Alberto Gonçalves
Para mim, o "debate
decisivo" foi o debate "em diferido". Marcar compromissos para
as dez da manhã desrespeita quem é trabalhador liberal ou não vive na Lapónia.
Por isso fintei a ordem natural das coisas e comecei, lá para o meio-dia, por
espreitar as "reacções". Quase toda a gente decretava a vitória de
Pedro Passos Coelho, o que já era um indício. Mas os comentadores da SIC
Notícias falavam em "equilíbrio", o que confirmava a derrota de
António Costa. Só então cumpri as regras e, sem imagem, ouvi a coisa.
Há 55 anos que se sabe: nos
debates políticos televisivos ganha a "impressão"; nos radiofónicos
ganham os argumentos ou, no caso do Dr. Costa, perde a falta deles. Na semana
passada, favorecido pela estética da leviandade e pela inépcia de "moderadores"
empenhados em fuzilar a sombra de uma ideia, o Dr. Costa saiu com a ilusão da
vitória. Ontem, o meio utilizado e a inclusão de jornalistas de facto deixaram
o homem despido - de forma apenas um pouco mais metafórica do que certa
candidata de extrema-esquerda.
É verdade que o Dr. Costa
agita em toda a parte uma pastinha com, repitam em coro, "compromissos
escritos" e "contas feitas". Infelizmente, a pastinha não lhe
vale de muito na hora de justificar o injustificável. Num debate a sério, aqueles
lirismos mal-amanhados ficam pendurados no vazio. E depois cedem com estrondo
ao peso de uma tarefa impossível, a de explicar porque é que o partido que
arruinou o país é a melhor alternativa aos partidos que, com sacrifícios e
asneiras, nos livraram provisoriamente da ruína.
E, se a mensagem é incurável,
o mensageiro não ajuda. O Dr. Costa, embora com progressos, exprime-se com
dificuldade, enriquece o léxico (o que é uma "rúbrica"? E
"competividade"?), engole sílabas ("para" é sempre "pa")
e nunca larga a irritação "ideológica" que lhe limita o discernimento
- ou lhe decide o pensamento, para os cínicos.
Quanto ao Dr. Passos, que
também estava por ali, soou honesto e diplomático, firme e exaustivo, liberal e
socialista. Desmontou as "teses" do oponente com cansativo detalhe,
praticou um português burocrático e competente por comparação e tem óptima voz.
Não tem uma visão clara do futuro. O Dr. Costa, coberto de passado, tem
inúmeras alucinações. Em Outubro, veremos a que distância da realidade os
portugueses preferem estar.
Título e Texto: Alberto Gonçalves, Diáriode Notícias, 18-9-2015
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