Luís Naves
Enquanto o povo quer mudança,
as elites convenceram-se de que não existe povo. A frustração dos eleitores não
tem a ver com os problemas das classes populares (na visão superior, estas não
existem), mas com a incompreensão dos altos valores burgueses. Segundo esta
ideia, a exclusão justifica-se e a política passa a ser um caso de bem contra o
mal. A comunicação social participa alegremente e deixou de fazer perguntas.
A globalização, a grande recessão, a pandemia e a guerra da Ucrânia tiveram terríveis consequências na vida de milhões de cidadãos dos países ocidentais, mas o sistema político e mediático recusa-se a reconhecer o aumento das desigualdades e o abandono das classes trabalhadoras. Tornou-se uma impossibilidade contestar a ortodoxia ocidental, apesar desta mostrar crescentes fissuras. Quem o fizer, recebe os piores rótulos, perde amigos, não publica, será insultado e socialmente ostracizado. As liberdades estão a encolher.
Perante a revolta eleitoral
popular, as elites exibem crescentes sinais de pânico. Falar de paz na Ucrânia,
por exemplo, merece o anátema, é como invocar demónios. O massacre deve
continuar até ao último ucraniano. Nunca até hoje compreendi a frase de Jesus
Cristo em Mateus 5,9: “Felizes os pacificadores, porque serão chamados
filhos de Deus”. A sabedoria parecia-me demasiado óbvia, mas agora entendo
que a paz é das coisas mais difíceis de conseguir e mesmo pessoas razoáveis
podem ser contra ela. Há sempre argumentos, não é oportuna, beneficia o
infrator, perturba os equilíbrios mundiais. Claro que ninguém fala nos
interesses que justificam a continuação da guerra, são sempre a moral e os
altos valores que a justificam. Nunca é o dinheiro ou a hipocrisia, há sempre o
diabo no outro lado.
Título e Texto: Luís Naves,
Delito de Opinião,
17-7-2024
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