Rita Bertrand
Os pais chamaram-lhe Maria
Luísa, mas o irmão, pequeno, logo lhe abreviou o nome, ficando a versão
completa só para os ralhetes da mãe. Lu Grimaldi, actriz há mais de 40 anos,
traz ao Palácio de Queluz Palavra de Rainha, o monólogo em que faz de D. Maria
I, a monarca piedosa que morreu louca no Brasil, precisamente há um século, em
1816. A estreia em Portugal, na sexta-feira, dia 8, motivou a conversa com o
GPS.
Como se tornou actriz?
Deve ter nascido comigo. Na
escola, nunca queria apresentar os trabalhos no papel, preferia representá-los.
Depois fui para o teatro amador.
Foi fácil fazer carreira?
Nem por isso. Tive de sair de
casa aos 18 anos, porque me diziam que todas as actrizes viravam prostitutas.
Os meus pais educaram-me para casar e só aceitaram a minha profissão depois de
eu fazer a novela Terra Nostra, na Globo, quando começaram a pedir-lhes
autógrafos na igreja, por eu ser filha deles. Já tinha quase 40 anos.
Como surgiu Palavra de Rainha, que traz a Portugal?
Vim a Lisboa em 2013 com a
Turma do Bem - uma associação de dentistas que oferece os seus serviços a
crianças carenciadas - e convidaram-me para uma leitura dramática sobre a
rainha, na Fundação EDP, que patrocinava a viagem. Foi muito emocionante e eu,
quase com 60 anos, achei que estava na hora de fazer um monólogo.
O que a atraiu na figura?
Ela governou muito bem: em
Portugal é a rainha piedosa. No Brasil, porém, sempre foi uma caricatura: a
louca. Quis saber porquê e percebi tudo quando vi como ela sofreu com a morte
dos filhos, o exílio... Na altura eu própria isolei-me para repensar a vida,
porque estava a entrar na terceira idade, e ouvi gente dizer que eu estava
louca! Apeteceu-me questionar isso, o que é a insanidade, o envelhecimento, a
alma de Maria, da mulher... e mostrar que ela também era lúcida; à saída de
Lisboa, a caminho do exílio no Brasil, disse à comitiva: "Não corram. Vão
pensar que estamos a fugir e perdemos toda a nossa nobreza."
Depois do sucesso no Brasil, vem fazer a peça ao palácio onde ela
morou. É onde se passa a acção da peça?
A peça passa-se na cabeça da
rainha, focando episódios, nunca cronologicamente. O cenário é o vestido dela,
negro e enorme, espalhado na sala como ondas do mar.
Palavra de Rainha
Palácio Nacional de Queluz
De 8 a 17/7 || 6.ª e sáb.,
21h30 || Dom., 19h (na Sala do Trono)
€10
Título e Texto: Rita Bertrand, Sábado,
7-7-2016
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Não publicamos comentários de anônimos/desconhecidos.
Por favor, se optar por "Anônimo", escreva o seu nome no final do comentário.
Não use CAIXA ALTA, (Não grite!), isto é, não escreva tudo em maiúsculas, escreva normalmente. Obrigado pela sua participação!
Volte sempre!
Abraços./-