J.R. Guzzo
O presidente Lula, depois de pensar durante quatro dias inteiros, chegou à conclusão de que estava “assustado” com um dos seus grandes modelos de virtude política, o amigo, parceiro e ditador Nicolás Maduro. Não era para menos. Maduro, num dos destampatórios mais neuróticos que já conseguiu produzir em cima de um palanque, ameaçou com todas as letras “um banho de sangue” e “uma guerra civil”, pelo menos, se não ganhar as eleições do próximo domingo na Venezuela. Quem poderia imaginar uma coisa dessas, não é mesmo?
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Lula recebeu Maduro no Palácio do Planalto com honras de Estado em 2023. Foto: André Borges/EFE |
Lula e o PT-PSOL, há pelo menos dez anos, são possivelmente as maiores macacas de auditório que Maduro tem no mundo. O problema da Venezuela, segundo Lula, é ter “democracia demais”. Os crimes, a fome e a calamidade sem precedentes que o ditador provocou na Venezuela são culpa, de acordo com Lula e o seu profeta diplomático Celso Amorim, do “bloqueio econômico” aplicado pelos Estados Unidos. Como ele vai, agora, fazer uma coisa dessas e deixar os amigos com a brocha na mão?
No Brasil de hoje, quando Maduro e Lula se desentendem, um dos dois
está traindo o outro – ou ambos estão conseguindo se trair ao mesmo tempo
Maduro tornou-se a pior humilhação que Lula já teve em sua ideia fixa de ser um “líder mundial”. Foi recebido no Brasil com tapete vermelho, quando está com a cabeça a prêmio no resto do mundo por tráfico internacional de drogas. Fez dívidas que não paga e que Lula não cobra. É furiosamente bajulado pelos magnatas do governo. Mas justo agora, quando Lula está se submetendo aos papéis mais sórdidos para sustentar que a Venezuela é uma linda democracia, seu amigo vem e lhe faz uma crocodilagem dessas, com a história do “banho de sangue”.
Ficou difícil até para Lula –
que apoia as prisões políticas, a tortura, a censura, a miséria e todas as
desgraças que o seu aliado comanda na Venezuela, mas não tem coragem para lhe
dar a mão na hora em que ele sobe no trampolim para poluir a piscina, em vez de
disfarçar ficando na água. O resultado é essa palhaçada que está aí. No começo
Lula se escondeu – não falou nada sobre o surto de Maduro. Depois achou que
seria pior ficar quieto, e resolveu se declarar “assustado” com as ameaças.
Levou um contravapor em regra do tirano – e agora está aí feito um tonto, sem
ter ideia do que fazer.
Maduro não perdeu tempo para
enviar seu cala-boca a Lula. Disse que se ele estava assustado, devia tomar um
chá de camomila e não encher mais a paciência. Pior: disse que o sistema
eleitoral do Brasil não permite a auditoria dos votos, ou seja, é uma fraude
geral. Foi um momento de puro horror. Quer dizer que Maduro, o herói de Lula,
do PT e do Itamaraty, está dizendo a mesma coisa que Bolsonaro disse – e pela
qual foi declarado inelegível pelo TSE até 2030?
Sim, quer dizer isso mesmo, e aí o presidente da República, o TSE do ministro Alexandre de Moraes e a “suprema corte” (que considera como “golpe de direita” qualquer crítica às suas preciosas urnas), ficam vendidos e mal pagos. No pânico, o TSE suspendeu o envio à Venezuela dos dois “observadores” que iriam lá para validar a fraude maciça que têm sido essas eleições – duas candidatas da oposição proibidas de concorrer, prisão de opositores, censura, sabotagem aos votos dos 4,5 milhões de eleitores venezuelanos que tiveram de se exilar do seu país, cédulas de votação em que o nome de Maduro aparece treze vezes, e por aí afora.
O ditador proibiu a presença
de fiscais independentes nas eleições; estava pronto para dizer que os
observadores do TSE iam atestar a honestidade do processo, junto com o MST, o
Black Lives Matter, o Hamas, os aiatolás do Irã e outros paradigmas da democracia
mundial. Vai ter agora de fazer a sua fraude sem a colaboração direta e oficial
do governo do Brasil – ou apenas com o aval do ministro-de-fato Celso Amorim.
Dizia-se, num Brasil que há
longo tempo não existe mais, que quando pobre comia galinha um dos dois estava
doente. No Brasil de hoje, quando Maduro e Lula se desentendem, um dos dois
está traindo o outro – ou, mais provavelmente, ambos estão conseguindo se trair
ao mesmo tempo.
Título e Texto: J. R. Guzzo,
Gazeta do Povo, 25-7-2024, 14h44
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