Valdemar Habitzreuter
Bom, o homem/a mulher
filósofos são detentores de sabedoria; ou, ao menos, aspiram alcançar
sabedoria. É com sentido, pois, que se define filosofia: amor à sabedoria.

Este novo ministro já fez
duras críticas ao governo Dilma, e, no entanto, ela o chamou para substituir
Cid Gomes que foi demitido.
Que conclusão pode-se tirar
daí? Para empossar um crítico de seu governo, Dilma está se rendendo e
aceitando sua fraca atuação como presidente. Talvez o nomeou para, além de
traçar os rumos da ‘pátria educadora’, receba dele inspiração de sabedoria.
Será que o novo ministro
aguentará o rojão? Vai dizer amém à gerentona toda vez que lhe puxar as
orelhas? O futuro nos dirá...
Há dois mil e quinhentos anos
houve um caso parecido. Um filósofo sábio foi chamado à corte de Siracusa, onde
um déspota governava – Dionísio, o velho – para que recebesse conselhos de
sabedoria, de como governar com justiça. Trata-se de nada menos que o eterno e
sábio filósofo que a humanidade já produziu: Platão.
Platão elaborou uma fascinante
teoria política calcada justamente nos ideais da sabedoria. Só os sábios
saberiam governar com justiça. Por isso proclama que quem tem reais condições
para governar uma nação são os filósofos. Sem dúvida, quem ler suas obras que
tratam sobre política (A República, As Leis, Carta VII, etc.) fica admirado e
convencido da profundidade e congruência de sua teoria política.
Mas, a prática dessa teoria
ficou nos anais das ilusões. Platão quis colocar sua teoria em prática e
labutou no sentido de converter o déspota Dionisio em filósofo para que este
governasse com leis sábias e promovesse a justiça; no entanto, a situação
beligerante de Siracusa não permitiu que o déspota anuísse à teoria de Platão
com medo de perder o poder com a leniência para que o povo sofresse menos
opressão e tivesse mais voz e fosse mais ouvido. Platão foi considerado pelo
déspota um traidor com intenção de levante popular e, assim, foi expulso de
Siracusa.
O filósofo Janine terá êxito
no Governo Dilma? Só se souber impor sua sabedoria com mais desenvoltura do que
Platão, e conseguir domar o modo despótico de governar de Dilma...
Título e Texto: Valdemar Habitzreuter, 29-3-2015
Ouso afirmar que se “já fez duras críticas ao governo Dilma”, fê-lo por julgar o governo insuficientemente “democrático”…
ResponderExcluirEste trecho faz parte do livro Por uma nova política. Uma campanha na SBPC (Ateliê Editorial, 2003).
[…]
A idéia de uma nova política vem também de uma questão que me chamou a atenção há cerca de dez ou doze anos. No começo dos anos 90, com a esquerda sendo atacada devido ao recuo mundial do comunismo, constatei que a direita (ou o capital) detinha os melhores meios de gestão. A eficiência abandonara a esquerda e se dirigira para o lado do capital. Isso inverteu um movimento histórico. Lembremos que, vinte ou trinta anos atrás, ainda uma maneira de se referir aos países comunistas era por terem a "economia planificada", ao contrário dos capitalistas. E no entanto quase todos os países do mundo, na segunda metade do século 20, instituíram algum ministério do Planejamento. Assim o planejamento, iniciado na jovem União Soviética da década de 1920, foi um procedimento que se irradiou mundo afora. Veja-se então o que significou essa perda de iniciativa, à qual aludi, da esquerda para o capital.
Rapidamente, novos métodos de fazer funcionarem as coisas acabaram, na prática, com quase tudo o que representaria o anterior controle estatal. Reduziu-se, a uma escala microscópica, tudo aquilo que porta valor, tornando-se assim quase inútil revistá-lo na alfândega; idéias e imagens podem ser armazenadas em discos mínimos e transmitidas por uma linha telefônica qualquer, de modo que a censura se tornou ridícula e ineficaz; as comunicações se difundiram a tal ponto que controlá-las é vão; mesmo quem as intercepte e grave mal tem como processá-las, tal o seu volume. Assim, no plano dos meios, a esquerda se viu desafiada a repensar tudo. Uns o fizeram, outros, não. Mas, no plano dos fins, quem entrou em crise foi a direita. Os valores dela eram, tradicionalmente, os da família e da religião. Hoje dificilmente, pelo menos no mundo ocidental, tais valores serão defendidos com o vigor que antes os caracterizava. Uma esquerda sem meios de ação, uma direita com fins enfraquecidos, eis o quadro que se montava desde muito tempo mas que os anos 90 revelaram, e que continua presente.
O desafio é, então, o seguinte: como, com os novos meios, que repelem os controles convencionais, atender a fins importantes – que guardam, do cerne do pensamento de esquerda, a preocupação com a solidariedade. Disse, num dos textos de campanha, que as invenções tecnológicas costumam ser disputadas politicamente. O ultra-som pode servir para diagnosticar, curar – e para exterminar fetos do sexo feminino. Mas isso não quer dizer que a invenção seja neutra em termos sociais ou políticos. Acredito que todos os produtos da inteligência tendem a ajudar um mundo melhor. Não são neutros, pois, quanto aos valores. Mas essa é uma tendência, não algo automático. Entre a Internet como reino inconteste dos negócios e como arma democrática, uma luta se trava. Penso que a tendência maior dela é rumo à democracia. Mas precisamos dar nossa contribuição, para que isso se realize.
Aqui entra o uso rico dos meios, a campanha com um site, o uso da Web como espaço para difundir idéias e, mais que isso, discuti-las. Mas aqui entra também a questão final: afirmei, no prefácio deste livro, que a nova política dará menor peso aos interesses, e mais a ideais e a desejos. Da redução do peso dos lobbies e dos interesses, porque diminui a certeza na identidade de cada sujeito, falei então. Aqui, cabe distinguir ideais e desejos.
[…]
http://www.renatojanine.pro.br/FiloPol/pensando.html