Clóvis Rossi
Depois de pouco mais de 13
anos de governo do PT, o partido que sempre se considerou o paladino dos
pobres, o Brasil conta com 73.327.179 pessoas pobres -o que dá cerca de 36% de
sua população total.
Não sou eu quem o diz, mas o
sítio oficial do Ministério de Desenvolvimento Social de Dilma Rousseff, ao
informar sobre o Cadastro Único para Programas Sociais, que "reúne
informações socioeconômicas das famílias brasileiras de baixa renda -aquelas
com renda mensal de até meio salário mínimo por pessoa".
Famílias de baixa renda é um
piedoso eufemismo para pobres ou, até, para miseráveis, conforme se pode ver
quando se separam os cadastrados por faixa de rendimento:
de R$ 0 até R$ 77
-38.919.660 pessoas;
de R$ 77,01 até R$ 154
-14.852.534; de R$ 154,01 até meio salário mínimo -19.554.985.
O total é um estoque infernal
de miséria e pobreza. Pode até haver mais, porque o cadastro inclui 7,8 milhões
de pessoas que ganham mais que meio salário mínimo. Mas não especifica quanto
mais.
O estoque existente em janeiro
de 2015, a data mencionada no sítio do ministério, torna suspeita a propaganda
petista segundo a qual 45 milhões de pessoas deixaram a pobreza nos anos Lula/Dilma.
Se essa informação for
verdadeira, ter-se-ia que o estoque de pobres quando Luiz Inácio Lula da Silva
assumiu seria de quase 120 milhões (os 73 milhões que continuam de baixa renda
em 2015 mais os 45 milhões que escaparam da pobreza). Daria, então, cerca de
60% da população brasileira atual, o que não parece plausível.
Mas o ponto principal nem é
esse. O que assusta nos números oficiais é que, se um partido que tinha como
retórica permanente a defesa dos pobres lega 73 milhões de brasileiros abaixo da
linha da pobreza, o que acontecerá agora que o novo samba de uma nota só é o
acerto das contas públicas?
A austeridade, condição sine
qua non para ajustar as contas, é, pelo menos nos primeiros momentos, inimiga
do crescimento, que, por sua vez, é indispensável (mas não suficiente) para
reduzir a pobreza.
Basta ver o estrago social
provocado, em vários países da Europa, por políticas semelhantes às que se
anunciam no Brasil de Michel Temer.
É verdade que os crentes nas
virtudes celestiais dessas políticas dizem, sempre, que haverá um pote de ouro
no fim do arco-íris. Não é bem o que está acontecendo na Europa, mas só resta
aguardar.
Por enquanto, dá para
desconfiar que tende a se perpetuar a incapacidade de o Brasil livrar-se do
aleijão da pobreza. Frei Betto, amigo e confessor de Lula, desiludido com o
governo do amigo, deu entrevista ao "Valor Econômico" em que aponta o
que ocorreu nos governos petistas:
"Investiu-se mais em
facilitar à população acesso aos bens pessoais (celular, computador, carro,
linha branca), quando se deveria priorizar o acesso aos bens sociais (educação,
saúde, moradia, segurança, saneamento etc) ".
Dá para acreditar que o novo
governo investirá em acesso da maioria aos bens sociais, tão reclamados nas
manifestações de junho de 2013?
Título e Texto: Clóvis Rossi, Folha de S. Paulo, 22-5-2016
Título e Texto: Clóvis Rossi, Folha de S. Paulo, 22-5-2016
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