Luciano Henrique
Uma torcedora do Grêmio teve a
vida destruída por usar uma expressão pejorativa diante de um goleiro.
Uma jovem quase sofreu o mesmo
destino por dar uma opinião negativa sobre o estado do Maranhão (por sorte, era
apenas um fake, o que significa que desta vez os monstros não tiveram o
gostinho).
Jair Bolsonaro quase teve seu
mandato cassado por ter dito que Maria do Rosário “não merece ser estuprada”.
Marco Feliciano está sendo
processado por ter pedido para a polícia retirar duas lésbicas que se beijavam
em seu culto.
Uma sala de aula foi invadida
por membros do movimento negro, que mandou todos se calarem, e até pudemos
ouvir a pérola que desonrou toda uma sala: “O opressor se cala e o oprimido
fala” (ora, se um é obrigado a se calar ele é o verdadeiro oprimido, mas
histéricos não possuem mais julgamentos confiáveis).
Nesta semana, Levy Fidelix foi
condenado (em primeira instância) a pagar um milhão de reais por ter dito que
“aparelho excretor não reproduz”.
Uma salva de palmas para a
maioria de nós, que validaram tudo isso. Os méritos dessa patocracia não podem
ir apenas para a extrema-esquerda. Devem ser compartilhados com toda uma legião
de validadores da direita.
Em dinâmica social, o que
validação significa? É todo ato ou comportamento que demonstra ou ao menos
insinua como válido qualquer evento do mundo que tenha passado por nossos
olhos. E as vezes nem mesmo tenha passado. Neste caso, temos a validação por
inação e/ou ignorância em relação ao evento.
Uma vez que uma equipe de
testes de software não tenha reportado bugs em uma aplicação, ela é considerada
“validada”. Se o sistema de detecção de intrusos não reporta nenhum
comportamento anormal, os acessos que tenham corrido na noite anterior são
considerados “válidos”. Se você envia uma ata para todos os participantes de
uma reunião e dá 24 horas para alguém se manifestar a respeito de ajustes, e
não há manifestação, a ata é considerada “validada”. Assim como funciona nas
organizações, de TI ou não, o mesmo acontece para todas as questões públicas.
Dentre as formas de validação,
a mais explícita é a menção positiva. Basicamente, é dito que não há nada de
errado com o evento sob análise. Mas a ausência de expressão de qualquer
aspecto negativo é uma validação da mesma forma. Ou seja, se você não falou
nada então significa que “está tudo ok”. Mas a coisa não pára por aí: muitas
vezes uma menção negativa, feita de forma desleixada ou conformista, também
significa validação.
Diante das aberrações contra a
liberdade de expressão, como vimos no início deste texto, geralmente vejo
pessoas dizendo “pois é, mais uma vez a esquerda silencia a oposição” ou “é
assim mesmo e não muda: eles continuam silenciando a divergência”. Goste você
ou não, isso significa validação. Se você duvida, imagine que, ao receber uma
ata, dê esta resposta: “há inconsistências (x) e (y), mas tudo conforme já
esperamos”. Isso significa que a questão não é importante, e que, portanto,
você provavelmente não tem de fato nada a falar sobre a ata. Ela é validada e
suas opiniões nem merecerão ser ouvidas.
E o que seria fugir da
“validação”? Ser assertivo, demonstrar senso de urgência e, principalmente,
indignação. Agora imaginemos seu relatório de bugs dizendo o seguinte: “Há (x)
bugs críticos, e o software não deve ser liberado para produção com estes bugs,
caso contrário exigimos um termo de responsabilidade, pois é inaceitável a
quantidade de erros”. Isto com certeza não é uma validação. Ou então: “A ata
não pode ser enviada desta forma, de jeito algum, pois há elementos inconsistentes
com as entregas feitas. Não poderei assinar essa ata. O problema será escalado
para a gestão”. Isto com certeza também não é uma validação.
Qual seria, então, o poder da
validação? Se dizemos que um determinado comportamento/evento “está ok”, ou nos
omitimos, ou então reclamamos com conformação, desleixo ou atribuição de pouca
importância, então colaboramos para que os outros percebam que “está tudo
certo” e “é assim que as coisas devem ser”.
É claro que não validamos
apenas as violações à liberdade de expressão praticadas pela extrema-esquerda.
Validamos também toda vez que eles nos acusam de “golpistas”. Validamos quase
sempre que eles falam que “financiamento privado deve acabar”. Creio que com
exceção das questões relacionadas à corrupção, nós os validamos em quase todos
os outros aspectos.
Este é o ponto de atenção e
mudança comportamental urgente: é preciso interromper urgentemente essa mania
da direita validar a extrema-esquerda.
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