Pesquisas de popularidade do presidente não
encontram correspondência com realidade, sob nenhum aspecto, e só podem ser
resultado da desinformação que campeia nestes tempos de fake news
O Estado de S. Paulo
Desde o início de seu governo,
o presidente Michel Temer cercou-se de alguns assessores de duvidosa carreira
no mundo político. Compreende-se que a formação de uma administração a toque de
caixa, para garantir a governabilidade depois do impeachment de Dilma Rousseff,
tenha obrigado Temer a recorrer a amigos e conhecidos, decerto confiante em sua
capacidade de articulação para enfrentar aqueles difíceis momentos e recolocar
o País no rumo da normalidade. Mas desde o início estava claro que os eventuais
ganhos políticos obtidos com essas escolhas mal compensariam os esperados
prejuízos para a imagem do governo e do presidente. As mais recentes pesquisas
de opinião, contudo, mostram um fenômeno raríssimo em política: Temer, agora
ele mesmo acusado de corrupção, é rejeitado pela quase totalidade dos
eleitores.
Como toda a unanimidade, esta
deve ser observada com cautela. Não se trata de questionar a metodologia das
pesquisas, embora, de um modo geral, esses levantamentos misturem opinião sobre
o desempenho dos políticos com intenção de voto, às vezes levando o
entrevistado a responder como se estivesse avaliando um candidato. Trata-se de
evitar a leitura simplista segundo a qual o Brasil inteiro é contra o presidente,
o que obviamente é um despautério.
Em primeiro lugar, é preciso
observar que Michel Temer, desde que assumiu o cargo, nunca foi exatamente
popular. Em junho de 2016, logo depois de se tornar presidente interino, Temer
contava com apoio de apenas 13% em pesquisa do Ibope, enquanto 39% dos
entrevistados já o consideravam um presidente ruim. Portanto, de saída, Temer
já não gozava da confiança dos consultados.
O que houve de lá para cá,
contudo, foi uma deterioração de popularidade que não encontra paralelo na
história do País. A avaliação negativa de Temer subiu de 39% para 77%, enquanto
a positiva despencou de 13% para 3%. Considerando que a pesquisa tem margem de
erro de dois pontos porcentuais, para mais ou para menos, é possível concluir
que quase ninguém no Brasil avalia positivamente o presidente.
Essa degradação é ainda mais
espantosa porque se deu num período em que finalmente o Brasil começou a dar
sinais alentadores de recuperação econômica, depois da trágica administração de
Dilma Rousseff. Em pouco mais de um ano sob o governo Temer, a taxa básica de
juros recuou de 14,25% ao ano para 8,25%; a inflação, que era de 9,28% em abril
de 2016, deve fechar 2017 em torno de 3%, recuperando parte do poder de compra
perdido durante os irresponsáveis anos petistas; o desemprego começou a ceder;
e a produção da indústria, que chegou a cair 11,4% em março de 2016, voltou a
subir, assim como as vendas do varejo.
Tudo isso aconteceu porque o
atual governo agiu de forma célere e responsável para debelar a crise legada
por Dilma, adotando políticas de austeridade e fazendo aprovar reformas com
vista ao equilíbrio das contas públicas.
Mesmo assim, o porcentual de
entrevistados pelo Ibope que consideram o governo de Temer melhor que o de
Dilma é de apenas 8%, ao passo que 59% consideram o desempenho do atual
presidente pior do que o da petista. São números que não encontram
correspondência com a realidade, sob nenhum aspecto, e só podem ser resultado
da desinformação que campeia nestes tempos de fake news.
Pode-se argumentar que Temer
enfrenta essa inaudita impopularidade em razão do noticiário que o envolve em
escândalos de corrupção, aspecto destacado na pesquisa. No entanto, é preciso
um grande esforço retórico para considerar os atuais casos de corrupção mais
graves do que os que marcaram os governos petistas, a ponto de conferir a Temer
um índice de desaprovação sem paralelo.
Tudo considerado, essa quase
unanimidade em relação a Temer indica que talvez falte ao presidente a
disposição de engambelar os incautos demonstrada pelo ex-presidente Lula da
Silva, que consegue manter apoio de 30% do eleitorado mesmo diante da montanha
de evidências do grande mal que ele causou ao País.
Título e Texto: Editorial, O Estado de S. Paulo, 2-10-2017
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Não publicamos comentários de anônimos/desconhecidos.
Por favor, se optar por "Anônimo", escreva o seu nome no final do comentário.
Não use CAIXA ALTA, (Não grite!), isto é, não escreva tudo em maiúsculas, escreva normalmente. Obrigado pela sua participação!
Volte sempre!
Abraços./-