Aparecido Raimundo de Souza
Prólogo do livro “O Inventor
de assombros”, de Berredo de Meneses.
MAIS UM PRÉDIO PEGOU FOGO E CAIU em São Paulo. Antes, o Andraus, em
1972, e o Joelma, em 1974. Desta vez, o Wilton Paes de Almeida, todo revestido
de vidro e aço, projetado na década de sessenta, pelo arquiteto Roger Zmekhol.
A construção imponente e arrojada, com aço, vidro e concreto, sua fachada
externa espelhada, ficava na Avenida Rio Branco com a Antônio de Godói, ou mais
precisamente no Largo do Paissandu, ladeado pela Igreja Luterana de estilo
neogótico do pastor Frederico Carlos Ludwig. Dessa igreja, pouca, coisa sobrou,
em vista de mais de noventa por centro ter sido comprometida, como vitrais,
móveis de madeira de lei, bancos, altares, púlpito, o órgão centenário, entre
outras coisas tidas como irrecuperáveis.
Completamente tomado pelas
chamas, o saudoso Wilton Paes de Almeida veio a pique. Faleceu de morte
trágica. Carbonizado. Esse prédio pertencia a uma lista enorme de tantos outros
que os boçais e salafrários rotularam de “patrimônio histórico”. Ora, amados,
pensem! Um país que não tem história, cuja memória é mais curta que coice de
porco avexado pelo fato da sua mãe ser porca, um país que não sabe o que foi
feito da sua cultura, que abriga um bando de ladrões e pilantras em suas entranhas,
um país que não cuida de sua gente, do seu povo, vai tratar, ou ligar para essa
merda de patrimônio histórico?
Os responsáveis por esses
rotulados “patrimônios”, querem que esses acervos do tempo do ronca se
espedacem (ou “tombem, no sentido literal da palavra, de vez”) para os raios
que os partam. Foi o que aconteceu com o cinquentenário Wilton. Em questão de
segundos, onze mil metros quadrados de área construída, vinte e cinco andares
(vinte e dois pavimentos, uma sobreloja e dois subsolos), foram denotativamente
para as cucuias.
Engraçado e cômico (se não
fosse trágico), é que todo mundo esperava por essa catástrofe. Questão de
tempo. A tragédia anunciada, até que durou muito para se concretizar. Realmente
a desgraça se materializou à 1h30 da madrugada deste 1º de maio, terça-feira
passada, com o fogo surgindo (segundo testemunhas), no 5º andar.
As 2h50, lanhado, esfaqueado
por pontiagudas e impressionantes labaredas que se espalharam rapidamente por
toda a estrutura, o arranha céu, perdão, senhoras e senhores, o majestoso
“patrimônio histórico” para filhos sem mãe verem, não suportando o peso da sua
desdita, veio a baixo. Com isso, 372 pessoas de 146 famílias, que viviam em
estado de miserabilidade, ou de vulnerabilidade social e careciam da necessidade
de encaminhamento à rede assistencial, perderam o pouco que (não) tinham e
voltaram aos abrigos das ruas e avenidas adjacentes desta cidade elegante,
todavia, deselegante, desairosa e indecente, onde é cada um por si e Deus por
todos.
Após a desventura
concretizada, um vagabundo inescrupuloso, um verme saído dos bueiros, apareceu
do nada, em meio à multidão em polvorosa, com a cara mais deslavada desse
mundo. Estamos falando de Michel Jackson Temer, o nosso presidentezinho
inoperante, sem vergonha, mau caráter. Uma vez mais, revestido na falsa capa da
solidariedade, marcou presença e o fez tão somente para aparecer bonitinho na
foto. Na verdade, esse crápula só deu o ar da graça, junto com um bando de
vadios e cheira colhões, para fazer política, para mostrar ao povinho sem eira
nem beira, que é um homem íntegro e de caráter ilibado.
O companheirismo, a
prestatividade, o bom senso, a vontade de realmente AJUDAR, a seus semelhantes,
passou léguas desse imbecil. Somente quem não conhece esse câncer maligno
compra esse cidadão e o leva para casa, como bom moço. Graças a Deus, a pústula
cavalgadura não conseguiu seu intento. Foi hostilizado, vaiado, e, se não foge
do local, como um rato asqueroso, certamente teria levado umas boas porretadas
em sua fuça de cobra venenosa. Ora,
caros leitores e amigos. Se esse troço fosse um chefe de nação de verdade,
enfrentaria a turba de cabeça erguida. Se impunha. Se fazia ouvir. Ao
contrário, senhoras e senhores, saiu rechaçado, escorraçado. Rabo entre as pernas bambas.
No nosso entendimento, a ralé
deveria agir assim com todos esses tipos “merda enlatada” que se supõem acima
da lei e da justiça. E acreditem. Só se julgam assim, porque sabem de cor e
salteado, que as leis estão a seu favor, ou a mercê de seus bolsos, de suas
comodidades regadas a propinas. Na mesma descarga da latrina cheia de bosta, a
Justiça. Além de corrupta, é vadia, meretriz, rameira, prostituta,
irresponsável, distorcida, imoral, covarde, e, sobretudo, “TEMER-RÁRIA”.
Voltando ao idoso Wilton, as perguntas que ficam no ar, bailando, sem respostas. Acreditamos, ou melhor, temos plena convicção que não haverá ninguém de peito e coragem capaz de mostrar a tez ao vivo e a cores. Nessas horas amadas e amados esses “maxos pra xuxu enchuchuzados” criam asas. Voam, dão linha às suas pipas. Apesar disso, as indagações aqui ficarão postas: o que acontecerá com as 372 famílias que viviam no prédio em estado de pobreza e miséria? Cadê o famigerado Poder Público? Cadê o Ministério Público! Um mistério, diga-se de passagem. Que fim levaram os bundas-moles da prefeitura de São Paulo? Cadê o prefeito Covas?
Estaria enfurnado em alguma
cova com medo de algum outro edifício do “patrimônio histórico” cair por sobre
sua cabeça? Vamos mais: cadê o Marcio França, governador? Na França?
Fazendo?!... Não importa! Cadê o Estado Democrático de Direito? Onde foi parar
aquela frase linda e maravilhosa que apregoa “TODOS SEREM IGUAIS PERANTE A
LEI...?”.
Cadê os inoxidáveis dos
“Direitos Humanos” que foram visitar Lula na cadeia? Esses “Direitos Humanos”
não valem, igualmente, para os filhos da puta vitimados pelo incêndio e
consequente desabamento do Wilton? Cadê as redes assistenciais? Cadê a Polícia
Federal? Por certo, fedeu mal! Por Deus, caríssimos, onde está, ou onde estão
os Responsáveis, perdão, os Coordenadores do MLSM (ou Movimento pela Luta
Social por Moradias), na pessoa do insigne, notável e ardiloso Ananias Pereira
dos Santos? Como? Foi pra Santos? Com certeza, Ananias tem grandes ambições
políticas. Sonha alto.
Além de cobrar alugueis desses
infelizes, inflamar, entusiasmar, deflagrar, de modo acirrado e obstinado, os
fodidos, os sem tetos, os sem lares, os sem comidas nos pratos, os sem roupas,
os incautos e carentes, os sem visão de futuro (a invadirem as centenas de
ocupações baldias e alapardadas, espalhadas por toda a extensa capital
paulista) em nome da sórdida IMPUNIDADE, DA REPELENTE OMISSÃO DAS AUTORIDADES,
DO OBSCENO VÁCUO DOS PODERES CONSTITUÍDOS, DA INDÍGNA GESTÃO PODRE E MALCHEIROSA
DOS NOSSOS REPRESENTANTES NO CONGRESSO, NA CÂMARA E NO SENADO.
Enfim, para viver bem, ter uma
vida de nababo, faustosa, pomposa venturosa e outros “osas”, como vimos hoje
pela manhã, no “Bom Dia Brasil”. Ananias, caríssimos leitores e amigos, possui
uma casinha miserável, quase raquítica, com oito cômodos e churrasqueira,
graças ao que recebia indevidamente desses indigentes, desprotegidos,
desagasalhados, desvalidos e escoimados vindos de todos os rincões desse
brazzilzinho imenso e sem trancas em suas porteiras.
Esse, amados, em resumo, é o
nosso país. Não queremos mais tragédias, descalabros e desditas igual ao do
amigo Wilton. Que o Pai Maior o abrigue em sua santa misericórdia. Entretanto,
não se esqueçam. Outros setenta e tantos, na “Terra da Garoa” ou na “Capital
dos Paulistanos”, estão no mesmo quadro caótico e crítico do que aconteceu na
madrugada de 1º de maio. Fazemos referência apenas ao “Edifício Caveirão” na
região da Praça da Sé, e o antigo “Cine Marrocos”, na Conselheiro Crispiniano,
encostado a Santa Ifigênia, entre outros, cuja lista seria descabida trazer
neste espaço.
Isso sem falarmos, no mesmo
passo da tartaruga, que até agora ninguém, viva alma veio às redes nacionais de
televisão dizer ou esclarecer o que aconteceu, de fato e de direito, com as 372
famílias que viviam nas malfadadas fracções dos territórios impróprios que
ruíram abraçadas às chamas que as deixaram, impotentes e débeis, baquearem em
um amontoado de escombros. Será que essas pessoas, dito de forma mais branda,
será que essas famílias todas que lá se achavam “desacomodadas” do
intrinsicamente básico para a sobrevivência cotidiana foram milagrosamente
ABDUZIDAS?
Título, Imagens e Texto: Aparecido Raimundo de Souza, do Largo do
Paissandu, Centro de São Paulo, Capital. 4-5-2018
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Caríssimo amigo...
ResponderExcluirUma vez mais , muito bem colocada a crítica à esta "politica de bananas brazzileira"... à completa e infindável falta de respeito aos cidadãos desta malfadada e agonizante nação. Será que vingaremo?