Flavio
Morgenstern
É impossível deixar de reconhecer o mérito
de Trump no fim da Guerra da Coréia e na soltura de prisioneiros políticos por
Kim Jong-un. Bem, impossível? Deixe com o Jornal Nacional.
Donald Trump fez três
americanos serem soltos de uma prisão política na Coréia do Norte (Bill
Clinton, para fazer o mesmo, deu todo o plano nuclear que Kim Jong-un hoje tem;
Trump, pelo contrário, ameaçou Kim publicamente dizendo que seu botão nuclear
era maior e funcionava; jornalistas diziam que isso causaria a Terceira
Guerra).
Como o Jornal Nacional poderia
fazer o que sempre faz: culpar Donald Trump por tudo o que acontece no mundo,
como furacões (sim, Jorge Pontual fez isso), a KKK (Democrata) ou as birutices
de Kim? Bem, deve ter demorado o dia inteiro de laboriosas reuniões infundadas.
Mas um jornalista teve uma ideia:
ao invés de uma análise sobre como Trump fez isso, sobre por que os jornalistas
foram soltos na era Trump, e não nos oito gloriosíssimos anos de Obama, quando
o presidente americano dizia “Bom dia” e todos os jornalistas noticiavam como a
democracia no mundo aumentava com os dentes do primeiro presidente negro
sorrindo ao mundo, sobre qual o plano de Trump para a península coreana sem
precisar disparar um míssil, sobre como a Guerra da Coréia foi terminada depois
de 73 anos (a idade da sua avó) pelo Twitter, que tal inverter a relação?
Ninguém precisa pensar, ainda
mais nestas coisas, que destroem a narrativa de que Obama é bom porque… bem,
porque todo dia diziam que ele era bom, e que Trump é ruim porque… bem, porque
todo dia dizem que ele é ruim.
Bastou fazer o contrário:
destacar no noticiário a fala de Trump: “Eu agradeço a Kim Jong-un por…” [corte
brusco meio segundo depois]. Se não tem argumentos (pode perguntar a qualquer
marqueteiro), use a associação imediata. O cérebro das pessoas funciona assim para
comprar refrigerante e absorvente, mas só o cérebro dos tolos funciona assim
para definir o que pensar politicamente. E se tem uma aposta certa, é que o
espectador da Globo (e a esquerda brasileira, o que dá no mesmo) tem cérebro de
tolo e só pensa por associação imediata.
Não, nenhuma palavra sobre
análise geopolítica além disso. Basta colocar um agradecimento diplomático
(cujo subtítulo é: “Obrigado por não me obrigar a gastar alguns milhões de
dólares soltando um míssil na sua moringa, seu gordinho escroto do inferno”) e
pronto: Trump até está parecendo um pouco com Kim Jong-un, ao contrário de
Obama, que é um grande democrata.
Isto para não falar no Acordo
Nuclear do Irã, que a Globo relata como se Trump tivesse acordado de mau humor
e dissesse: “Quer saber? Vou sair dessa meleca, só para mostrar que a gloriosa
política genial e salve-salve do Obama vai ser destruída, BUAHAHAHAHAHAH!
Amanhã ainda pretendo linchar negros no meio da rua, e depois de amanhã, vou
envenenar a maçã da Branca de Neve!”
Alguma palavra sobre Israel
ter encontrado provas de que o Irã está desenvolvendo bombas nucleares
justamente porque o acordo que Obama deu de presente para os ayatollah’s
atômicos gritando “Death to America!” dia sim, dia também, permitia isso?
(alguém aí lembrou do que Bill Clinton deu de presente para Kim Jong-il? ah,
sim. mas não foi a Globo.)
Quem se informa pela Globo
realmente só sabe fazer associações imediatas com o que jornalistas resolvem
RECORTAR, ao invés de informar e mostrar um todo concatenado, com começo, meio
e fim, sem contradições e sem sensacionalismo emocional.
Mas fake news, obviamente,
somos nós.
Título, Imagem e Texto: Flavio Morgenstern, Senso Incomum, 10-5-2018
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