terça-feira, 17 de agosto de 2010

Reinaldo continua dissecando o PT + Dilma, a gerente de Dom Sebastião

Reinaldo Azevedo
Suportam um texto longo, assim, no meio da tarde? Então vamos lá. Acho que vocês vão gostar.
Reportagem do Portal G1 (abaixo) informa que a dificuldade de se concluírem obras no Brasil, segundo Lula, se deve à “inveja” e ao “olho gordo”. Mas não só a elas: o presidente também evoca as dificuldades legais relacionadas a licenças ambientais, Ministério Público etc — áreas que, não é segredo para ninguém, foram palcos preferenciais da militância “de base” do PT durante muito tempo. Mas isso fica para outra hora. Quero tratar um pouco do discurso da “inveja” e do “olho gordo”.
Alguns “analistas” vêem essas batatadas de Lula com certo encanto, evidência, dizem, de que temos, de fato, um “homem do povo” no poder. Eu, como sabem, vejo de outra maneira: evidência de que temos no poder o representante de um partido autoritário, destinado a fagocitar as legendas que lhe são próximas, organizado para eliminar os adversários, recorrendo, se preciso, ao jogo sujo. Lula é o principal operador dessa máquina e faz uso consciente de sua origem e do conhecimento que efetivamente tem da mentalidade popular para reduzir as disputas a um jogo entre o Bem, que ele representaria, e o Mal, que os adversários encarnariam.
E são “adversários” — de fato, inimigos — todos aqueles que não se subordinam ao PT. Oponentes antigos, uma vez abrigados sob o guarda-chuva petista, tornam-se forças benignas: Sarney, Collor, Renan, Jader e quantos outros queiram pertencer ao grupo. Basta ajoelhar: Lula lhes colocará a espada sobre os ombros, cobrando fidelidade eterna, e lhes concederá os ducados onde podem pintar e bordar, submetendo, assim, o coronelismo a uma espécie deaggiornamento, desde que ele se subordine às vontades do Moderno Príncipe.
Um projeto de poder (na verdade, uma construção cada vez mais sólida) complexo, organizado racionalmente, segundo princípios muito claros e estabelecidos de economia política — que tem nos fundos de pensão, fazendo uma piadinha, a “acumulação primitiva do capital” desta economia de mercado gerida pelo PT —, tem, no entanto, numa suposto homem primitivo o seu grande animador e propagandista. Vejam como Lula pode apelar a aspectos de, sei lá como dizer, feitiçaria e bruxaria para ganhar a adesão popular.
Não se enganem: são milhões os brasileiros que estão certos de que não conquistam isso ou aquilo porque o vizinho os inveja; porque uma má sorte determinada pelo olhar maligno do outro os persegue. Não por acaso, proliferam as seitas neopentecostais — nem todas são picaretagem, mas boa parte não passa disso — que se oferecem para tirar o “demônio” da vida do fiel, mediante, evidentemente, generosas doações em dinheiro, já que um inimigo do capeta não trabalha de graça. Para que o Coisa Ruim se vá, é preciso apenas se transformar num fiel, pagando o dízimo.
É minha a frase, antiqüíssima, de que, por exemplo, a Igreja Universal do Reino de Deus é o PT da religião, e o PT é a Igreja Universal da política. Lula e Edir Macedo se dão muito bem, são hoje aliados inquebrantáveis, porque, de fato, são muito parecidos. O petista submete a política, a história, as relações sociais, tudo, a seu “livre exame” e diz a respeito o que lhe dá na telha. O “bispo” faz o mesmo com a Bíblia. Lula é capaz de relegar ao lixo formidáveis conquistas do Brasil, como o Plano Real, por exemplo, porque isso interessa à construção de seu império político. Macedo é capaz de recorrer ao Eclesiastes, como já fez, para justificar o aborto porque isso interessa a seu império religioso. Ocorre que a religião, em certos casos, precisa se colar à política porque o “reino de Deus” ainda depende do “reino dos homens”. E a política precisa, em certos casos, grudar-se à religião porque a utopia, os amanhãs que cantam, são parentes da crença.
Assim, Macedo, o religioso, é um político; Lula, o político, é um religioso a seu modo. Se preciso, o demiurgo pedirá aos brasileiros que coloquem um copo d´água perto do rádio quando ele engrola o seu “Café com o Presidente”.
Irrelevante
Uma fala como aquela é irrelevante? Claro que não! Trata-se de um  fator de deseducação política e de apelo ao cretinismo. Ainda que poucos a tenham lido agora, o fato é que é expressão de uma cultura política que se espalhou. Lula conquistou, com esse jeito, a condição de inimputável e de protagonista do jogo do “ganha ou ganha”: o que der certo no Brasil é obra sua, pessoal, intransferível, fruto de sua genialidade; o que der errado deve ser atribuído ao desejo que seus adversários têm de prejudicá-lo. Não podendo, no entanto, apontar uma só ação concreta de sabotagem — E COMO O PT SABOTOU GOVERNOS PASSADOS!! —, resta a esse prosélito da religião petista acusar o poder sobrenatural dos adversários: inveja, olho gordo, mandinga…
Qual é o efeito desse discurso em boa parte dos brasileiros? O emburrecimento. E o país, evidentemente, perde porque não se consegue debater um só de seus problemas reais ou potenciais, que vão se manifestar daqui a pouco, sem ter de enfrentar a “popularidade” do  líder.
Limites dessa fala
A má notícia, obviamente, é que essa construção é complexa, difícil de desmontar, e só perderia seu vigor se o país vivesse um grande desastre em razão das escolhas de Lula, o que, obviamente, ninguém quer. A boa notícia, ainda que isso demande algum tempo, é que o “esquema” petista depende visceralmente deste animador de templos, deste “pastor” de imposturas. E essa é uma experiência que não mais se repetirá porque aquele país que o deu à luz politicamente também não existe mais. Não haverá outro Lula saído das entranhas de nossa complexidade sociológica; não haverá outro Lula com essas características, se me permitem, psicológicas — destituído até mesmo de um resquício de superego…
Peguem essa fala da “inveja” e do “olho gordo”. Caso Dilma venha a ser eleita, vocês a imaginam explicando assim um insucesso do governo, a demora para realizar obras. Poderia até, já que petista, culpar os outros, mas lhe faltaria a “legitimidade” — que eu chamo de “inimputabilidade” — para enveredar pelo caminho do misticismo vulgar e, assim, desqualificar os adversários. A boa notícia, em suma, é que o PT é um partido com tempo de duração — o tempo de duração de Lula.
Subsistirá, sim, como aparelho por muitos anos, mas vai se rarefazer eleitoralmente quando não mais tiver seu líder místico. A ascensão eleitoral de Dilma é a maior evidência disso. Numa esfera estritamente psicológica, Lula só a escolheu porque ela vinha rigorosamente do nada, era uma gaveta vazia. Ao fazê-lo, ele reiterou o seu poder absoluto sobre a máquina e a prevalência dos “Carismas” no confronto com a estrutura eclesiástica do partido, que preferia outro nome. Curiosamente, caso leve Dilma à vitória, conduz o partido a uma espécie de derrota. A gigantesca Igreja Petista não sobreviveria sem seu profeta.
Encerrando
Lula parece muito saudável — e eu jamais desejo a má sorte de quem quer que seja (à diferença do que fazem os petralhas, com sua permanente urucubaca contra mim) — e vai continuar com seus dons “proféticos” e “carismáticos” por um bom tempo. Isso faz dele e de seu partido forças invencíveis? Eu acho que não. Mas ambos têm de ser enfrentados  — e esse enfrentamento terá de se dar menos na esfera administrativo-gerencial do que na de valores, para voltar a tese antiga minha. Desdobrarei este aspecto em outros textos, ao longo dos dias, dos meses, dos anos se preciso.
Porque de uma coisa os petralhas podem ficar certos: sei que eles não desistem de mim, mas eu também não desistirei deles. Eles continuarão a me esconjurar em seus rituais macabros de exorcismo. Eu continuarei a dissecá-los.
Por Reinaldo Azevedo



Na TV, Dilma é só a gerente de Dom Sebastião

No post acima, abordo o binômio “PT-religião”. Acho que o texto ficou bacana, avaliem. Eu mesmo o coloco entre os mais claros que li sobre o assunto. Mas a avaliação tem de ser do leitor. Há um outro aspecto a ser dito a respeito.
A propaganda de Dilma na TV apela tanto ao futuro quanto à nostalgia: os dias gloriosos que ela traria ao Brasil se conjugam com os “bons tempos” de Lula, que, sugerem as peças publicitárias, já são quase coisa do passado. Cruzam-se, assim, dois apelos de caráter emocional — e irracional.
A tutela de Lula sobre a candidata — e a candidatura — e tal que, se vocês repararem bem, Dilma está sendo oferecida como um interregno entre Lula e Lula. Por isso a insistência de que “ela é ele”. Lula vive uma espécie de “getulismo de exaltação”: aquele se matou,  escreveu, porque, escravo do povo, não queria que o povo fosse escravo de mais ninguém — é o chamado estilo “cafona-suicida”…
Lula está vivíssimo, não é? A campanha sugere que ele entrega “o povo” para ela tomar conta, como quem vai ali e já volta. Dilma é só a gerente de Dom Sebastião.
Por Reinaldo Azevedo

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