sexta-feira, 1 de maio de 2015

“Rogo a Deus que me livre de Deus”…


Valdemar Habitzreuter
Se soubermos penetrar no âmago do significado desta frase estaremos nos dirigindo verdadeiramente a Deus. As religiões se abstêm de ensinar aos fiéis o único Deus a ser adorado e cultuado: o Deus do Nada.

A nós nos interessa o Deus do Tudo. Quem já não pediu a este Deus tudo que gostaria para sua vida – a garantia de uma vida feliz? Pedimos a Ele que nos livre de todo e qualquer mal; pedimos saúde para podermos gozar a vida; pedimos que nos livre das dores que nos afligem; pedimos proteção a nós e aos familiares; pedimos prosperidade nos negócios, nos trabalhos, na profissão; pedimos que conceda paz a toda humanidade; pedimos que nos conceda o céu após a morte e nos livre do inferno; e por aí vai toda uma ladainha de petições sem fim.

Em paralelo a todas essas nossas petições ainda rendemos-lhe glória por sua majestade e bondade; exultamos pela vida, pela beleza do Universo que nos concede; exaltamos sua onipotência que tudo pode, e, por isso mesmo, lhe pedimos que realize tudo o que pedimos.

A frase acima mostra que antropomorfizamos um Ser com vontade e desejos conforme nossas perspectivas e ansiedades. Somos nós que nos projetamos nesse Ser – que seja nosso escudo e garantia de tudo que nos interessa.

E quando nossas orações não são atendidas? Ah bom, aí entramos em contradições e lamúrias. Julgamo-nos pecadores e merecemos o castigo; admitimos que este Deus é um Deus misterioso e só nos atende segundo seus critérios, não nos dando satisfação das misérias que nos afligem. Mas mesmo assim continuamos nossas preces para que sejamos aliviados das mazelas.

Um grande teólogo e filósofo místico (santo) da Idade Média, Meister Eckart, percebeu que o cristianismo tornara-se uma religião de culto a um Deus distorcido de como realmente deveria ser cultuado. Daí sua prece: “peço-te, meu Deus, que me livres de Deus”.

O Deus deste místico é um Deus do nada; isto é, a paz da alma só nos é concedida quando o tudo deste mundo não seja perseguido com sofreguidão que a sufoca de sua verdadeira vocação que é: estar no vazio de Deus. Mas, o vazio de Deus não é um vazio sem preenchimento de algo; pelo contrário, é um preenchimento do nada total que, justamente, se constitui na ausência de toda criaturidade, ou seja, de toda criatura – materialidade - que possa nos prender como sendo primordial à nossa alma. A prece de Meister Eckart é no sentido de se livrar de um Deus que satisfaça seus desejos mundanos e mesmo o desejo de possuir Deus, o céu, a felicidade. Para ele, Deus deve ser cultuado como um vazio de tudo que, no entanto, é o TODO Absoluto. A prece de Eckart é o desejo de não ter desejo algum, nem mesmo de Deus; e é isso que constitui, diz ele, paradoxalmente, estar na paz de Deus.

Mas como não temos inclinação ao estado místico, fiquemos esperneando no nosso mundo de contradições, com nossos desejos e labutas de uma vida feliz. Mas, façamos jus hoje ao dia do trabalho, sem trabalho algum, ficando só no vazio da preguiça, e aplaudamos Dilma de ela tomar a decisão de não trabalhar hoje; isto é, discursar para os trabalhadores desta nação... 
Título e Texto: Valdemar Habitzreuter, 1-5-2015

3 comentários:

  1. Tem certos tópicos que apenas reclamam, esbravejam a raiva, mas são simplesmente desabafos sociais sobre negligências específicas, geralmente contra as atitudes dos desgovernos frequentes, em nosso país.
    Este tópico parece um ensaio muito plausível a ser construído.
    Mestre Eckart, morreu antes de ser julgado pela inquisição.
    Seus ensaios em maioria são verdadeiros paradoxos para um Frade dominicano, se não me engano.
    Uma de suas frase combina bem com esse texto.
    -" Pobres de espírito são aqueles que entregaram todas as coisas a Deus, assim como Ele as possuía quando ainda não éramos".

    "A gente não precisa pensar tanto no que deve fazer; deve-se antes pensar no que se deve ser. Se alguém é bom, também boas serão suas obras... As obras não nos santificam. Nós é que santificamos as obras".
    Finalmente, para tentar decifrar o que o mestre tentava passar às pessoas, ele dizia que entre rezar pela saúde do enfermo é muito melhor atender o enfermo em suas necessidades,
    Espero que finalize, o começo está excelente.

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  2. Gosto muito quando tocam neste assunto amigos Waldemar e Rocha.
    Ia escrever algo, quando lembrai de outra pessoa que nos diz como
    curtir essa presença de Deus em nós mesmos.
    Abraço, Ivan Ditscheiner

    Primeiro fique sozinho.
    Primeiro comece a se divertir sozinho.
    Primeiro amar a si mesmo.
    Primeiro ser tão autenticamente feliz, que se ninguém vem, não importa; você está cheio, transbordando.
    Se ninguém bate à sua porta, está tudo bem -
    Você não está em falta.
    Você não está esperando por alguém para vir e bater à porta.
    Você está em casa.
    Se alguém vier, bom, belo.
    Se ninguém vier, também é bom e belo
    Em seguida, você pode passar para um relacionamento.
    Agora você se move como um mestre, não como um mendigo.
    Agora você se move como um imperador, não como um mendigo.
    E a pessoa que viveu em sua solidão será sempre atraídos para outra pessoa que também está vivendo sua solidão lindamente, porque o mesmo atrai o mesmo.
    Quando dois mestres se encontram - mestres do seu ser, de sua solidão -felicidade não é apenas acrescentada: é multiplicada.
    Torna-se uma tremendo fenômeno de celebração.
    E eles não exploram um ao outro,, eles compartilham.
    Eles não utilizam o outro.
    Em vez disso, pelo contrário,
    ambos tornam-se UM e
    desfrutam da existência que os
    rodeia.
    _
    Osho

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  3. Ops ... Como diz Rocha, mais material para Valdemar
    Obrigado, Ivan Ditscheiner

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