zuckerberg tem o poder de censurar
personalidades no Facebook como Diamond & Silk, alegando que representam
“um perigo para a comunidade”, mas os seres cegos do filme devoram quem não
consegue guardar silêncio.
Visto desde a perspectiva da
América contemporânea, onde famílias instruem seus filhos na arte de não dizer
a coisa errada, “Um Lugar Silencioso” não é apenas uma alegoria de correção
política – é praticamente cinéma vérité.
Título e Texto: Clark Whelton foi redator de discursos dos prefeitos de
Nova Iorque, Ed Koch e Rudy Giuliani
©2018 City Journal.
Publicado com permissão. Original em inglês
Tradução de Clara Allain
Gazeta do Povo, 11-5-2018
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