terça-feira, 24 de outubro de 2017

Noção de Censura e Truque grotesco

Sérgio Barreto Costa

Quando Nicolau Maquiavel escreveu a sua mais conhecida obra, O Babush, digo, O Príncipe, não dedicou nenhum dos vinte e seis capítulos desse tratado político à figura do “convertido”. E era importante que o tivesse feito, uma vez que se trata de um personagem importante na arte de conquistar e manter o poder a qualquer custo, o tema abordado pelo ilustre florentino.

Vem isto a propósito de uma entrevista que chamou a minha atenção no fim-de-semana. Estava a vaguear pela internet e eis que me aparece uma fotografia do Daniel Oliveira associada à citação “vivemos uma indignação permanente, vazia, histérica e inconsequente”. Cliquei imediatamente no link, entusiasmado com o que julgava ser o anúncio do lançamento de uma autobiografia por parte do cronista do Expresso; mas, infelizmente, enganei-me, e a frase era dirigida a essa entidade mítica chamada “os outros”.

Nessa entrevista, entre outras considerações e análises, Daniel Oliveira detém-se na moção de censura apresentada pelo CDS ao governo de António Costa, classificando-a de macabra e oportunista. Anteriormente, já outras pessoas da mesma área política a tinham apelidado de “manobra parlamentar”, mas como se tratavam de apoiantes da Geringonça pensei que estivessem a fazer um elogio.

Pessoas mais maldosas poderiam recordar as seis moções apresentadas pelos partidos de esquerda apenas entre 2011 e 2015, ou a carta aberta de 2012, assinada por Daniel Oliveira, pedindo a demissão de Passos Coelho, mas seria bastante injusta a comparação dada a diferença de contextos.

Nessa altura estavam em causa assuntos bastante sérios, tais como as taxas da segurança social e os vencimentos dos funcionários públicos, e agora trata-se apenas da morte de umas dezenas de cidadãos e do colapso do Estado na sua função mais básica. É, na verdade, caso para perguntar: se excluirmos a desorganização, a falta de planeamento, as nomeações desadequadas, a desorientação, a descoordenação, a desvalorização da gravidade dos eventos e as declarações totalmente descabidas proferidas após a tragédia, quais são os motivos que justificam esta censura?
Título, Imagem e Texto: Sérgio Barreto Costa, Blasfémias, 24-10-2017

Truque grotesco

Helena Matos

O PCP e o BE  qualificam a moção de censura do CDS a propósito dos incêndios de que resultou a morte de 113 pessoas como  “aproveitamento político” e  “truque grotesco”.

O Alexandre Homem Cristo fez o levantamento da fundamentação das moções de censura apresentadas pelo PCP e pelo BE nos últimos 10 anos (2008-2017).

O PCP apresentou SEIS moções de censura, uma das quais através do PEV – 200820102012 (junho), 2012 (outubro), 20132014O que as justificou?

As ofensivas brutais “contra o valor dos salários” (2012)
O “ataque brutal aos direitos dos trabalhadores” (2008)
“A destruição da vida de tantos portugueses” (2012)
“sentimento popular de rejeição da política de direita” (2014).

Nesse mesmo período, o BE apresentou TRÊS moções de censura – 200820112012O que as justificou?

A “defesa das gerações sacrificadas” (2011),
A recusa do “Tratado Orçamental” (2008) 
O “direito aos salários e às pensões” (2012).
Título e Texto: Helena Matos, Blasfémias, 24-10-2017

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