Pedro Martins afirmou que troca na SAF prejudicou Álvaro Pacheco e revelou esforço de Pedrinho por viabilidade financeira
França Fernandes
Dez dias depois de se despedir do Vasco, Pedro Martins [foto] avaliou sua passagem pelo clube em entrevista ao “Charla Podcast”. O ex-diretor executivo disse que a troca no comando da SAF, com o afastamento da 777 Partners pela Justiça, causou instabilidade no ambiente do futebol e impactou no desempenho do treinador Álvaro Pacheco, demitido depois de quatro jogos.
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Foto: Leandro Amorim/Vasco |
– No momento em que a
negociação avança, vem a medida judicial que tira a 777 do poder e entra o
clube associativo. Ele me liga: “Embarco ou não embarco?”. Essa decisão gera
uma instabilidade no ambiente interno que é natural. O Pedrinho fez um esforço
para acelerar o processo de apaziguar os ânimos. Mas achar que isso não
impactou no trabalho do Álvaro beira a inocência. Foi impactado pela incerteza
e pelo processo de adaptação dele ao futebol brasileiro. Estreou tomando uma
goleada do Flamengo. Ele pegou um ambiente de troca de dono e os dois primeiros
jogos contra Flamengo e Palmeiras. Esse processo de troca de dono via justiça é
incomum – disse Pedro.
– Minha avaliação pessoal era
que deveria ter dado um pouco mais de tempo para que a estabilidade da
organização o ajudasse. Iria gerar resultado? Não sei. Ninguém imaginaria que
iria tomar 6 do Flamengo. A saída do Álvaro teve um impacto, mas minha saída
não foi só por isso. Falei: “Não concordo com a saída do Álvaro, mas minha
permanência aqui não vai mais funcionar”. A gente vai gastar energia errado.
Entendendo que seria necessário o clube ter um pouco de paz, eu fiquei mais 15
dias para passar as funções e terminar algumas negociações. Foi uma transição
pacífica porque eu acho que o Vasco precisa de paz para apresentar resultado –
acrescentou o dirigente.
Pedro Martins também comentou a negociação com Philippe Coutinho, que começou de forma paralela, com conversas da 777 e do presidente Pedrinho. O dirigente ainda falou sobre a relação com Payet, jogador que ele considera muito diferenciado.
– Quando o Pedrinho assume, a
gente une forças. Existiam duas conversas acontecendo, ainda muito informal.
Pela relação que o Pedrinho tinha com a família do jogador, acelerou. Era um
interesse do Vasco, independente de lado, e do Coutinho. Se fosse para ele
tomar uma decisão financeira, não seria o Vasco. Ele queria voltar a vestir a
camisa do Vasco, fazia sentido para ele em termos de planejamento de carreira –
afirmou Pedro Martins, que completou:
– Payet tem uma mentalidade de
entender o contexto que é fora do normal para a média dos atletas. Ele entende
com tranquilidade para onde o clube está indo, as decisões que estão sendo
tomadas. É outro caso de jogador que quer estar no Vasco. Ele poderia ter ido
para outro lugar, mas ele tem uma sede por competir e acredita que o futebol
brasileiro pode oferecer isso. Ele sofreu com esse período de turbulência.
Agora, a tendência é que ele volte a ter o futebol potencializado. Ele é muito
acima da média. Não acho que vencimentos atrasados (direitos de imagem)
impactaram. Em nenhum momento isso foi tema principal ou afetou o jogo dele. Eu
falava muito com o empresário dele para dar uma solução, e acho que o Pedrinho
conseguiu isso.
Pedro Martins viveu no Vasco
sua experiência mais curta em um clube. O diretor de futebol ficou no cargo
menos de dois meses. Anunciado no dia 1º de maio, ele teve como primeira tarefa
procurar um novo treinador após a saída de Ramón Díaz. Depois de duas semanas,
o executivo e o ex-CEO Lúcio Barbosa contrataram o português Álvaro Pacheco.
Entrevista com a 777
Partners
– Falei com o Lúcio, com o
Nicolas e com o Johannes. Eles me ligam falando sobre o aprendizado que eles
tiveram com o que foi acontecendo desde que chegaram ao Vasco: “A gente cumpriu
uma etapa, que era permanência no primeiro ano, e agora a gente precisa tomar
algumas decisões mais alinhadas com o futuro”. Queriam reequilibrar o elenco
com relação à chegada de novos talentos, fazer um investimento importante na
base, estruturar as categorias para formar mais jogadores, reequilibrar a folha
salarial, porque na visão deles o dinheiro estava mal distribuído. Fiquei
seguro de que faria sentido esse meu próximo passo e que estava chegando o fim
do ciclo no Cruzeiro.
– Eles pedem ajuda para
operacionalizar o departamento de futebol. As conversas com a 777 foram todas
pensando no futuro do Vasco. Ajudar a organizar a primeira equipe e formar um
clube com capacidade de vender jogadores para o topo da cadeia.
Busca por um novo treinador
como primeira tarefa
– Quando eu chego eu sou pego
de surpresa com a questão do Ramón Díaz. Eu chego tendo que entender o
ambiente, as pessoas, tirei muito tempo para conversar com todo mundo e
identificar o perfil de treinador. O que me dizem é que ele pediu demissão
dentro do vestiário e não sei o que houve de arrependimento depois para eles
falarem o que falaram. Chego com o Rafael Paiva como interino. Em contato com a
777 todos os dias, definindo perfil e orçamento, eles queriam um time mais
agressivo, que entregasse um jogo mais vertical. Dentro dessa linha, a gente
lista os principais treinadores e consultamos de maneira informal para chegar
numa lista menor. Os disponíveis e mais interessados eram, em maioria, os
treinadores emergentes. Dentro das análises, chegamos no nome do Álvaro
Pacheco. Emergente, mas que fez uma temporada muito forte no Vitória de
Guimarães.
Instabilidade financeira do
clube
– Vi do lado do Pedrinho um
esforço grande para encontrar viabilidade financeira, até como preparação para
a próxima venda. Vi que ele queria estar mais envolvido no futebol, mas estava
gastando um tempo muito grande para tentar viabilizar financeiramente o clube.
Os salários estão em dia, agora luvas, comissões, aquisições… Eles estavam
tentando dar uma solução. De fato a estrutura estava montada pensando no aporte
da 777. O Pedrinho estava formulando saídas para fechar essa conta. Já tem um
aumento da folha, em algum momento vai ter que ter um equilíbrio, ou com
receita nova ou com saídas de jogadores.
Por que não estava no
estádio na goleada sofrida para o Flamengo?
– Quando eu chego eu tinha uma
demanda para diminuir o custo da folha. A gente organiza uma viagem minha para
uma conferência, já era um meio importante para conseguir vender alguns
jogadores. No fim de semana a gente ia jogar contra o Cruzeiro, mas aí o
campeonato para por causa das enchentes no Rio Grande do Sul, muda tudo e a
viagem seria no clássico contra o Flamengo. Pensei em cancelar a viagem, mas a
gente precisava reequilibrar a folha e era um espaço importante para vendas de
jogadores. Eu não estou no jogo, acompanhei do voo, então para mim é mais
doloroso. O ambiente do CT sofreu muito depois dessa derrota.
Pedrinho tomou a decisão
certa?
O futuro vai nos dizer, muito
difícil avaliar se tem certo ou errado. A gente não entende até hoje o que é a
777 em termos de gestão financeira e qual seria a possibilidade de ela arcar
com tudo que estava no contrato. O Pedrinho diz que não queria fazer, mas que
precisava. Na minha visão vai ser necessário o Vasco ter um novo dono.
Rafael Paiva
– Se é para efetivar ou não eu deixo para quem está lá dentro. Já conhecia o Rafael, já tinha tentado contratá-lo no Cruzeiro. É um profissional com uma história legal no Palmeiras, com um trabalho relevante. Um cara com bom nível de conhecimento, muito preparado. Esse primeiro ciclo antes do Álvaro Pacheco foi importante para ele digerir, ver o que acertou e errou, e ele já vem desenvolvendo um trabalho levando esse primeiro aprendizado em consideração. Tem um potencial imenso, mas vai ter turbulência, porque é futebol. Aí a instituição tem que estar preparada para ajudá-lo. É um profissional que, se o futebol brasileiro tiver calma, vai estar na elite. Um cara muito correto e trabalhado, torço muito. Tem muita gente boa no Vasco.
Fonte: Globo EsporteTítulo e Texto: França Fernandes, Vasco Notícias, 18-7-2024
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