Na quarta-feira, como vimos,
70 mil evangélicos, segundo números da PM do Distrito Federal, se reuniram em
Brasília. Em coro, disseram “não ao controle” da mídia, pediram cadeia para os
mensaleiros, rechaçaram a tentativa de manietar o Supremo e o Ministério
Público, defenderam a liberdade de expressão e, claro!, como não?, defenderam
os valores da “família tradicional” — isto é, opuseram-se ao casamento gay — e
repudiaram a legalização do aborto. Esses dois últimos itens da pauta, no
entanto, bastaram para que o evento fosse cassado do noticiário. Jornalistas —
profissionais de imprensa pagos para revelar o que sabem, veem e apuram —
decidiram que lhes cabia atuar como censores. Melhor para os mensaleiros.
Melhor para os que querem um STF de joelhos. Melhor para os que quer defendem
um MP inerme. Melhor para os que lutam pela volta da censura de estado. Na
cabeça oca da militância, se alguém é contra o aborto ou casamento gay, deve
ser banido do mundo dos vivos. Já a Marcha da Maconha em São Paulo… Quanta diferença!
Ao longo do dia de ontem,
portais deram ampla cobertura ao evento, que foi parar nos jornais. Atenção!
Com muita boa vontade, mas muita mesmo, pode-se dizer que mil pessoas
participaram de algum modo do acontecimento. Com um pouco de rigor, constata-se
que não mais do que 200 marcharam. Não obstante, tiveram direito à interdição
de parte da pista da Paulista. O que eles querem? A legalização da maconha.
“Ah, essa pauta e boa!” E então aqueles 200 conseguem o destaque que 70 mil
evangélicos não tiveram. Não custa notar: em Brasília, em coro, aqueles muitos
milhares disseram “não” à legalização das drogas.
Já escrevi isso aqui e
reitero: ao jornalismo informativo, em casos assim, não cabe gostar ou não
gostar de quem está na praça — desde que seja uma manifestação pacífica, dentro
das regras acordadas do estado democrático e de direito. E foi o que se viu no
encontro dos evangélicos. Não houve um só incidente, nada, zero! Mais: o evento
em Brasília aconteceu num dia útil. Milhares de pessoas certamente deixaram de
ir ao trabalho, terão desconto em seu salário, para dizer o que pensam. Não
estavam lá pedindo benesses ao estado, não! Ao contrário: faziam um sacrifício
pessoal para expressar um ponto de vista.
Mas a imprensa é contra
algumas daquelas proposições. E já não lhe basta, se for o caso, escrever
contra. É preciso também fazer de conta que nada existiu — ou coisa pior: uma
reportagem do Estadão Online pôs na boca do pastor Silas Malafaia o que ele não
falou, a saber: que a união gay é crime. Não disse isso; não disse nada nem
perto disso. Repudiou que sua opinião, contrária à união, seja criminalizada.
Dos maconheiros, não se cobra
nem mesmo um mínimo de coerência, na hipótese, claro!, de que a erva e a
coerência sejam compatíveis. Os que marcham dizem querer a legalização da
maconha e argumentam, de forma estúpida, que isso contribuiria para diminuir a
violência do tráfico. Ora, se só essa substância for legalizada, é evidente que
a violência continuará por conta das outras drogas. Logo, uma manifestação em
favor da legalização da maconha, com esse argumento, será sempre uma
manifestação em favor da legalização de todas as drogas, sem exceção. Que país
do mundo fez essa escolha? Nenhum!
“Bloco do Atraso”
Neste ano, a marcha teve um
tal “Bloco do Atraso”. Algumas pessoas desfilaram com máscaras de políticos que
atuaram contra a militância dos maconheiros, com destaque para o deputado Osmar
Terra (PMDB-RS) e para a ministra Gleisi Hoffmann (Casa Civil). Pois é… Eu e o
PT não somos exatamente substâncias compatíveis, não é?, mas me resta dar os
parabéns à ministra Gleisi por estar sendo hostilizada por maconheiros. Acho
que honra a biografia da política e, sem dúvida, da mãe de duas crianças. A
ministra entrou no radar da turma da Esquadrilha da Fumaça por ter se
manifestado contra a descriminação e por ter negociado no Congresso o apoio à
proposta de Osmar Terra, que criou novos marcos para a política de combate às
drogas.
Volto ao ponto
Os evangélicos são muitos
milhões no Brasil. No que concerne aos valores, compõem com os católicos a
esmagadora maioria da população. Talvez essas maiorias devam se fazer ouvir de
um modo mais específico. Se alguns veículos de comunicação insistem em
ignorá-los ou hostiliza-los, talvez devam reagir, então, também como
consumidores dos produtos que esses veículos oferecem.
Setores da imprensa perderam
completamente a noção do que seja interesse público. A exemplo do que faziam
antigos jornais de esquerda, sua tarefa passou a ser “conscientizar” o leitor,
segundo uma cartilha ideológica. Essa moderna cartilha, é evidente, não traz a
linguagem militante dos tempos idos: socialismo, luta de classes, burguesia,
povo… Não! Hoje, é preciso aceitar a pauta das ditas “minorais oprimidas” e se
submeter a seus caprichos. Só assim, dizem, é possível ser… livre. Ou por
outra: o preço da liberdade passou a ser a ser a submissão a uma agenda.
Até alguns vagabundos que
decidem parar a cidade para protestar contra um aumento de R$ 0,20 (0,10 para
estudantes) na passagem de ônibus são tratados como pensadores de um novo
tempo. A maioria que se dane!
Título e Texto: Reinaldo Azevedo, 09-06-2013
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Amplos setores da imprensa tentaram cassar dos evangélicos o direito de dizer “não”. Agrediram os fatos, a democracia e os seus leitores;
Em Brasília, 70 mil pessoas pediram em coro cadeia para os
mensaleiros e disseram “não” ao controle da mídia. Mas, controlada pela
ideologia, certa mídia procurou esconder os fatos. ENTÃO VEJAM VOCÊS MESMOS!
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