terça-feira, 5 de maio de 2015

O humor de direita consiste em não irritar a esquerda

Vitor Cunha
A inexistência de humoristas de direita, assunto bem analisado por Rui Ramos, deve-se, sobretudo, a um factor importantíssimo: não há piada nas consequências de brincar com o esquerdismo. Não há rol de pessoas mais sisudas, conservadoras, casmurras e sem graça do que na esquerda que sente necessidade em se afirmar de esquerda.

A sério, com este ar sisudo, não dá vontade de rir?
“Eu sou de esquerda” repetido causa o mesmo efeito que causaria um “eu sou muito honesto” numa carta enviada da prisão. Se nunca ouviram tal coisa é porque os vossos amigos já não estão para vos aturar, algo que tanto acontece porque também têm essa necessidade patológica de afirmação – o que gera purgas – ou porque, simplesmente, ainda têm esperanças que percebam quando estão a ser ridicularizados silenciosamente. O método tradicional de um indivíduo que se diga de esquerda – a cada intervalo entre pestanejos – para encarar críticas é algo que vai do SMS insultuoso ao extermínio em massa. É tudo uma questão de escala. O que poderia ser cómico num indivíduo que tem na sala um busto de Lenine? No fundo, tudo, mas só até o indivíduo ter poder suficiente para exprimir o seu repúdio da forma mais apropriada, algo entre a perda de um emprego à perda das unhas com alicate ferrugento (o que, no último caso, o impediria de dádivas de sangue). O esquerdista tem muito orgulho em si próprio e não admite criticas, que encara sempre como um julgamento de carácter.

Além disto, é tudo uma questão de mercado. Com tanto humorista escatológico com procura, um humorista de direita seria só alvo de chacota pelos intolerantes esquerdistas, algo que desmotiva quando a melhor perspectiva de sucesso é uma plateia de meia-dúzia de pessoas que já leram um livro sem figuras.

Podiam existir humoristas de direita mas – que fazer – toda a gente tem que ganhar a vida. O SMS do Costa é a ilustração perfeita do sentido de humor de um esquerdista. É cómico, excepto para quem o recebe. À direita restam os artigos do doutor Soares sobre o Obama, o que tenta lutar contra a natureza que se revolta pela usura capitalista da exploração petrolífera que causa cataclismos geradores de austeridade que mata, como bem diz o Papa Francisco. Quem não acha piada a isto é um sisudo esquerdista.
Título, Imagem e Texto: Vitor Cunha, Blasfémias, 5-5-2015

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