quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Despatrimônio europeu

VASCO GRAÇA MOURA Vasco Graça Moura
Diário de Notícias, 25-08-2010

Com o fim de umas férias em que tudo lhe saiu mais difícil e mais caro, o português médio regressa a casa e não tem nenhuns motivos para se sentir satisfeito. Agora é mesmo a doer. Tem cada vez mais contas e cada vez menos dinheiro. Não sabe como há-de sustentar a família. Não sabe como vai ser amanhã. Só sabe que vive cada vez pior e não vê maneira de as coisas mudarem.
O panorama político não lhe dá grandes expectativas. Nos jogos florais pouco edificantes em que ciclicamente procura entreter-se com a oposição, o Governo volta a ganhar o prémio da mediocridade. Vai crocitando mais umas patetices e tudo o que resulta desse penoso exercício é que não tem ideias, nem aprendeu nada, nem conseguiu sequer mostrar um vislumbre de qualquer capacidade mínima de promover uma transformação do País.
O que a governação socialista conseguiu foi inventar o princípio da asfixia pela carga fiscal e transformar a despesa pública num atoleiro sem nome. Ninguém alimenta expectativas favoráveis quanto ao futuro. O futuro dos portugueses e dos seus filhos nunca se apresentou tão negro e tão hipotecado como agora.
E por ora, tudo o que os governantes vão fazendo é mandar mais umas bocas de vez em quando, a vitimizarem-se quanto baste e a ver se com isso incendeiam os ânimos ou condicionam a opinião pública. Já não incendeiam nada, não condicionam coisíssima nenhuma e não convencem ninguém. Ninguém lhes dá credibilidade e talvez já nem eles mesmos se levem a sério.

Nada pior para qualquer Governo do que chegar a um ponto em que se afigura já só existir por um efeito de pura inércia. É sinal de que perdeu em todos os tabuleiros. Este Governo aguenta-se apenas porque o Presidente da República não o pôs a andar, como, em minha opinião, já devia ter feito há muito tempo. A complacência presidencial não vai evitar uma catástrofe de dimensões imprevisíveis. Quando muito, conseguirá retardá-la por poucos meses. Entretanto, toda a gente finge acreditar em que a queda do Governo teria neste momento as piores consequências. Mas a verdade é que toda a gente se está a preparar para ela a grande velocidade.
E compreende-se: enquanto Sócrates e o seu desastroso Governo estiverem em funções, Portugal conhecerá num atraso de vida intolerável. E quando se forem embora, muito provavelmente esse atraso já terá comprometido o trabalho de várias governações e a sustentabilidade de várias gerações futuras.
Por este andar, Portugal está condenado a ficar sempre no pior lugar de todas as escalas europeias. Tornou-se um país falido, amorfo e sem recursos, sem vontade e sem nervo, sem condições de competitividade e sem qualificações, dilacerado entre corporativismos, promiscuidades de alto gabarito e manobras especulativas inconfessáveis. Este é o Portugal de que, neste final de férias, muita gente vai fazer a descoberta melancólica: um país improdutivo, impotente, desistente e arruinado, um país abaixo de cão e bom para a sucata, sinónimo do beco sem saída que está a ser preparado para as próximas gerações.
Chegou-se aqui graças a vários factores concomitantes: um eleitorado irresponsável, a solicitude política e o empenhamento das incompetências do Partido Socialista, a prestimosa intervenção de capangas, boys famélicos ou verdadeiros quadrilheiros de colarinho branco que por aí borboleteiam, prontos para tudo e mais alguma coisa, enfim, muita gente que a tudo vai chamando um figo e se tem mostrado especialmente adestrada tanto nas aprimoradas suculências do carneiro com batatas, como nas destras piruetas das negociatas.
Assim, um país analfabeto, predisposto à mendicância e propenso à falta de vergonha, desertificado e macrocéfalo, desequilibrado em todos os aspectos, que não trabalha, não produz, não tem agricultura, nem indústria, está em vias de se tornar a escória da Europa. E essa é mais uma das faces de um problema sério que com este Governo nunca será resolvido: no que toca à política, à sociedade, à economia e à cultura, Portugal tornou-se o mais sério candidato a despatrimónio europeu.

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