terça-feira, 4 de junho de 2013

[Nuno Crato] Contra a demagogia na escola

Rodrigo Constantino 
Importante entrevista nas páginas amarelas de VEJA essa semana, com o matemático Nuno Crato, ministro da Educação e da Ciência em Portugal (favor não comparar seu currículo ao de Aloizio Mercadante, para não humilhar tanto a ex-colônia). Crato tem atacado o “eduquês”, a pedagogia romântica e construtivista nas escolas. Ele está certo! Logo no começo, ele explica melhor o que está condenando:

Minha crítica bate de frente com uma linha muito celebrada nas escolas de hoje. É uma corrente que dá ênfase excessiva às atitudes e à formação cívica do aluno e deixa em segundo plano o conhecimento propriamente dito. Pergunto: como investir em educação cívica se o estudante não consegue nem ler o jornal?

Infelizmente, muitos educadores levaram suas ideologias esquerdistas para dentro da sala de aula. Antigamente, ensinava-se a ler e a escrever, a fazer contas, enquanto hoje se “ensina” que é preciso ter “consciência social”, sem falar de toda a doutrinação ideológica absurda.
Alunos, cada vez mais cedo, são expostos à visão de mundo desses professores, que enfiam goela abaixo desses imberbes indefesos a noção marxista de “opressores e oprimidos”, tão disseminada por Paulo Freire e sua “pedagogia do oprimido”. Pelo visto, “aprender” que o homem branco ocidental era malvado e dominou as pobres minorias é mais importante do que saber ler direito e fazer contas.
Além disso, os métodos tradicionais de ensinar e cobrar dos alunos são atacados por esses pedagogos modernos. Eles partem da premissa de que os alunos não devem ser tão cobrados, que cada um tem seu próprio ritmo, que não é correto instaurar competição em sala de aula por meio de provas e coisas do tipo. Crato responde:

Muitos batem na tecla de que prova faz mal. Acham que ela submete o aluno a um alto grau de stress, sem necessidade. Vão aí na contramão do que afirmam os grandes pesquisadores. Eles já sabem que, ao ser questionada e posta a refletir sobre um conteúdo, a criança consegue absorvê-lo melhor, avançando no conhecimento.

Mais à frente, ele argumenta que essa visão que, no fundo, parece idealizar a criança e rejeitar qualquer forma de autoridade em sala de aula, acaba produzindo apenas desordem:
 
Esse grupo de educadores admite que o aluno pode ser no máximo incentivado a respeitar a ordem na sala de aula, mas nunca, sob nenhuma hipótese, ele deve ser forçado a fazer isso. Nesse caso, não é preciso de muita ciência para saber que o resultado final será muita bagunça e pouco aprendizado.

O construtivismo, ou a modalidade atual da idéia de Piaget, é alvo de mais ataques legítimos na entrevista:

Um mestre tem o dever de transmitir a seus alunos os conteúdos nos quais se graduou. E, sim, precisa ter objetivos bem claros e definidos sobre o que vai ensinar. É ingênuo achar que o estudante vai descobrir tudo por si mesmo e ao seu ritmo, quando julgar interessante. Quem de bom-senso tem dúvida de que, se a criança puder esperar a hora que bem lhe apetecer para mergulhar num assunto, talvez isso nunca aconteça?

Nuno Crato ainda defende a memorização, a imposição de leitura, algum grau de decoreba, a importância de excessivos exercícios de matemática para fixar bem a matéria, que é cumulativa, enfim, trata-se de um resgate dos métodos mais tradicionais de ensino, hoje tão rechaçados pela pedagogia moderna. Crato reconhece o obstáculo:

As sociedades hoje frequentemente não valorizam o conhecimento rigoroso, aquele que exige método, empenho e exercício para ser bem sedimentado. Acham que as crianças vão acabar aprendendo matemática por osmose. Mas elas não aprendem. As avaliações costumam ser impiedosas ao escancarar as deficiências.

Por fim, como não poderia faltar, Nuno defende a meritocracia, repudiada pelos “igualitários” da atualidade. Ele diz:

A utopia do igualitarismo, essa que muitos na educação defendem, só seria possível num único e não desejável cenário – aquele em que todos são medíocres. Esse é ainda um tabu. Dizer que uma criança precisa de um apoio especial não significa que ela será excluída. Num outro espectro, os ótimos alunos também não devem ser escondidos, mas, sim, radicalmente incentivados a seguir em frente. É um fundamento básico da meritocracia, de eficiência provada no setor privado.

Ou, como dizia Thomas Sowell, “Você não pode ensinar a todos no mesmo ritmo, a não ser que esse ritmo seja reduzido para acomodar o menor denominador comum”. Complicado é enfrentar os sindicatos corporativistas, que detestam a idéia da meritocracia em sala de aula e fora dela. Mas é necessário partir para esse enfrentamento, caso contrário, seremos medíocres. E não adianta jogar mais dinheiro público nesse modelo falido, como o próprio Nuno Crato reconhece:

Acho que nossos desafios dependem menos de dinheiro e mais de objetivos claros, ambiciosos e de organização. Para avançarmos, precisamos formar mais e mais engenheiros, médicos e cientistas. As crianças devem ser despertadas desde cedo para o interesse por essas áreas. Não será à base do velho e empolado “eduquês” que conseguiremos dar o grande salto.

Enfim, precisamos de mais engenheiros, médicos e cientistas, e menos gente das “ciências humanas” que adora divulgar ideologias ultrapassadas e igualitárias. Portugal parece ter a pessoa certa para lutar por esse caminho. Espero que consiga. Cá no Brasil, com o PT no poder e Mercadante como ministro da Educação, acredito que teremos de esperar mais um pouco para ao menos sair da direção errada e apontar na correta. O problema é que esse tempo custa caro. Muito caro. 
Título, Imagem e Texto: Rodrigo Constantino, 04-06-2013
Aqui a íntegra da entrevista em .pdf 

Leitor português, se concorda com o que disse o Senhor Nuno Crato, espalhe, faça chegar a outros portugueses que, como você, torcem por Portugal, isto é, querem que Portugal dê certo; àqueles que, como você, dão muito mais importância à seriedade de propósitos (mesmo, eventualmente, discordando) do que à desonestidade de propósitos de eternos sindicalistas a serviço do comunismo de cuja "opinião" você é matraqueado visual e auditivamente, certo? 
Espalhe, porque aqui, em Portugal, não ficamos (não ficaríamos) sabendo dessa entrevista, de um ministro português à 5ª revista mundial
Todos sabemos da "heroicidade" de meia dúzia de palermas a serviço do Comitê Central que impedem a fala de ministros... eles acham isso o máximo. A imprensa também. Tantos uns como outros proclamam que essa falta de educação é... liberdade de expressão(!?) Porra, meu, por que não vão ser "livres" em Cuba, no Sudão, na Coreia do Norte, ou na PQP?

4 comentários:

  1. Pois é, Rodrigo. A neurociência derrubou o principal legado de Jean Piaget e sua crença construtivista e, particularmente, suas vertentes radicais.

    Como Nuno diz, "é ingênuo acreditar que o estudante vai descobrir tudo sozinho quando julgar interessante" conforme prega o método global. Afinal, pra que construir cidadãos que não sabem ler um jornal e mito menos ter compreensão do que leram?

    Stanislas Dehaene, matemático e neurocientista francês, afirmou que o método fônico é o mais eficiente e que uma criança pode ser alfabetizada, em português, em menos de um ano. (Em muitas escolas públicas brasileiras, com o método construtivista, leva-se até três anos.)

    Esta foi uma das mais importantes conclusões de Dehaene durante uma palestra no seminário promovido pela Secretaria da Educação de Santa Catarina e transmitida, ao vivo, para mais de 2000 diretores, supervisores, coordenadores e professores da rede estadual.

    Segundo matéria publicada na página da Secretaria da Educação de Santa Catarina, Dehaene garantiu que “embora desagrade a muitos, não se aprende a ler de cem maneiras diferentes. Cada criança é única, mas, quando se trata de alfabetização, todas têm basicamente o mesmo cérebro que impõe a mesma sequência de aprendizagem. Quanto mais respeitarmos sua lógica, mais rápida e eficaz será a alfabetização”.


    "Os cérebros ativam os circuitos corretos para a leitura quando a criança aprende a relação de sons e símbolos gráficos "ganhando velocidade e autonomia para lerem palavras novas, de forma muito mais rápida", disse o cientista.

    "O atual método utilizado no Brasil, o construtivismo, é ineficaz e isso está provado não apenas em laboratório mas em centenas de experimentos realizados em inúmeros países. E esses conhecimentos científicos estão reorientando as políticas públicas em vários deles" - cita o site da Secretaria da Educação de Santa Catarina. Portugal é um deles.

    ResponderExcluir
  2. Segundo a neurociência não existem 100 maneiras para se alfabetizar uma criança.

    http://blogdoedsonjoel.blogspot.com.br/2014/07/ineficacia-do-metodo-construtivista-e.html

    ResponderExcluir
  3. Vou defender Piaget, não era esse seu intuito.
    Gostei do parágrafo das igualdades.
    Nenhum país do mundo é mais igualitário que o Brasil, aqui os medíocres são todos iguais.
    Nem muçulmanos resistem tanto tempo a essa mediocridade adquirida nos últimos 30 anos. Lá no mundo deles as diferenças se trucidam, uns matam os outros.
    Aqui é a sociedade trabalhadora que está sendo morta, e a juventude suicida na meritocracia do ensino.

    ResponderExcluir
  4. Os bancos universtários brasileiros agora estão repletos de analfabetos funcionais graças as correntes pedagógicas de Piaget a Freinet. Formamos, enfim, o burro feliz!
    Rosangela Cabral

    ResponderExcluir

Não publicamos comentários de anônimos/desconhecidos.

Por favor, se optar por "Anônimo", escreva o seu nome no final do comentário.

Não use CAIXA ALTA, (Não grite!), isto é, não escreva tudo em maiúsculas, escreva normalmente. Obrigado pela sua participação!
Volte sempre!
Abraços./-