sábado, 15 de abril de 2017

[Aparecido rasga o verbo] A minha Pás... escoa pelos meus dedos...

Aparecido Raimundo de Souza

Como nos anos anteriores, a minha páscoa não terá coelhinhos. Não haverá ovos, chocolates, sequer confraternizações familiares. Sozinho, com o tempo enjaulado em minha alma, nele me rastejo macambúzio e pegajoso.

Ao me olhar no espelho da vida (desse sopro perene que ainda flui em mim), percebo que o relógio do destino tornou meu agora num pasmo cotidiano. Estou, senhoras e senhores, num estado estranho e a minha gente em outro...

Nunca as nossas agendas se coadunam sobre a intranquilidade da minha aflição. Prevalece ad aeternum a discórdia brutal do ontem, a anormalidade vítrea do sempre. Resta, ainda, consumado, extinguido, fenecido, o elo perdido, o vazio sem fronteiras, o porvir sem horizontes.

Nenhuma nuvem benfazeja virá pairar sobre a minha cabeça, trazendo presságios encantadores, e vivificantes, cheios de ocasiões fantásticas e imorredouras.

A minha páscoa, mais uma vez, ficará, de novo, enfurnada numa saudade imensa. Saudade que nesse momento me atormenta.

O espírito se desfez e ainda se desfaz em voos eletrizantes, enquanto o coração, em frangalhos, acelera batidas descomunais. Nem ovos, nem coelhinhos, nem troca de beijos e abraços entre os queridos e mais chegados.

Apenas me acompanha a virtude dessa distância sem tamanho e sem fronteiras, desse sofrer sozinho e calado, calado e sozinho as intempéries do continuar a trilhar a vida de maneira moderada e prudente. 

Apesar dessa distância ingrata dos que amo, dos que me são caros, não perco, jamais, o discernimento do entusiasmo. Conservo vivo e pujante, em minhas entranhas, a serenidade lubrificada pelo prazer retomado, reconquistado, consertado, aperfeiçoado e plenamente restabelecido.

Não só isso, igualmente reiniciado, aprimorado, renovado. A serenidade, pois, me permite abrir sorrisos que mais tarde ilustrarão a solidão que agora me faz prisioneiro.

O meu agora, apesar dessas lacunas que me embriagam de loucas e tristes saudades, está prenhe de novas intenções. Sempre me vejo engravidado de caminhos e atalhos, que ainda não tive o prazer de percorrer.

Em contrapartida, materializados na atmosfera dos meus sonhos, entre ovos, chocolates, páscoa distante dos consanguíneos, teimam estar comigo, colados ao meu “eu” solitário, o Carinho e a Esperança do Deus Maior.

ELE não deixa a peteca cair. Zela para que meus momentos de Felicidade não se percam, ao contrário, apesar da distância funesta e letal, cuida para que todos os meus prazeres estejam presentes nos sagrados mais recônditos da minha memória.  

Em paralelo, renova, remoça, reanima, o meu entusiasmo, para que ele seja imortal enquanto eu dure. O homem, amadas e amados, começa a morrer (ainda que aos poucos), na idade ou no instante em que perde, de vez, e para sempre, a magia inebriante desse entusiasmo.
Título e Texto: Aparecido Raimundo de Souza, jornalista. De Fortaleza, no Ceará. 14-4-2017

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10 comentários:

  1. Respostas
    1. Este foi o primeiro texto seu que li. E que surpresa a minha! Encontrei-me em tantos trechos que fiz aqui um comentário e o deletei para refazê-lo. Sou deste jeito mesmo, uma infeliz característica de uma geminiana dominante. Mas a verdade é que, ao encontrar-me em tantas palavras, fiquei sem saber onde mais me identificava. "Ao me olhar no espelho da vida (desse sopro perene que ainda flui em mim), percebo que o relógio do destino tornou meu agora num pasmo cotidiano [...] Nenhuma nuvem benfazeja virá pairar sobre a minha cabeça, trazendo presságios encantadores, e vivificantes, cheios de ocasiões fantásticas e imorredouras [...] Sempre me vejo engravidada de caminhos e atalhos, que ainda não tive o prazer de percorrer [...] O homem, amadas e amados, começa a morrer (ainda que aos poucos), na idade ou no instante em que perde, de vez, e para sempre, a magia inebriante desse entusiasmo". Posso dizer que suas palavras descreveram meu resumo de vida e que tão jovem, então, comecei a morrer. De fato, é isso que a vida faz com a gente. Às vezes, sinto saudade do tempo em que nuvens de presságios encantadores pairavam sobre a minha cabeça. E, às vezes, não (veja! Sou mesmo uma fiel geminiana). No mais, o que escrevi anteriormente, repito, sem nenhuma dúvida: texto genial! Parabéns!

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    2. Resposta ao comentário do dia 28.04.2019, valendo esta reposta para todos os demais em nome de Barbara.
      Barbara é encantadora. Tem desses pequenos mimos. Impulsos de um coração que bate a mil por hora. Às vezes aparece, noutras some, cria asas e voa por espaços distantes, sem que consigamos entender. Mas eu, especificamente a compreendo e aplaudo. Ovaciono. Autora de fôlego essa geminiana simpática e feliz com a vida escreveu e publicou o livro “As Muralhas da Vida Eterna”.
      Com esse trabalho, nos brindou com uma história cheia de nuances e encantos. Esse romance de Barbara (é bárbaro). Nos leva a acreditar numa outra vida. Numa outra existência melhor que essa aqui em que estamos. Ela faz referência a outro estágio, uma paragem superior, onde o amor floresce e viceja na sua melhor forma de expressão. A história das “Muralhas...” gira em torno de três jovens que, num final de tarde, encontram uma misteriosa aldeia cercada por altos e robustos muros.
      A leitura do livro nos transporta para rincões distantes, onde uma padroeira nos moldes da Senhora Aparecida, (Nossa Senhora da Vida Eterna) carrega consigo um relógio que conta o tempo em retrocesso. Barbara criou nesse clima, uma espécie de “Horizonte Perdido”, como a maviosa e aconchegante “Shangri-Lá”, do escritor britânico James Hilton, nos idos de 1933. Nas suas “Muralhas...”, um universo majestoso de canduras e bucolicidades vêm à tona. Aflora, transformando a vida desses três personagens numa leitura que nos faz devorar o livro da primeira à última página, sem tempo de parar para respirar.
      O livro é tão bom que projetou a escritora da noite para o dia ao estrelato. Merecidamente! Virou a Bárbara, garotinha desconhecida, em celebridade. A ponto do ilustre novelista da Rede Globo, Aguinaldo Silva, autor de “O Sétimo Guardião” plagiar (isso mesmo plagiar) seu trabalho. Ele queria lhe dar uma Rastelly, mas o tiro saiu não pela culetra, mas pela culatra. Evidentemente Barbara ingressou na justiça, pedindo a suspensão da exibição da trama, e claro, pleiteando uma boa indenização pelo uso indevido de suas ideias.
      Particularmente não entendo esse ato meio atrapalhado ou abandalhado de Aguinaldo como “plagio”. Vou além. Vejo essas maldades, sem precisão, como roubo, assalto à caneta armada, sobretudo um tremendo desrespeito ao escritor desconhecido. No caso específico da Barbara, o “novelista” se deu mal. Até então tinha o Aguinaldo em conceito acima de qualquer suspeita. Todavia, depois desse fato... e ao assistir ao folhetim das nove da noite, vejo desfilar, um por um, os personagens de Barbara.
      Cá entre nós: o livro dessa jovem e elegante “mocinha mulher” chama mais a atenção que a trama imitada ou adulterada do escrevinhador. Entendo que a ala das baianas da dramaturgia da Rede Globo, carente de novas cabeças e ideias, necessitaria, com certa urgência, ser renovada. Aprimorada, reformada, a ponto de não permitir que seus “brafióticos escritores” saíssem (ou continuem a andar por ai, na calada da noite), se apropriando indevidamente de ideias alheias, e pior, sem a devida permissão.
      Mais bonito, mais honesto, mais leal, chamar para uma parceria, já que, como é do saber geral, Aguinaldo e outros autores “renomados” escrevem, ou dito de forma mais direta, “imitam”, ou fingem que escrevem as suas tramas sozinhos, quando, em verdade, cada um deles conta com a ajuda de uma galera de dezesseis ou mais co-autores. Esses infelizes (os colaboradores ou co-autores) não aparecem. Apenas dão fama aos “espertalhões”, ou aos reconhecidos e insignes “novelistas”.
      Oportuna, pois minha querida Barbara, a sua opinião, a sua participação, em torno de um texto meu. Como você me conhece de velhos carnavais, sabe que eu não deixaria de dar a resposta. De certa forma, você veio renovar, de maneira despretensiosa, mas elegante e gentil, “a magia inebriante de meu entusiasmo”. Acredite amiga, ele (meu entusiasmo) ficou mais forte.
      Aparecido Raimundo de Souza, de João Pessoa, na Paraíba.
      aparecidoraimundodesouza@gmail.com


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  2. "O homem, amadas e amados, começa a morrer (ainda que aos poucos), na idade ou no instante em que perde, de vez, e para sempre, a magia inebriante desse entusiasmo". Sábias palavras. Texto genial! Parabéns!

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  3. "DEUS ESTÁ DE FÉRIAS EM ÁGAPE COM SEUS ANJOS E DEMÔNIOS, PREOCUPADO COM AS COISAS DIVINAS. QUEM FEZ DO DIABO DIVINDADE NÃO FUI EU.

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    1. ACREDITE, meu caro Roccha. Nem eu. De qualeur forma, se descobrir, conto para o amigo. Obrigado pela sua participação. Aparecido Raimundo de Souza. de Sertãozinho, interior de São Paulo.

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  4. Agora, falando sério.
    Eu pergunto por que a maldade sempre é recompensada?
    Não me venham com aquele papo nojento de "livre arbítrio".
    Os maus e os males governam o Brasil e passam fortunas para seus descendentes, e o pobre sempre fodido, frequentando casas de religião com esperança de ir para o paraíso.
    Nesta esperança de paraíso os muçulmanos matam, estupram, apedrejam as adúlteras e matam as baitolas.
    Não bebem mas o haxixe rola solto.
    São sustentados pelo cristãos usuários das drogas.
    A rota mundial do haxixe está nos países muçulmanos.
    O deus muçulmano ainda dá de presente 100 virgens para quem morre em seu nome.
    No mundo cristão virgens só por acaso.
    Por que deus não caba com maldade no mundo nem pune os corruptos que esfacelam as políticas públicas?
    Porque não quer ou não pode?
    Na minha opinião nós pobres cidadãos nascemos para ser escravos.
    Escravos dos governos, dos religiosos, dos clubes esportivos, da coca-cola, do álcool, e agora do maldito "celular".
    O cara não tem onde morar, mora num buraco à beira dos esgotos, mas tem um celular.
    Alguns homenageiam deus no celular.
    Aliás me irrita saber que no fim do mundo "TODOS SERÃO PERDOADOS".
    CAIM matou ABEL e foi defenestrado do paraíso, foi para outra aldeia, casou e fundou uma cidade para seu filho ENOQUE.
    Os bandidos são filhos da puta, roubam e matam os pobres trabalhadores quando deveriam ir para Brasília, lá é que estão os ricos.
    Não existe blindagem para automóveis para .50.
    Poucos tem dinheiro para usar uma ESCALADE BLINDADA em Brasília.
    Não sequestram um maldito desses, que devem ser protegidos dos deuses.
    Cada vez mais me apaixono por NIETZSCHE.
    DEUS ESTÁ MORTO, mas só ele recebeu o telegrama.
    FUI, podem xingar a bel prazer, não ligo...

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    1. Concordo com suas palavras. Só discordo em um ponto. Não acredito que Deus esteja morto.
      Abraços.
      Aparecido Raimundo de Souza, de Sertãozinho, interior de São Paulo.

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    2. Dias atrás, numa reunião maçônica (meu abridor de portas)eu falei do número TRÊS e suas variantes. Vejamos algumas delas. Três verbos existem que, bem conjugados são lâmpadas luminosas em nosso caminho pela vida afora: APRENDER, SERVIR, COOPERAR.

      Três atitudes exigem muita atenção: JULGAR, REPROVAR, RECLAMAR.

      Três normas de conduta que jamais nos arrependeremos: AUXILIAR, SILENCIAR, ELOGIAR.

      Três diretrizes que nos manterão invariavelmente no rumo certo: AJUDAR SEM DISTINÇÃO, ESQUECER TODO MAL, e TRABALHAR SEMPRE.

      Três posições que devemos evitar em todas as circunstâncias: MALDIZER, CONDENAR, DESTRUIR.

      Três valores que, depois de perdidos, jamais serão recuperado: A HORA QUE PASSA, A OPORTUNIDADE PERDIDA,A PALAVRA PROFERIDA.

      Existem mais. Todavia, para responder (em complemento) ao meu amigo Roccha comentário de (23.04.2019 das 13.39), acho que os acima citados já estão de bom tom.

      Os bandidos são filhos da puta? São. Roubam e matam os pobres trabalhadores? Sim. brazzzilia é território estranho e para lá só vão os "onestos", os que cuidam dessa grande manada (de burros e bestas) conhecida por imagine, "povinho brasileiro".

      Um dia todas essas desgraças que mamam as nossas custas, que não largam nossos colhões, entenderão que NADA É ETERNO. ATÉ lá, que o Senhor do Universo nos ajude a seguir sempre estas regras: CORRIGIR EM NÓS O QUE NOS DESAGRADA EM OUTRAS PESSOAS (AI INCLUINDO OS LADRÕES QUE CHAFURDEIAM NO GRANDE AVIÃO POUSADO),AMPARAR-NOS MUTUAMENTE (E NOS DEFENDERMOS DOS RATOS DE ESGOTO) e, por derradeiro, AMAR-NOS UNS AOS OUTROS e TORCER (como torcemos para nosso time do coração), para que GADU ACORDE DE SEU SONO E MANDE TODA ESSA CAMBULHADA DE SAFADOS, DE PILANTRAS, PARA OS QUINTOS DO INFERNO. Desejo a todos e, em especial ao amigo Roccha, um forte e TAF. Aparecido Raimundo de Souza, de Sertãozinho, interior de São Paulo.

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    3. Gostei, mas nosso universo apesar de tridimensional, vive, respira DUALIDADE.
      Só usamos a tridimensionalidade nas medidas de volumes úteis, de resto esta foi substituída pleos milímetros por metro quadrado.
      Se as prefeituras medissem propriedades por metro cúbico estávamos matando guaipecas a grito com os valores do IPTU. fico chocado quando me falam em energias negativas. É um paradoxo porque tanto faz ou fez as energias produzem efeitos positivos. Teorema das massas explica isso. Só porque um carro anda de ré sua energia é positiva, apesar de ser para trás. Pensamentos negativos não significa são expressões para definir ressentimentos ou maldades do ser humano, mas foram positivamente pensados ou acumulados ou executados.
      Todos falam da luz mas esquecem que ela é invisível no vácuo.
      Ela é reflexiva, necessita de um objeto físico para refletir.
      A dualidade é tão real como polos magnéticos e tensões eletromagnéticas.
      Ela divide-nos em bons e maus, em bem e males, amor e ódio, macho e fêmea, agora inventaram o sexo tridimensional nem macho nem fêmea.
      As atitude podem ter quantas variantes quisermos.
      Para mim elas tem duas ou são boas ou são ruins.
      nosso mundo virou programa de humor negro onde até piadas matam.
      Sou gremista e não vou ao futebol há mais de 30 anos.
      É corrupto e eu não aceito.
      Dá-me frouxos de risos quando minha esposa colorado doente, pleonasmo necessário, fica a "secar" os jogos do grêmio.
      Grenal faz parte do dualismo gaúcho assim como os de outros estados.
      TAF para é TERMINAL AERODROME FORECAST.
      BOM DIA E FUUUUUUUUUUUI...

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