Em 2011, publiquei o livro “Diamantes de Sangue – Corrupção e Tortura
em Angola”, uma investigação do jornalista Rafael Marques, que considerei
um dos mais importantes trabalhos para denunciar flagrantes crimes de violação
dos direitos humanos nos nossos dias. Para mim, a questão não era se se passava
em Angola, na China ou em Portugal. Acredito que o papel de um editor é também
este: dar voz a quem ousa dizer a verdade em circunstâncias absolutamente
adversas, com base em centenas de relatos de vítimas e familiares, todos – vítimas, testemunhas e jornalista – correndo
risco de vida.
Na altura pensei,
ingenuamente, que este livro serviria pelo menos para atenuar a violência
quotidiana nas zonas de exploração diamantífera em Angola. Enganei-me. O livro
serviu, ao invés, para desencadear uma perseguição ao seu autor. Passados dois
anos, soube que eu própria era arguida num processo criminal.
Fui submetida à medida de
coação de termo de identidade e residência, justamente por ter publicado
“Diamantes de Sangue”. Rafael Marques e
eu fomos processados em Portugal por nove generais e duas empresas visadas na
investigação. O processo foi arquivado pelo Ministério Público Português no
mesmo ano.
Amanhã (24 de março) começa o
julgamento de Rafael Marques em Angola. Estou naturalmente apreensiva quanto ao
seu desfecho.
Enquanto responsável pela
editora, a melhor forma que encontro para apoiar Rafael Marques na sua luta é
disponibilizar, a partir de hoje, o livro em formato digital, para que todos possam
lê-lo e perceber o que está na base de um processo que pode vir a colocar o
autor atrás das grades.
Para obter o seu exemplar
digital e gratuito do livro basta clicar aqui.
Bárbara Bulhosa, Editora da Tinta da China, Maka Angola, 23-3-2015
NdE: Julgamento suspenso
até 23 de abril de 2015.
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Rafael Marques no Tribunal Provincial de Luanda no início do julgamento. Foto: DW/N. Sul D'Angola |
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