sábado, 29 de abril de 2017

[Aparecido rasga o verbo] O Povo com a boca no trombone. (Parte 3)

Aparecido Raimundo de Souza

Solução infalível
O comerciante Edmilson Bronca Solta, do bairro dos Pirados da Virada, está furioso com a Viação Cata Corno. Quer saber que tipo de providências o município tomará contra os motoristas que causam transtornos no trânsito e, em alguns casos, culminando com acidentes gravíssimos.

“Diariamente há problemas na Avenida dos Sufocados, porque os motoristas não respeitam os limites de velocidade. Outro dia, um ônibus foi parar nos aposentos de uma velhinha. A pobre senhora, de noventa e nove anos, quase teve um AVC, pois não se lembra de ter convidado esse coletivo (ainda mais superlotado, com pessoas saindo pelas janelas) para irem visitar seu humilde quartinho”.

Resposta: A Prefeitura Municipal emitiu nota esclarecendo que enviou a reclamação do senhor Edmilson para o gerente da empresa para uma solução plausível. A Secretaria de Transportes e Trânsito, por sua vez, orienta à grande massa desse bairro, para detalhar minuciosamente as ocorrências, com informações precisas, como a placa do veículo, o número de ordem, ou de série, a cor dos olhos do trocador e se o motorista usava óculos escuros ou se falava ao celular. Devem ser anotados, ainda, o número do chassi, a Identidade e o CPF do condutor do coletivo e, se possível, com seu endereço de residência, aí incluindo o nome da esposa, sogra e filhos, não esquecendo o horário em que foi constatada a irregularidade, para que esses cidadãos possam ser identificados e advertidos. Se a confusão persistir, que a população se reúna em pequenos grupos e deprede os ônibus, fazendo um quebra-quebra para chamar a atenção da imprensa e das autoridades responsáveis.

Churrasco esquisito
O sindico do Edifício Coração de Mãe (Avenida Dos Passarinhos, Bairro Colibri), Valdo Odlav, reclama da presença de um churrasqueiro que se instala todos os dias, a partir das 18 horas sob a marquise do prédio e ali permanece até às duas da manhã.

“Os condôminos estão incomodados com a fumaça – diz ele – sem contar com o cheiro fétido que permanece no ar. Pela manhã, os proprietários encontram restos de comida, palitos com pedaços de carnes, ratos, baratas, formigas, além de muita sujeira. O morador do 101, foi à polícia e registrou queixa pelo desaparecimento do gatinho de estimação de sua filha. Igualmente, o residente do 704 deu falta de dois cachorros da raça pink, e a dona Luciana do 905 esbravejou em face do meio quilo de linguiça que guardava num freezer”.

Resposta: O Coordenador Regional de Fiscalização, Roberto Rupreste, informa que fiscais retiraram todos os ambulantes das principais avenidas, mas que o órgão encarregado só trabalha até às 17h. Depois desse horário fica difícil flagrar os infratores. Roga ao senhor Valdo e aos demais inquilinos, que registrem tudo com filmagens e fotografias e envie para o setor de fiscalização da prefeitura o mais urgente possível. As imagens e todo o material recebido serão analisados e, se procedentes, o jurídico notificará o condomínio e seus domiciliados para que tomem as devidas providências no sentido de legalizar o churrasqueiro.

Café saboroso
Ansioso para chegar em casa e tomar um café quentinho junto com a esposa e os filhos, o tenente PM João Atira Sem Mandar, da Casa Verde, entrou no supermercado Mãos no Bolso e Calado, no Jabaquara e comprou um pacote da marca Bom Até o Fim.

“Quando fui experimentar, tinha gosto de barata. É a terceira vez que isso acontece. Assim não dá”.


Resposta: O Gerente de Marketing e Publicidade das Mãos no Bolso e Calado esclareceu que o café vem embalado a vácuo, o que impede qualquer tipo de contaminação.

“O problema se realmente detectado é repassado ao fabricante, mas foi a primeira vez que recebi tal reclamação”.

A Gerência de Qualidade do Café Bom Até o Fim garante que o produto é fabricado dentro dos mais altos padrões de tecnologia existentes. Para início de conversa, o pó é torrado e moído no ponto certo. Contém 100% de café puro, 10% de barata ralada e 5% de bosta de lagartixa, sem qualquer outro tipo de aditivo não cadastrado, sendo inclusive certificado pela ABIC por meio de selo de qualidade.

“O Controle de qualidade, por sua vez, é rigoroso desde a seleção da matéria prima à escolha das baratas que vão ser torradas e adicionadas junto, bem como o excremento das lagartixas. O processo de produção impede a contaminação. O Consumidor não procurou o SAC da empresa. Se isso tivesse ocorrido, descobriria que o SAC só existe na imaginação dos otários. Na prática ninguém jamais ouviu falar, porque o povo, de um modo geral não importa em saber se essa porcaria existe, e se existe qual a verdadeira finalidade”.

Todavia, conclui, “um funcionário irá até a residência do reclamante para recolher o produto para uma futura investigação, o que leva de dez a doze meses para uma resposta concreta. O ideal é que a pessoa que se sinta lesada, tenha um pacote fechado do mesmo lote, já que, a partir da embalagem aberta, a avaliação e conclusão ficam comprometidas, caso seja aberta uma CPI”.

A conta vem depois
O aposentado José Chora Mas Não Consegue, de Cachoeira das Mamatas quer saber quando as Ruas São José e Tibiriça Troncuda receberão calçamentos.

Resposta: A Secretaria de Serviços Urbanos, na pessoa da senhora Futriqueira Bombaza, informa que não há previsão para pavimentar as ruas desse bairro, pelo menos este ano.

“Moradores devem realizar reuniões e definir os logradouros que precisam receber melhorias com mais urgência, e a partir daí, contratarem uma empresa por conta própria e mandar realizar os serviços, rateando as parcelas na “vaquinha entre amigos”. Depois dos serviços concluídos o órgão responsável mandará um inspetor fazer um relatório e, por fim, se tudo estiver nos conformes, a conta chegará às mãos dos moradores no próximo carnê do IPTU”.

Cemitério estranho
O morador Rufião Rufido da Mota, reclama que mora no Residencial dos Gansos Sapecas. Que a varanda de seu apartamento (juntamente com outras), fundeia com o cemitério municipal, aliás, o único daquela localidade. À noite, depois das 23h, diz seu Rufião, os defuntos saem de seus respectivos jazigos para fumarem e beberem. Outros praticam sexo com suas caveiras, deitados em cima das sepulturas e campas.


“Ontem mesmo tinha um desgraçado de um falecido gritando, a plenos pulmões, que iria convocar os demais inquilinos do campo santo, para, em passeata, irem até a administração, reclamar dos túmulos depredados pelos noiados e vagabundos que, depois das 18h, deixam as ruas e avenidas para dormirem e fazerem suas necessidades fisiológicas nas covas que são abertas durante o dia, para receberem novos corpos a serem enterrados. Nosso sossego acabou -, completa seu Rufião, desesperado”.

Resposta: A administração do cemitério, através do senhor Mongol Sisudo, informou que está tomando todas as providências, para pôr um fim definitivo nesse problema. Contudo, até agora, não conseguiu uma equipe para vistoriar o local, depois desse horário. “Difícil achar pessoas que encarem adentrar num cemitério depois das 23h”. Com relação ao suposto extinto, que alegou procurar a administração, em passeata, o senhor Mongol Sisudo ressaltou que “está aberto ao diálogo com qualquer dos moradores das duas mil novecentas e dezoito campas, inclusive com o pessoal dos ossuários e das catacumbas recém-ocupadas”.
Título e Texto: Aparecido Raimundo de Souza, jornalista. Do sitio “Shangri-Lá”. 29-4-2017

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