A falha: só com as medidas que ele
admite, sabe que não vai reequilibrar o Orçamento. O erro: está cedendo à
ideologia de gênero e, assim, pode prejudicar a Cultura só para agradar à
patrulha
Reinaldo Azevedo
O presidente Michel Temer
concedeu uma entrevista a Sônia Bridi, que foi ao ar no Fantástico deste domingo. Não se fez nenhuma
grande revelação ou anúncio — e considero isso um aspecto positivo.
Temer reiterou alguns
compromissos do seu discurso de posse; investiu, mais uma vez, na imaginem do
pacificador; insistiu na necessidade de se respeitarem as instituições e voltou
a se dizer um fiel cumpridor do “livrinho”: a Constituição. Na democracia,
creiam, governantes bons são aqueles que nada dizem de surpreendente. Nesse
caso, ponto pra ele.
O presidente reafirmou que não
haverá cortes nos programas sociais — é bom lembrar que Dilma já passou o facão
em alguns deles no Orçamento de 2016 — e lembrou que existem as chamadas
vinculações constitucionais, que obrigam que se reservem percentuais do
Orçamento a determinadas áreas. É verdade. A menos que emendas mudem a
Constituição. Resta ao governo, nessa perspectiva, cortar os chamados gastos
discricionários.
Temer deve saber, no entanto,
que não será o bastante para reequilibrar o Orçamento, mesmo com o corte de
pelo menos 4 mil cargos comissionados e com a redução do número de ministérios.
E aí um novo imposto pode ser necessário. Acontece que o tema ficou restrito a
uma pergunta da repórter, que dava de barato que ele não vai existir. Não estou
tão certo disso. No capítulo da receita, também não se tocou no tema
“privatização” ou num meio de incentivar o investimento privado, ainda que por
intermédio de parcerias.
Se é bom um governo que não
acena com surpresas, convém, no entanto, que o governante não deixe equações em
aberto. Sem imposto, com a manutenção dos gastos sociais, das vinculações
constitucionais e sem privatizações, a conta não fecha. E todos sabem que a
economia é hoje o principal problema do país.
Ministérios
De uma parte da entrevista, em particular, não gostei: precisamente aquela em que Temer cede à patrulha politicamente correta. Indagado sobre a ausência de mulheres no ministério, lembrou que sua chefe de gabinete é Nara de Deus Leão. Disse ainda que as secretarias de Cultura, Ciência e Tecnologia e Cidadania serão ocupadas por mulheres.
De uma parte da entrevista, em particular, não gostei: precisamente aquela em que Temer cede à patrulha politicamente correta. Indagado sobre a ausência de mulheres no ministério, lembrou que sua chefe de gabinete é Nara de Deus Leão. Disse ainda que as secretarias de Cultura, Ciência e Tecnologia e Cidadania serão ocupadas por mulheres.
É evidente que considero um
erro ceder a esse tipo de abordagem. O governo Dilma é a prova de que a
diversidade, entendida desse modo, não quer dizer absolutamente nada. Liderada
por uma mulher, em companhia de outras, a gestão da petista é certamente a mais
incompetente da história. E a culpa é de Dilma, não das mulheres.
Tomo o exemplo da Cultura. Sem
saber ainda quem Temer vai indicar, asseguro que um homem é o mais competente
para cuidar dessa área. É evidente que, no ambiente viciado em que se dá esse
debate, não declinarei aqui o nome para não dar curso a um bate-boca estúpido.
É o fim da picada que o país
eventualmente abra mão da competência e da experiência firmadas de um
especialista para ceder aos apelos da ideologia de gênero.
Daqui a pouco alguém vai
sugerir que Temer nomeie a/o cartunista Laerte. E atenção! Não é que ele/ela
não possa ser ministro/a só porque é trans. Ele/Ela não pode é ser ministro/a
por ser trans. Entenderam a ligeira diferença de língua e a brutal diferença
política?
Uma pessoa não tem de ser
secretária de Cultura tendo como condição necessária ser mulher. A condição
necessária é ser a melhor na área. E essa deve ser também a condição
suficiente. E, nesse caso, vejam que coisa, o mais competente e experiente é um
homem.
Entre ceder às pressões das
Mafaldinhas e às necessidades do país, o presidente sabe que só uma escolha é
certa.
Título e Texto: Reinaldo Azevedo, VEJA,
16-5-2016
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Gostei muito da entrevista!
ResponderExcluirBem articulado e falando corretamente.
Boa!