terça-feira, 29 de setembro de 2020

As empresas querem lacrar. O que explica esse fenômeno lamentável?

J.R. Guzzo 

Quando alguém poderia imaginar que a Coca-Cola, por exemplo, fosse virar uma organização de esquerda? É uma piada, realmente, mas é assim — sendo “de esquerda” — que a empresa imagina cumprir uma das suas “missões” hoje em dia. Não está sozinha, é claro, pois uma das certezas que se pode ter nessa vida é que o grande capital anda sempre na segurança das manadas, principalmente quando se fala de multinacionais – para onde vai a vanguarda do bando, o resto vai atrás de olho fechado. Unilever, Fiat, Avon, Ford, Santander – é por aí.

 Na verdade, vai ser difícil, daqui mais um pouco, encontrar alguma marca de grande porte que não tenha entrado neste bonde. Nem é preciso dizer para onde estão indo empresas brasileiras ansiosas em imitar o “politicamente correto” do Primeiro Mundo. Vão na mesma direção, é claro: O Boticário, Renner, Magazine Luiza etc.

Magazine Luiza anunciou um processo de seleção só para negros: empresas seguem comportamento de manada e ficam de bem com a turma de linchadores virtuais. Foto: Jonathan Campos/Arquivo Gazeta do Povo

A forma de militância adotada pela maioria é não anunciar seus produtos em publicações excomungadas como “de direita”, sobretudo no mundo digital, pelos grupos de vigilantes políticos ou pelas “agências de verificação de notícias” que se multiplicam por aí afora. Também podem, como no sistema eletrônico PayPal, não aceitar pagamentos em favor de “direitistas” em geral. 

Redes sociais como o Twitter e o Facebook, igualmente, se juntaram a outros monumentos do capitalismo mundial para censurar mensagens que seus diretores consideram conservadoras demais, ou não suficientemente “progressistas” — e para banir dessas plataformas os participantes que receberam sentenças de condenação pelo delito de “direitismo”. 

Talvez ajude, no entendimento desse fenômeno, ter em mente uma realidade dos dias em que vivemos: boa parte dos executivos de hoje têm vergonha das empresas em que trabalham, e do desempenho econômico que elas exibem. Têm vergonha dos seus salários, dos seus SUVs e dos capacetes importados que usam ao pedalar suas bikes. Têm vergonha dos restaurantes que frequentam, e onde nunca encontram um negro. Têm vergonha dos condomínios em que moram, e dos clubes onde fazem esporte. 

Só que não querem abandonar nada disso, é óbvio – e a saída que encontram para convencer a si mesmos que estão lutando contra a pobreza, a desigualdade e a injustiça é usar as empresas em que trabalham para “agir contra a direita”. Ou, então, contra o “racismo” e a favor de “políticas” que chamam de “identitárias”, “inclusivas” e outras novidades. Sai de graça, e só dá cartaz. 

Tempos atrás o banco Santander, por exigência do então presidente Lula, demitiu uma funcionária que tinha feito críticas a decisões econômicas do seu governo. É o mesmo tipo de coragem que as grandes empresas exibem agora na sua campanha pelos “valores democráticos” — a coragem de quem se esconde no meio de uma turma de linchadores para fazer “justiça” sem correr risco nenhum. 

Título e Texto: J.R. Guzzo, Gazeta do Povo, 28-9-2020, 17h30

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