quarta-feira, 1 de junho de 2011

Chega! Basta!

Roger-Gerárd Scwartzenberg publicou em 1977 "O Estado Espectáculo". O último parágrafo conforma um apelo lancinante às democracias: «Ouçam o rumor profundo, o rumor subterrâneo que vai crescendo para arrebatá-lo. Ouçam a indignação que vem oprimindo esses espectadores involuntários. Trapaceados, enganados, logrados. Ouçam o despertar e o estremecimento daqueles que o Estado espectáculo tem iludido. Ouçam o seu grito. Ele cabe numa palavra: ‘chega!’» De 1977 para cá a política, «feita de vaidade e gloríola», foi refinando. O Estado espectáculo assumiu proporções que nem Scwartzenberg adivinharia. O discurso político perdeu dimensão, valores, autenticidade e verdade. Converteu-se num produto concebido com base na métrica, na sonoridade e no efeito. A comunicação política deixou-se contaminar pelo marketing e misturou-se com o slogan publicitário. Transformou-se num vazio enorme. Hoje o importante é seleccionar uma mensagem apelativa – mesmo que falsa ou ilusória – e repeti-la à exaustão. Dita no tempo exacto para caber nas reportagens televisivas. Por isso, quem tiver lido o memorando celebrado entre o Estado Português e a ‘troika’ não pode ficar surpreendido com o discurso eleitoral de José Sócrates. O que poderiam ser mentiras torpes, promessas falsas, ilusões fraudulentas são, apenas, expressões desta retórica própria do Estado espectáculo. Espera-se ardentemente que a 5 de Junho se recorde o apelo de Scwartzenberg e se exclame nas urnas e massivamente: ‘chega!’
José Luís Seixas, Destak, 01-06-2011

Criação: http://wehavekaosinthegarden.blogspot.com

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