“Donec eris felix multos numerabis amicos; tempora
si fuerint nubila solus eris”.
Ovídio – “Tristia”.
LULA QUER SAIR DE QUALQUER jeito das garras da cadeia. Embora seja
uma cadeia de brincadeira, vigiada por um monte de babacas com fardas e
insígnias da PF (Polícia Fedemal) o fato de o cachaceiro estar (não só estar,
se ver, se sentir, se pegar recluso), trancafiado, enjaulado ainda que de
mentirinha, de não poder ir e vir, vir e ir (a não ser para cagar e mijar numa
privadinha malcheirosa), essa desordem toda está sendo demais para a sua cabeça
de ameba e acreditem, senhoras e senhores, toda essa porra está lhe tirando do
sério. Daqui a pouco ele desaba com uma dessas doenças convencionais, mazelas
compradas a preços de ocasião.
Lula quer estar solto, desamarrado,
desatado, livre nas ruas, promovendo algazarras, berreiros, rebordosas, arruaças,
caravanas, desordens, bagunças, podendo, a seu bel prazer, continuar dando
tirinhos em ônibus e se posando de vítima. Lula é uma vítima. Vítima dele
mesmo. Vítima da sua imbecilidade, da sua falta de caráter, de decoro, do seu
desplante, do seu mau governo, da sua vida desregrada, vivida para roubar e
foder a vida dos brasileiros. Há, evidentemente, aqueles imbecis e tapados, de
carteirinha, que acreditam na sua inocência. Uma inocência, diga-se de
passagem, degenerativa.
Esses hipócritas são capazes
de vender suas mães e pais, barganharem mulheres e filhos, sacrificar a própria
existência para que Lula não seja hostilizado. Lula é uma espécie de rei sem
trono, galo sem poleiro, palhaço sem circo, capeta sem inferno. Todavia, de
tridente nas mãos, para fustigar quem não estiver do seu lado, ombro a ombro.
Entra em cena, nesta altura do campeonato, aquele velho ditado. “Enquanto
houver São Jorge, burro não anda a pé”. Sempre aparecerá, ainda que dos
cafundós dos salafrários, um asnático que o apoie incondicionalmente.
Lula peleja como Dom Quixote,
não o de La Mancha, de Cervantes, mas o de La Guarujá, um pequeno vilarejo
conhecido mundialmente como Tríplex do Condomínio Solaris, de Cervemdepois, uma
região bonita e aconchegante, num lugar incrivelmente paradisíaco, não outra
senão a bela e fogosa Praia das Astúrias, mudada recentemente para Praia das
Alturas, em vista do imóvel 164-A, dos dezenove dedos ficar muito acima do
nível do mar. Dizem que lá do alto, a vista é marisamente deslumbrante!
Nessa confusão toda, os
moinhos de ventos de Lula são muitos. Tantos quantos suas tramoias e
trambiques. E tem uns nomes criativos, como os das operações deflagradas pela turminha
da Polícia Federal. Vejamos alguns. Moinhos de Moro com ventos fortes de través,
Moinhos de Lavagens de dinheiros com aragens vindas do sul, Moinhos das propinas
vantajosas com frescores de caudas sem rabos, Moinhos das Reformas triplexianas
chamuscadas com altas pressões de mais de trezentos quilômetros por hora,
Moinhos do Grupo OAS com bocejos odebrechtcheanos, Moinhos da Lava jato com poeiras
de outras aeronaves menores, Moinhos das Corrupções passivas com bafejos petistas,
Moinhos do terreno do Instituto Lula com brisas moderadas a Zelote, a
“petrobosta”, etc. etc.
Apesar disso, Lula, como
excelente samaritano (ou ministro frustrado de Vana, o outro nome de Dilminha) tem
reservado, para ela, uma cocheira de primeira, lá para as bandas de Atibaia. Dizem
tratar-se de um sítio impecável, que está dando, apesar dessa primazia, uma
encrenca da “moléstia”. Segundo comentam, a quadrúpede, em tempos que reinava Dulcineia,
ganhou vários páreos quando corria nos hipódromos dos Palácios da Alvorada, do
Janucú (não confundam com Jaburú) e do Planalto. Como nada é eterno e
imperecível a eguinha pocotó-pocotó, perdeu a mamata.
Virou La Senõra Cornélia no momento fatídico em que Michelzinho Jackson
Temer meteu-lhe um belo chute no traseiro balofo e sentou, ele próprio, em
carne e sem-vergonhice a bundinha magra na cadeira de Regente desta
republiqueta de anarquistas e mazorqueiros. Enfim, caros leitores e amigos,
tantas águas rolaram e ainda fluirão por debaixo da ponte, que não é possível,
atualmente, a qualquer pessoa de senso prático, dizer quem é mais ladrão ou que
figura a lá Tiririca está capacitada (ou apta) a continuar comendo às nossas
custas e expensas.
Nesse merdeiro sem fim, Lula,
para muitos, continua Dom Quixote. Com ou sem Rocinante. Com ou sem Dulcineia.
Talvez a Dulcinéia de Lula, hoje, esteja mais (não para Dilminha) certamente para
a fogosa Altisidora, aquela “pulcela” da corte da Duquesa do romance de
Cervantes, que simulou estar apaixonada por ele, e atentem, botem tempo nisso!
A mesma putinha que dissimulou uma espécie de melancolia erótica, numa farsa
burlesca planejada pelos Duques imortais. Indagações convergem desesperadas.
Saindo um pouquinho da historinha de Dom Quixote.
Em dias atuais, caros leitores
e amigos: quem seriam esses Duques imortais? O juiz Moro? Gleisi Hoffmann? A
galera do STJ, o “Tribuanimal” da Cidadania? Os “amigos” que ele (quando presidente em
exercício de meus bolsos primeiro), concedeu altos cargos com salários
estratosféricos e agora o deixaram a ver navios? Navios não, agentes de óculos escuros,
sujeitos com caras de maus. Pensem amadas, raciocinem amados. Que fim levou
Sancho Pança?
Quem seria nessa hora em que
Lula se pega enclausurado como um noviço virgem à espera da sua consagração
futura, qual seja (cumprir doze anos e um mês vendo o sol nascer com barras de
ferro), a pessoa austera, batuta e digna, a ser considerada sua (seu) fiel
escudeiro? Talvez o companheiro Bolsonaro, a amiga Marina Silva, o chegado “brother”
Palocci? Quem faria parte da sua matilha? Quem seriam os pulguentos com as
retaguardas comprometidas? Em verdade, senhoras e senhores (“Non bene pro toto
libertas venditur auro”). Em português seria mais ou menos “Liberdade e soltura
não é por ouro comprado”.
“Liberdade e soltura não é...”.
Liberdade e soltura são coisas
distintas, como o joio e o trigo, para homens nobres, para criaturas distintas,
para os conspícuos que não se vendem. Liberdade e soltura são para os machos
que não se desbaratam, não se dispersam, para os que não se deixam ser levados
pelo poder. TODO PODER É PODRE. Somente os desgraçados e descaídos de espírito,
os vazios de alma, têm coragem de se corromper e morrer por ele. Nosso
brazzilzinho, a bem da verdade, prolifera decadente, cheio de ratos de esgotos.
Está entupido até o nariz dessa gentalha. “Gentalha, gentalha, gentalha”.
Tradução da frase de Ovídeo
citada acima: “Quando és feliz tem muitos amigos;
em tempos nublados, ficas só”.
Título e
texto: Aparecido Raimundo de Souza, jornalista. De São Paulo, Capital.
11-5-2018
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