Igreja de Nossa Senhora do Carmo, na Rua Sete de Setembro, completa 183 anos na próxima quinta-feira (18)
Altair Alves
A cerimônia que transformou D. Pedro II no imperador do Brasil, que completa 183 anos nesta semana, aconteceu na Igreja Nossa Senhora do Carmo da Antiga Sé, monumento no Centro do Rio onde também ocorreu a coroação do pai dele, D. Pedro I, e a aclamação de D. João VI. Por lá, também ficam guardados os restos mortais do navegador Pedro Álvares Cabral, assim como Joaquim Arcoverde, o primeiro religioso a ter o título de cardeal na América Latina. Trata-se também da antiga Catedral da Cidade, substituída nos anos 70 pela atual, em estilo moderno.
Igreja que encabeça a lista de favoritas das noivas no Rio de Janeiro (Apenas no ano passado, foram mais de 40 celebrações), a Nossa Senhora do Carmo da Antiga Sé, localizada na esquina da Rua Sete de Setembro com a Rua Primeiro de Março, já serviu como pano de fundo de batalhas, casamentos e intrigas em um tempo em que política e religião caminhavam de mãos dadas. Lá também foi batizada a Princesa Isabel, redentora dos escravos no Brasil.
A primeira construção do lugar
foi uma capela dedicada à Nossa Senhora do Ó, erguida ainda no
século XVI. Os pescadores buscavam bênçãos antes de saírem para o mar.
Escavações no prédio revelaram que o local também foi espaço de guerras, com a
existência de paliçadas, uma espécie de cerca defensiva usada em conflitos.
No começo do século XVII, mais
precisamente em 1619, começou a construção de um convento ao lado da então
capela, por frades beneditinos. Uma nova igreja começou a ser erguida em 1761,
em estilo rococó. A igreja e o convento permaneceram unidos até o século XIX,
quando foi aberta uma rua para o escoamento de água.
Não por acaso, a via tinha o nome de Rua do Cano. De acordo com a Prefeitura do Rio, o local passou a ter o nome atual — Rua Sete de Setembro — depois de um decreto em outubro de 1917. A Rua Primeiro de Março, que antes era Rua Direita, também teve o nome alterado no mesmo ano.
Com a chegada da Família
Real Portuguesa ao Rio de Janeiro, em 1808, Com D. João VI, ainda
príncipe regente, instalado no que passou a se chamar de Paço Imperial,
o lugar foi elevado ao posto de Capela Real.
A então Rua Direita, que
separava o Paço da igreja, não era simplesmente atravessada pela realeza. Foi
erguido um passadiço, que era usado no deslocamento até o convento, então
ligado à construção e, por dentro, a família real chegava até os balcões mais
altos da igreja, de onde assistiam a cerimônia.
D. Maria I passou
a viver em um aposento do convento. Lá ela morreu, em 1816. Na igreja aconteceu
a missa de corpo presente ao som de música sacra composta para este fim pelo
célebre compositor Padre José Maurício, assim como a sagração do príncipe
regente, que passou para a história como D. João VI.
A igreja se transformou no
palco de alguns dos principais acontecimentos do Império, como as coroações de
D. Pedro I e D. Pedro II.
Assim, a Igreja de Nossa
Senhora do Carmo da Antiga Sé se tornou o cenário de várias pinturas que
retrataram essas figuras históricas em situações de poder. Como no retrato de Jean
Baptiste Debret da coroação de D. Pedro I que, atualmente, faz parte
do acervo do Palácio Itamaraty. Outro exemplo é a coroação de D.
Pedro II, pintada por Manuel José de Araújo Porto Alegre.
Lá também aconteceram as
bençãos dos casamentos de D. Pedro I com a imperatriz Leopoldina e com Amélia
de de Leuchtenberg, e de D. Pedro II com a imperatriz Teresa Cristina. Também
ocorreu lá o casamento da Princesa Isabel com o Conde D’Eu em 1864.
O status adquirido ao longo
dos séculos pela igreja não foi apenas conquistado por nobres, mas por gente
comum, como José Maurício Nunes Garcia, que a usou como espaço para exibir o
próprio talento.
Negro, descendente de
escravos, ascendeu graças à carreira na igreja e foi nomeado mestre de capela
durante o tempo que a família real portuguesa esteve no Brasil. Encantou D.
João VI, que foi grande admirador do seu talento.
A velha catedral – também
Capela Real de Portugal e Imperial do Brasil – se transformou em um dos
principais cenários para a exibição da obra de um dos mais importantes
compositores da história da música brasileira. Onde hoje se vê São Sebastião em
sua fachada frontal, havia o gigantesco brasão do Império Brasileiro,
substituído nos anos 20, para o centenário da independência do país.
Com a chegada da República, a
igreja seguiu como Sé, status que manteve até 1976, quando foi inaugurada a
atual Catedral Metropolitana.
O interior da é classificado
como sendo de estilo rococó, mas com fachada de estilo eclético. Ela,
inclusive, foi finalizada em 1922. O local se sustenta com a realização de
eventos e doações.
A Igreja de Nossa Senhora do
Carmo da Antiga Sé é tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico
Nacional (Iphan) em dois registros diferentes: pela importância histórica e
artística.
Título e Texto: Altair Alves, Diário do Rio, 14-7-2024
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