Sérgio Barreto Costa
Quando Nicolau Maquiavel
escreveu a sua mais conhecida obra, O Babush, digo, O
Príncipe, não dedicou nenhum dos vinte e seis capítulos desse tratado
político à figura do “convertido”. E era importante que o tivesse feito, uma
vez que se trata de um personagem importante na arte de conquistar e manter o
poder a qualquer custo, o tema abordado pelo ilustre florentino.
Vem isto a propósito de uma
entrevista que chamou a minha atenção no fim-de-semana. Estava a vaguear
pela internet e eis que me aparece uma fotografia do Daniel
Oliveira associada à citação “vivemos uma indignação permanente, vazia,
histérica e inconsequente”. Cliquei imediatamente no link,
entusiasmado com o que julgava ser o anúncio do lançamento de uma autobiografia
por parte do cronista do Expresso; mas, infelizmente, enganei-me, e a frase era
dirigida a essa entidade mítica chamada “os outros”.
Nessa entrevista, entre outras
considerações e análises, Daniel Oliveira detém-se na moção de censura
apresentada pelo CDS ao governo de António Costa, classificando-a de macabra e
oportunista. Anteriormente, já outras pessoas da mesma área política a tinham
apelidado de “manobra parlamentar”, mas como se tratavam de apoiantes da
Geringonça pensei que estivessem a fazer um elogio.
Pessoas mais maldosas poderiam
recordar as seis moções apresentadas pelos partidos de esquerda apenas entre
2011 e 2015, ou a carta aberta de 2012, assinada por Daniel Oliveira, pedindo a
demissão de Passos Coelho, mas seria bastante injusta a comparação dada a
diferença de contextos.
Nessa altura estavam em causa
assuntos bastante sérios, tais como as taxas da segurança social e os
vencimentos dos funcionários públicos, e agora trata-se apenas da morte de umas
dezenas de cidadãos e do colapso do Estado na sua função mais básica. É, na
verdade, caso para perguntar: se excluirmos a desorganização, a falta de
planeamento, as nomeações desadequadas, a desorientação, a descoordenação, a
desvalorização da gravidade dos eventos e as declarações totalmente descabidas
proferidas após a tragédia, quais são os motivos que justificam esta censura?
Título, Imagem e Texto: Sérgio Barreto Costa, Blasfémias,
24-10-2017
Truque
grotesco
Helena Matos
O PCP e o BE qualificam
a moção de censura do CDS a propósito dos incêndios de que resultou a morte de
113 pessoas como “aproveitamento político” e “truque grotesco”.
O Alexandre Homem Cristo fez o levantamento da fundamentação das moções de censura
apresentadas pelo PCP e pelo BE nos últimos 10 anos (2008-2017).
O PCP
apresentou SEIS moções de censura, uma das quais através
do PEV – 2008, 2010, 2012 (junho), 2012 (outubro), 2013, 2014. O que as justificou?
As ofensivas brutais “contra o valor dos salários” (2012)
O “ataque brutal aos direitos dos trabalhadores” (2008)
“A destruição da vida de tantos portugueses” (2012)
O “sentimento popular de rejeição da política de direita” (2014).
O “ataque brutal aos direitos dos trabalhadores” (2008)
“A destruição da vida de tantos portugueses” (2012)
O “sentimento popular de rejeição da política de direita” (2014).
Nesse mesmo período, o
BE apresentou TRÊS moções de censura – 2008, 2011, 2012. O que as justificou?
A “defesa das gerações sacrificadas” (2011),
A recusa do “Tratado Orçamental” (2008)
O “direito aos salários e às pensões” (2012).
A recusa do “Tratado Orçamental” (2008)
O “direito aos salários e às pensões” (2012).
Título e Texto: Helena Matos, Blasfémias, 24-10-2017
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