Rodrigo Constantino
Dois dias após sofrer um atentado que só não tirou sua vida por poucos milímetros e um milagre divino, Donald Trump apareceu na convenção do Partido Republicano com curativo na orelha para ser consagrado o candidato oficial nesta eleição. No mesmo dia, ele anunciou J.D. Vance [foto] como seu vice na chapa. O jovem senador de Ohio foi recebido com entusiasmo pela base do MAGA, o movimento trumpista no partido.
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Foto: Michael Reynolds |
Vance ficou nacionalmente
conhecido por sua memória que virou best-seller e filme na Netflix, Hillybilly
Elegy, que retrata a desesperança de uma classe média baixa presa na rotina sem
muitas expectativas e com inúmeros problemas familiares, como o uso de drogas e
agressões físicas.
É uma chapa MAGA turbinada, de quem deseja real mudança na política
americana. E por ser tão jovem, Vance poderá se colocar como liderança
republicana por muito tempo ainda
Só vi o filme nesta segunda, e é muito tocante e inspirador. O sucesso profissional e familiar de Vance é o atestado do "American Dream". Os "especialistas" não gostaram, pois o filme não elogia o papel estatal em seu "bem-estar social". Mas o público adorou, pois mostra como a atitude individual pode fazer toda a diferença. Vance é um patriota, trabalhador, inteligente, e deu a volta por cima, atingindo grande sucesso em sua carreira por mérito próprio.
Em 2016, ele foi bem duro com
Trump. Muitos do partido foram, por desconfiar de suas credenciais
republicanas. Vance chegou a embarcar na narrativa de que Trump era uma espécie
de Hitler americano. Logo depois, porém, ele passou a analisar as políticas do
governo e endossar o presidente. Nos últimos anos, Vance era um dos mais leais
apoiadores de Trump, sempre com sua postura combativa.
Por isso, Joe Biden o definiu
como um "clone de Trump". Essa vai ser a pegada dos democratas. E, de
fato, a escolha de Vance não fala com os mais moderados, não busca qualquer
união ou contemporização. Vance é duro contra o aborto, a imigração ilegal, é
um dos maiores defensores de Israel no Senado, critica o apoio incondicional e
pouco transparente do governo Biden a Zelensky na Ucrânia e não acena para a
seita ambientalista.
Tampouco Ohio é um "swing
State", ou seja, Trump não precisava de Vance para conquistar votos
indecisos. E sua escolha, na prática, pode até afastar eventuais votos de
independentes ou moderados, que não gostam de Trump, mas poderiam votar nele
por repulsa ainda maior ao governo Biden. Trump, enfim, não fez sua escolha
pensando em angariar mais votos. E isso diz muito sobre seu estado de espírito
quanto às chances de vitória em novembro.
Trump está muito confiante
nesta vitória, e pensou no pós-eleição. Provavelmente não queria mais um
republicano tradicional ligado ao establishment, como Nikki Haley, que poderia
traí-lo no governo. Tampouco parece disposto a fazer concessões demais ao centro
para governar. Se seu lema antes era "drenar o pântano" em
Washington, então Trump dobrou a aposta com a escolha de Vance.
É uma chapa MAGA turbinada, de
quem deseja real mudança na política americana. E por ser tão jovem, Vance
poderá se colocar como liderança republicana por muito tempo ainda. Ou seja,
Trump, o "narcisista egoísta", pode ter pensado mais no futuro da
nação do que na próxima eleição. Postura de estadista...
Título e Texto: Rodrigo
Constantino, Gazeta do Povo, 16-7-2024, 12h21
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