Manuel O. Pina
Esta pequena crónica vem a propósito
das próximas eleições brasileiras e motivada por alguns textos que tenho
recebido, alguns deles falando em “reflexões” e de que, nas eleições iriam
cumprir o sagrado dever democrático de votar, mas em consciência. Vem também a
propósito de um texto do jornalista Rubem Alves, em que diz que “O Povo Unido
Jamais Será Vencido” lhe faz medo.
Eu, que costumo dizer que não tenho
medo de nada, afinal também tenho medo disso. Porque o “povo unido” é capaz das
maiores crueldades, das piores injustiças. É propenso a atitudes que não seria
capaz de tomar individualmente, porque individualmente é geralmente covarde e a
covardia se esconde na multidão. A multidão dos esfarrapados, dos ignorantes e
dos imbecis tomará um dia o poder, nas palavras do filósofo Jean-Paul Sartre.
Sartre achava que a tomada de poder
pelas massas seria uma conquista do género humano, da civilização. Mas Sartre
estava enganado, porque as massas depois de tomarem o poder são manipuladas
pela elite que as usou para atingir os seus objetivos. E Sartre também devia
ser um grande distraído, porque não olhou para a História, que está cheia de
exemplos.
As massas ficavam em delírio durante
as procissões da “Sagrada Inquisição” e apinhavam-se para poder assistir ao
estertor das vítimas sendo queimadas em vida.
Foram as massas que colocaram Hitler
no poder, para depois serem controladas pelo nazismo estabelecido e sofrerem na
pele as consequências do regime.
O mesmo aconteceu na Rússia, ao
assassinarem a família imperial para depois darem origem ao regime comunista
que passou a vigorar a partir de então, com várias carnificinas pelo meio e, se
não limpezas étnicas, pelo menos limpezas ideológicas.
As massas tomaram o poder em Cuba,
correram com o Fulgêncio Baptista e toda a máfia americana dos jogos e dos
casinos. Depois o que aconteceu? Um país miserável dominado por uma elite
comunista liderada pelo Fidel Castro.
As massas são responsáveis por várias
carnificinas hediondas, com alguns milhões de mortos, ocorridas em países
africanos após a independência.
Portanto, quanto a “povo unido jamais
será vencido”, estou servido, pois estive em Angola antes e depois da
independência, e estava em Lisboa quando da revolução de 1974.
Dizem-me que tudo foi necessário para
se atingir a democracia, como se este sistema político fosse uma espécie de
paraíso sobre a Terra. Mas não é, e a democracia tem várias faces, algumas
delas ignóbeis – hoje serve essencialmente para a manutenção da exploração
do homem pelo homem, a depredação da Natureza, tendo o lucro como principal objetivo.
Voltando às eleições brasileiras que
se aproximam, certa vez perguntei a um amigo o que era isso de votar com
consciência, e ele olhou-me espantado, talvez pela minha ignorância ao não
saber o que era isso. E ele não foi capaz de explicar, deu-me uma explicação
atrapalhada que não explicava coisa nenhuma.
Bem, eu não sabia o que era, e
continuo sem saber o que é votar com consciência. Consciência de quê?
Para mim, que sou ignorante destas
coisas políticas, e ainda bem, as pessoas votam por diversas razões, sendo que
qualquer das razões tem mais a ver com os próprios interesses do que com a
consciência.
Há pessoas que votam ideologicamente.
Belo. São poucas, mas fieis às suas convicções ideológicas, sejam elas de
esquerda, do centro ou de direita. Assumem a ideologia como uma doutrina, algo
de religioso, capaz de suportar os mais ferozes revezes. Não desarmam perante
as investidas adversárias, perante os melhores argumentos. Discutir argumentos
políticos com elas é o mesmo que discutir com um crente evangélico – tarefa
impossível.
Outras votam por simpatia, porque o
candidato é bonito ou corresponde a algum arquétipo adormecido na sua mente.
Gostam de o ver na televisão ou em campanhas públicas, as mulheres achando-o um
“gato” e, quem sabe, talvez imaginando outras coisas, os homens
identificando-se com ele.
Muitos votam por interesses próprios –
com tal candidato eu posso conseguir isto e aquilo, a minha empresa pode
progredir com a ajuda desse candidato, ou, este candidato promete mais ajudas,
mais “bolsas”.
Há aqueles que votam por convicção,
não ideológica, mas achando que com determinado candidato as coisas que eles
acham essenciais na sociedade poderão começar a ser resolvidas. Estes são os
crentes, acreditam na honestidade dos políticos ou, pelo menos na honestidade
dos políticos em que eles acreditam.
A maioria vota por ignorância,
ignorância no mais amplo sentido. Não conhece os programas políticos, nem
procura informar-se. Não lê nada, quando muito a sua informação passa pelos
jornais televisivos, que pouco informam. Vota em determinado candidato porque
acha, ou lhe disseram que ele vai ganhar, e, portanto, gosta de votar no
vencedor. Não se interessa pelos reais problemas e vota também naquele
candidato ou partido que lhe ofereça mais garantias de que vai continuar a
receber auxílios sem que para isso tenha que fazer qualquer esforço ou
trabalhar.
Num sistema em que o voto é
obrigatório, o que, em meu entender, é uma atitude antidemocrática e que fere a
essência da democracia, pois não respeita o direito de alguém se abster e não
querer saber de eleições para coisa nenhuma, o voto da ignorância passa a ser o
voto maciço e decisivo, levando ao poder gente que, em outras circunstâncias
talvez não o atingisse.
Neste aspecto o sistema americano é
talvez mais inteligente. Não só o voto não é obrigatório, nem sequer é
obrigatório o recenseamento eleitoral, como a eleição do presidente não é uma
eleição direta, pois o presidente é eleito por representantes de cada Estado,
tendo cada um dos Estados mais representantes que outros, de acordo com a sua
importância e demografia.
Portanto, não existe voto com
consciência ou, essa consciência é movida pelos interesses pessoais de
cada um, nada tendo a ver com o interesse da sociedade.
Título e Texto: Manuel O. Pina
Colaboração: Cristina Freitas
O Voto obrigatório é democrático? Sim
ResponderExcluirNão Votar é democrático? Sim é possível: falte, anule e, ou, branco e aperte o botão porque é fantástico o sistema votação eletrônica em que o "Brasil é referência mundial nesse assunto, e os acordos de cooperação firmados entre sete países da America Latina e Caribe são uma oportunidade para o Brasil transferir conhecimento. O acordo não é para ceder equipamento ou transferir softwares, mas, sim, para transferir conhecimento, pois cada país tem sua realidade”,
Admiro toda sua sua experiência em Angola, em Portugal, mas os larápios políticos estão aí a roubar então vamos votar consciente contra a reeleição dos políticos e seus parças da putaria política brasileira. Voto pela renovação do quadro político por um pais melhor, pois que não é possível conviver sem a política.