Aparecido Raimundo de Souza
Essa história da inconfidência
mineira nunca me cheirou bem. Quando ainda era pequeno e frequentava o grupo
escolar, até que dava para engolir: o professor contava que um menino muito
pobre e que atendia pelo nome de Joaquim José da Silva Xavier havia nascido na
fazenda do Pombal, em 1746, perto de São João del Rei, em Minas Gerais. Que aos
nove anos perdeu a mãe e, desde então, ficara aos cuidados de seu padrinho,
Juarez, um especialista em fabricar dentaduras postiças para madames ricas e
bem cotadas na corte.
Foi com esse homem, Juarez,
seu padrinho, que Xavier aprendeu o ofício que mais tarde lhe daria o apelido
pelo qual ficaria conhecido em todo o planeta. Assim cresceu o garoto Joaquim,
como dentista prático. Antes foi mascate, mas não teve muito sucesso porque vendia
precatórios fiados, do governo português, a gente que não o pagava. Diziam, à
boca miúda, que nem o diabo conseguiu ver a cor do dinheiro desses precatórios.
Todavia, pela habilidade de extrair dentes ganhou dinheiro, até porque além de
muito jeitoso sabia tratar de seus clientes com remédios feitos de plantas.
Algum tempo depois ingressou na carreira militar e passou a servir como alferes
no Regimento Real da Cavalaria.
Por essa época, conheceu José
Álvares Maciel, que tinha acabado de chegar de Portugal onde terminou seus
estudos. Foi a partir daí que Joaquim tomou os primeiros contatos com as ideias
de liberdade que Maciel trouxera da Europa. Envolvido por elas, Xavier passou a
fazer parte de um grupo que defendia a libertação do Brasil das garras de
Portugal. Muito bonitinha a historinha do professor dos meus tempos de guri.
Contudo, uma trama mentirosamente ordinária. Ainda hoje me questiono: quem eram
os outros?!
Os livros que passei a ler
depois de ter saído do grupo escolar citam os poetas Cláudio Manuel da Costa,
Inácio José de Alvarenga Peixoto e Tomás Antonio Gonzaga. Mencionam os padres
Carlos Correia de Toledo e Melo, José de Oliveira Rolim e Manoel Rodrigues da
Costa. Autores os mais variados apontam, nas entrelinhas, alguns nomes de militares
de carreira, com destaques para o tenente-coronel Francisco de Paula Freire de
Andrade, os coronéis Domingos de Abreu e Joaquim Silvério dos Reis e o Zé Mané
(antigo alferes) Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, que é o homem que
nos interessa.
Noto que os autores e
pesquisadores (a maioria deles) usam o termo “alguns militares”, omitindo o
primordial: os nomes de batismo pelos quais essas pessoas eram ou ficaram
conhecidas. Isso deixou no ar um mistério indecifrável.
Desta cambada toda, como se
depreende dos compêndios existentes, só o Tiradentes (quando a bomba estourou e
as paradas estranhas que eles faziam na moita vieram à tona), recebeu a pena
máxima: morrer enforcado. Tudo aconteceu no fatídico 21 de abril de 1792,
quando o pacato cidadão Joaquim José gozava o albor dos 50 anos.
É importante lembrar que um
dos companheiros dele, de luta, o poeta Cláudio Manuel da Costa, igualmente
apareceu enforcado na Casa dos Contos, em Vila Rica. Não se sabe, todavia, se
com a mesma corda. Vamos fazer uma pequena parada e aproveitar a oportunidade
para abrir um parêntese: qual o dia exato que o Cláudio pôs fim à vida? E por
que sua morte não teve a mesma repercussão que a do mentor intelectual,
Tiradentes? Cláudio também era famoso,
talvez até mais que Tiradentes. Tenho para mim que o Cláudio passou desta para
melhor nas mãos do mesmo carrasco que estuprou o pescoço de Tiradentes, o
Capitania.
Bem, e os demais? Cadê o
Inácio, o Tomás, os padres e até os militares? O que realmente aconteceu a todos
eles?! E olhem que naquela época não existia a polícia pacificadora dos morros,
que tempos atrás desapareceu com o Amarildo.
Tudo bem, que a rainha de Portugal comutou a pena de alguns e que esses
“alguns” foram condenados ao degredo perpétuo. Pelo amor de Deus, minha gente,
para onde esses elementos foram degredados? E por que só o Tiradentes teve a
pena mantida?
Vejamos alguns pontos
importantes e falhos nessa confusão toda:
1) A rainha não gostava de
Tiradentes porque o aprendiz de dentista ao lhe obturar um canal cobrou muito
caro pelo serviço;
2) A rainha namorava um dos
poetas e, Tiradentes, de olho na rainha fez queixa dela ao Joaquim Silvério dos
Reis;
3) Joaquim Silvério dos Reis
era homossexual assumido e queria dar o caneco para Tiradentes, mas o bom moço,
por não ser chegado em Silvério, recusou a oferta e preferiu traçar um dos
padres;
4) Cláudio Manoel da Costa,
antes de morrer enforcado jurou que mataria o Visconde de Barbacena e jogaria a
culpa em Tomás Antonio Gonzaga;
5) Rolim queria só para si o
Quinto do ouro e a Derrama. Pretendia sequestrar a rainha só para ficar famoso
e proclamar sozinho, a independência, deixando os demais colegas da
inconfidência, como nós brasileiros, a ver navios;
6) O coronel Francisco de
Paula deu uma banana bem grande para todo mundo, xingou a rainha de Hebe
Camargo, fez careta para o governador e rasgou em pedacinhos a bandeira símbolo
dos inconfidentes, cujo lema era: “LIBERTAS QUAE SERA TAMEN”, que traduzido do
latim para o português seria: “LIBERDADE, AINDA QUE TODOS SEJAM MANDADOS PARA O
QUINTO DOS INFERNOS”.
Todavia, de acordo com as
velhas cartilhas escolares, o traidor, o vilão, o filho da puta, nessa encrenca
toda, foi de fato e de direito, o Joaquim Silvério dos Reis. O cara entregou um
por um, os seus amigos, se livrou de uma dívida maior que a do Brasil com o FMI
(que dívida seria essa?), ganhou um pequeno patrimônio perto de São João del
Rei, desposou a filha mais velha do Visconde de Barbacena, a Lucrécia de
Barbacena e ainda foi assistir o Tiradentes faturar o pescoço com direito a
esquartejamento etc., etc. e tal.
Precisavam, claro, de um pato,
perdão, de um herói. Aliás, só faltava um herói para virar mártir e ser coroado
como tal. Escolheram, então, o Tiradentes, porque era o mais humilde. Não nos
esqueçamos que os outros eram pessoas bastante ricas e de elevada posição
social. A história não faz alusão, mas, um dos inconfidentes, tinha parentesco
com Fernando Henrique Cardoso e um dos padres havia fundado recentemente o PCC –
Primeiro Comando da Corte, cujo chefão era conhecido como Jader Barbalho.
Assim, Tiradentes morreu como
mártir. Sua cabeça se viu de repente separada do tronco. As partes de seu
esqueleto (inclusive aquelas proibidas) que foram igualmente esquartejadas e previamente
salgadas (para evitar a aproximação dos urubus) restaram fincadas em estacas e
expostas nas cidades onde a criatura havia feito propaganda do movimento. Seu
crânio, com um boné do MST colocado numa gaiola e enviada para Vila Rica. No
trajeto até essa cidade (contam os policiais incumbidos de seu traslado), mesmo
presa na gaiola, a tal cabeça arregalou uns dentes brancos e bem cuidados e
cantou, com voz meio rouca, devido a corda, com toda certeza, o Hino Nacional
de ponta a ponta, sem errar uma estrofe.
Interessante, hoje, tantos
anos depois de finalizado o drama da inconfidência, se olharmos ao nosso redor,
ou para o mundo que nos cerca, chegaremos à conclusão, entre espantados e
aflitos, entre boquiabertos e pasmos, que não temos um Joaquim José da Silva
Xavier. Em contrapartida, dispomos de um leque enorme de Joaquins Silvérios dos
Reis espalhados pelos quatro cantos. Não temos, repetindo, nenhum Tiradentes,
podem estar certos. Mas, com certeza acharemos muitos Joaquins Silvérios pelas
esquinas, ou pelos botecos da vida... Ou mesmo no Senado, na Câmara, nos
Palácios...
Apesar dos pesares, dispomos
dos nossos melhores representantes no Congresso, na Câmara, no Senado, figuras
que todo dia procuram um jeito (o famoso jeitinho brasileiro) de passar uma
corda em torno do nosso pescoço, ou melhor, dos Manés e Otários que se vendem
por uma cesta básica.
Só falta, agora, para
completar o grande circo, alguém lá da Capital do País (quem sabe o Temer)
arranjar um sujeito macho, com a cara do tal Capitania, igual ou pior que o da
história dos meus tempos de grupo escolar. Todavia, para que eu realmente
acredite na lorota do boçal do Tiradentes e da porra da historinha mentirosa da
Inconfidência, o sujeito precisa ser carrasco e exibir diante de meus olhos as
cabeças de Fernandinho Beira Mar, do Lalau, do Renan Galheiros, Eduardo Campos,
o pessoal do Comando Vermelho, do PCC, e, de contrapeso, de alguns menores
infratores (e, junto com essas cabeças, alguns padres pedófilos disfarçados de
santos do pau oco). Se eu conseguir enxergar com estes olhos que a terra um dia
comerá, a carteira de trabalho do Capitania devidamente assinada pelo Ministro
do Trabalho, ou qualquer outro manda chuva, por exemplo, talvez eu dê o braço a
torcer e engula a balela de 21 de abril. Assim como toda essa cambulhada de
imbecis estão engolindo agora o Temer e um possível retorno de Lula, em 2018,
figuras renascidas do inferno, como aquela ave esquisita que surgiu do meio das
cinzas, e como não tinha nada o que fazer, peidou de Fênix e entrou para o
seleto grupinho dos imortais, perdão, imorais.
Ah!... Quase esquecia: ISTO
AQUI É BRASIL, UM PAÍS DE TOLOS!
Título e Texto: Aparecido Raimundo de Souza,
jornalista. De Vila Velha no Espírito Santo. 21 de abril.
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