Helena Matos
No passado os loucos queriam lavar-nos os
vidros do carro na avenida do Brasil ou subir ao zimbório da Estrela porque
achavam que eram ágeis como os macacos. Agora querem ser terroristas.
A avaliar pelo número de
autores de atentados terroristas que são rapidamente apresentados como casos de
psiquiatria temos de admitir que vindas não se sabe donde legiões de doentes
mentais, enquanto gritam “Allah Akbar” (Alá é grande), desataram a degolar,
mutilar, alvejar ou atropelar aqueles que têm o azar de se cruzar com eles.
No passado os loucos queriam
lavar-nos os vidros do carro na avenida do Brasil, subir ao zimbório da Estrela
porque achavam que eram ágeis como os macacos ou mais prosaicamente tinham
aquilo que o povo designava com ataques.
Depois a farmacopeia e a
medicina fizeram esquecer os internamentos psiquiátricos de caracter perpétuo e
os coletes-de-forças. Gente que se acha intelectualmente superior aproveitou o
embalo para declarar que não podemos falar de normalidade ou de loucura porque
a normalidade, dizem, é um preconceito… E estávamos neste dogma reconfortante
até que o doente psiquiátrico que quer ser terrorista se tornou uma figura recorrente
dos nossos noticiários.
Desconheço os procedimentos
para classificar e identificar as doenças. À excepção, claro, daquelas, como
acontece com a presente epidemia que afecta homens que pretendem assassinar os
seus semelhantes, epidemia essa estudada não nas faculdades de Medicina mas sim
nos estúdios de televisão, redacções e corredores do poder. Estas doenças,
nadas e criadas entre políticos em desespero, jornalistas e activistas, não
precisam de testes, exames ou descrição. Existem porque eles dizem que existem.
A última destas doenças inscrita no compêndio político-jornalístico é o o
terrorismo como uma manifestação da doença mental.
Quem seguir as notícias sobre
atentados e tentativas de atentados na Europa descobre rapidamente que não há
semana em que um homem, logo classificado como pessoa com problemas
psiquiátricos, não tente degolar, atropelar ou mutilar alguém com quem se cruza
na rua. Algumas testemunhas referem que a dita pessoa justificava o seu acto
invocando a sua fé no Islão ou tinha em seu poder propaganda fundamentalista
mas rapidamente esses detalhes são enquadrados do ponto de vista clínico. Aliás
quer essa fixação em quererem separar-nos a cabeça do corpo, quer o
reivindicar-se muçulmano ou, mais espantosamente ainda, declarar a sua fidelidade
ao Daesh/Estado Islâmico são vistas como manifestações dessa mania do
terrorismo, por assim dizer.
Em resumo os terroristas que
não são verdadeiros terroristas porque são doentes psiquiátricos também não são
verdadeiramente muçulmanos. Quanto à fidelidade ao Daesh também é só mais uma
fantasia porque nunca existem provas que essa fidelidade seja real ou sequer
reconhecida pelo Daesh. Presumo que se espera que o Daesh passe a emitir
cartões de sócio e a distribuir cupões para, qual hipermercado, premiar os sues
fiéis. Até lá nada feito.
Perante a sucessão de
atentados temos necessariamente de admitir não só que o número de doidos
furiosos está aumentar vertiginosamente como também que o terrorismo que
durante décadas foi apresentado como o resultado da pobreza ou dos pecados
originais (ou sem originalidade alguma) do mundo ocidental deixou de ser um
capítulo dos estudos sócio-económicos para integrar o universo da psiquiatria.
Chegámos aqui não porque se tenha tornado óbvio que o terrorismo nunca teve
nada a ver com pobreza mas sim porque a aparente cegueira dos actuais
terroristas na escolha dos seus alvos torna difícil o exercício habitual nestas
coisas de transferir a culpa para as vítimas.
Convém não esquecer que a
Europa dos grupos terroristas nascidos tantas vezes nos meios universitários e
com enormes cumplicidades nos meios da cultura e do jornalismo, essa Europa
habituou-se a justificar os atentados ora porque a vítima era polícia ou
militar – logo defendia o sistema! – ou porque era patrão – nesse caso
representava o próprio sistema – ou ainda porque o baleado tinha escrito ou
dito algo que chocava a sensibilidade dos terroristas (um terrorista é um ser
muito sensível não ao sangue mas sim às críticas.) Pois essa Europa bem
pensante quando o alvo dos terroristas passou dos “do sistema” para “o todos e
qualquer um” trasladou o terrorismo da Economia para a Psiquiatria. E assim não
há dia, em que perante mais um atentado, não sejamos logo informados que o
autor dos esfaqueamentos era um doente psiquiátrico ou, pasme-se, que tinha ido
a consultas de Psiquiatria. Por este critério os potenciais terroristas são
neste momento de milhões. Mas isso não parece causar perplexidade aos
descobridores desta espécie de monomania terrorista.
A par dos doentes
psiquiátricos temos também os lobos solitários. Estes caem mais no campo da
Psicologia. Afinal os lobos solitários resolvem um belo dia levar a cabo um
atentado. Porquê? Porque são solitários, porque ninguém os compreende, porque
são um mistério, porque alguém lhes deu uma má resposta… Nunca se percebe ao
certo o que pretendia o lobo solitário mas, pelo menos a avaliar pelo caso
francês, o anúncio de que o autor do último atentado era um lobo solitário
parece deixar todos mais tranquilos.
E assim entre doentes
psiquiátricos, lobos solitários e outras figuras de encantar acabámos todos num
manicómio.
Título e Texto: Helena Matos, Observador,
27-7-2016
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Interessante assunto este do terrorismo e da maneira como se comportam em relação ao mesmo os bem pensantes deste país.
ResponderExcluirEu penso que este terrorismo é inútil sob o ponto de vista da tomada do poder na civilização ocidental, que, no fundo, é o que mundo islâmico pretende, seja por motivos de expansão do Islão ou de desacordo profundo com os valores que o ocidente representa.
A civilização ocidental, tal como a conhecemos e com os valores que representa, está condenada a prazo. Pura e simplesmente porque não consegue substituir as gerações. Assim, para os que detestam a nossa forma de vida, basta que se mantenham aproveitando as vantagens que lhes são oferecidas (estado social, liberdades) e continuem a reproduzir-se adquirindo assim a nacionalidade. Dentro de algumas décadas, serão a maioria e, de acordo com as nossas próprias regras (que eles desprezam) poderão tomar legalmente o poder. A não ser que estejam sem paciência para esperar, andar a cometer estas barbaridades (para nós!) só pode ser prejudicial.
Portanto, a minha preocupação é: que vai acontecer aos meus netos quando a futura maioria islâmica legalmente tomar o poder?
Para os desmiolados e para as desmioladas que ainda não se aperceberam do que se passa no mundo e que estamos em guerra, talvez tenham alguma coisa a opor ou a opinar quando lhes for negado o acesso aos telemóveis, aos iphones, aos computadores...à Internet, aos Pokemons. A indiferença e a omissão é conivente com o terrorismo. Sem opinião pública forte e exigente os governos não mudam e não irão combater o cancro que é o islão!
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