O Presidente José Eduardo dos
Santos fez mais pela oposição ao seu regime, na entrevista à SIC, do que a
digressão europeia de Isaías Samakuva e Abel Chivukuvuku, bem como o conjunto
de iniciativas críticas da sociedade civil dos últimos meses. Revelou o seu
desinteresse pela realidade do país.
O Presidente, ao chamar de
frustrados os jovens que se têm manifestado contra o seu poder, manifestou o
seu medo pela juventude. O Emiliano Catumbela, de 22 anos, está preso desde o
dia 27 de Maio, por ter exercido o seu direito de manifestação. Tem sido
torturado e a Polícia Militar do Presidente tentou arrancar-lhe uma unha com um
alicate. É assim que o senhor Presidente trata os jovens que frustra com as
suas políticas.
Vi o Presidente por aquilo que
ele é, cínico e incapaz de manifestar qualquer empatia para com o sofrimento do
povo que, há 34 anos, atormenta com o seu modo de governação.
Senti-me triste ao ver o
Presidente a expor o seu intelecto. É um universo de lugares comuns. É básico.
Pouco ou nada sobra para oferecer, a si próprio e aos seus colaboradores, uma
saída airosa do poder.
Mais uma vez, organizou-se um
carnaval presidencial. A incoerência política vestiu-se de estratégia do grande
líder. Como sempre, a turba de militantes do MPLA ficou à espera da revelação
dos grandes pensamentos do seu incontestável guia. O carnaval passou à
telenovela da entrevista.
A entrevista-propaganda foi
uma vergonha para a nação angolana e uma zombaria para os portugueses.
Fica apenas a pergunta. Serão
os angolanos tão atrasados e divididos ao ponto de se renderem a um homem cujas
acções são um insulto à inteligência colectiva de todo um povo?
A culpa não é dele,
compatriota. É minha e tua. É o que tenho a dizer.
Título e Texto: Rafael Marques de Morais, Maka Angola, 07-06-2013
A entrevista, na íntegra, está aqui.
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