domingo, 13 de fevereiro de 2011

Khaled Said: Como a polícia egípcia criou um mártir num cibercafé


Khaled Mohammed Said foi o "mártir" que a "revolução branca" precisava. O jovem, amante de música, formara-se em programação de computadores nos Estados Unidos e regressara à sua cidade natal, onde vivia com a mãe viúva. Um licenciado, afinal, como o jovem tunisino que se imolou pelo fogo porque não tinha emprego e a polícia lhe confiscara o carro onde vendia legumes na rua. Said não escolheu a morte, mas ela bateu-lhe à porta pelas mãos da polícia de Alexandria. Meses depois, a sua história galvaniza milhares de egípcios num protesto que leva à queda de Mubarak.
No dia 6 de Junho de 2010, Khaled Said, num cibercafé em Alexandria de onde dois polícias, vestindo à civil, o levaram para uma das esquadras da cidade. Não o fizeram de forma pacífica, bem pelo contrário. Esmurraram-no, pontapearam-no, bateram-lhe com a cabeça contra a parede. Tinha 28 anos e faleceu em consequência dos maus tratos de que foi objecto às mãos dos polícias.

Testemunhas oculares contaram a organizações de defesa dos direitos humanos, como a Human Rights Watch, que quando Khaled Said foi levado para o carro da polícia já estava em coma; avançam mesmo que um médico, que se encontrava presente no cibercafé ou que passava na rua quando o estavam a levar para a viatura, teria tentado reanimá-lo.
Apesar da violência ter sido presenciada por várias pessoas, inclusive pelo dono do cibercafé, a polícia não teve qualquer pejo em afirmar que ele tinha resistido à ordem de prisão, "por isso usaram um pouco da força", e que a sua morte não teve relação com qualquer tipo de tortura, mas que Said, "procurado por roubo e posse de armas", apenas morrera "sufocado" ao tentar engolir um "pacote de axixe", declarações corroboradas por dois médicos legistas. Mas a razão da atitude da polícia era outra: Said teria em seu poder vídeos que implicavam polícias no tráfico de droga.
As imagens do corpo brutalizado de Said provocaram o repúdio e a revolta na cidade. Houve protestos que foram duramente reprimidos, mas o poder acabaria por levar os dois agentes a tribunal, num julgamento fantoche que a ninguém convenceu.
Meses depois, porém, um jovem executivo da Google recupera o nome de Khaled Said e lança uma campanha no Facebook contra a brutalidade policial. A página "Somos todos Khaled Said" acaba, depois, por fazer história, ao mobilizar milhões de egípcios não só contra a polícia mas contra o regime.
Print screen: JP

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