terça-feira, 7 de junho de 2011

Abaixo o Saber!

Criação: José Carlos Manzano

Plínio Sgarbi
Em artigo recente, ("Abaixo o conhecimento!"), Alexandre Garcia cita o general falangista Milan Astray que, antes de invadir a Universidade de Salamanca encerrou uma discussão com o reitor Miguel de Unamuno com o grito: “Abaixo a inteligência”.
Antes de voltar ao artigo de Alexandre Garcia, vale lembrar que no período da ditadura militar, na década de 60 e 70, os veículos de comunicação estavam sujeitos a uma forte censura executada por agentes da polícia federal. Naquela época as produções artísticas tinham que passar pelo setor de censura antes de serem apresentadas em público. Isso quer dizer que a população só podia ver e ouvir o que a polícia federal previamente aprovasse. O objetivo era filtrar as “impurezas” dos veículos de comunicações. Arrisco dizer que o objetivo era nobre, porém a sua execução era muito exagerada e a metodologia arcaica.
A Música Popular Brasileira foi tratada pelo Estado como um ser nocivo, capaz de fazer mal à população. Segundo o governo, ela era ofensiva às leis, à moral e aos costumes. O "piadista" Ari Toledo, em tom muito sério, em recente entrevista no programa Raul Gil, disse que a ditadura censurava o que achava inteligente e bem produzido, e, também o que achava lixo. Muito que está sendo exibido na televisão aberta, em todos os seus horários, acha Ari Toledo que não passaria pelo crivo da censura, não por ser nocivo ao Estado, mas pelo simples fato de ser muito ruim, de péssima qualidade.
No ensino público, era comum haver muita conotação política nos centros e diretórios acadêmicos e pouca preocupação acadêmica. As “ideologias” eram diferentes, mas os métodos de ação eram muito parecidos: todos tinham um discurso “democrático”, dogmático. A maioria pertencia, “geograficamente”, à “turma do fundão”, só que de cantos diferentes. De um lado, os anticomunistas, pró-EUA, do outro, os anti-imperialistas, pró-URSS. Eram capazes de decorar doutrinas políticas, mas, incompetentes para entender as aulas, ou fazer as lições de casa. Tinham a fórmula para resolver todos os problemas do mundo, por mais complexos que fossem; mas precisavam de “cola” para passar. Mesmo assim, desprezavam e hostilizavam quem se ocupava de algo que eles consideravam totalmente incompatível com o ambiente escolar: estudar.

As Disciplinas EMC (Educação Moral e Cívica) e OSPB (Organização Social e Política Brasileira) tornaram-se obrigatórias no currículo escolar brasileiro a partir de 1969. Ambas ficaram caracterizadas pela transmissão da ideologia do regime autoritário ao exaltar o nacionalismo e o civismo dos alunos e privilegiar o ensino de informações factuais em detrimento da reflexão e da análise. Dessa forma, as duas matérias foram condenadas pelos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), estabelecidos pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) de 1996, por terem sido impregnadas de um “caráter negativo de doutrinação”. Sem ideologias partidárias, alguns estudiosos, no entanto, acreditam que o civismo brasileiro, apesar de estigmatizado como obrigação pelo governo militar brasileiro, poderia contribuir para a auto-estima do País quando abordado sem exageros.
Os concursos públicos para professores eram semelhantes aos concursos do Banco do Brasil, onde os melhores colocados escolhiam as cadeiras e a cidade. Muitos professores tinham que lecionar em cidades distantes e parece que os salários eram compatíveis para tal função.
A partir do fim da ditadura Militar, nos últimos anos, os sindicatos dos professores (por todo o Brasil) passaram a se preocupar apenas com o resgate da progressão salarial do professor, que é justo. Mas foram poucos, como Darcy Ribeiro e outros, que buscaram resgatar a educação de qualidade e, principalmente, a formação cívica e intelectual do corpo discente.
O fim do regime militar vem com a eleição indireta e a democracia imperou novamente. A liberdade foi restituída, a censura chegou ao fim, nasceram novos partidos políticos e finalmente alcançamos as eleições presidenciais diretas.
Antes censuravam a inteligência, a manifestação da inteligência, porém, hoje, "democraticamente" temos ainda o abuso de autoridade, pior e com outros propósitos. Agora há uma censura mais maléfica, livre, nefasta e solta que censura o SABER. O que tinha era muito mais consciência política e um interesse muito maior por parte do povo. E o que temos hoje? Alienação, corrupção, bandidagem, valores invertidos e drogas comandando uma geração inteira.
Voltando ao artigo de Alexandre Garcia, "o Brasil parece hoje tomado por falangistas que têm medo de livros, de escolas, de conhecimento. Bibliotecas estão abandonadas. Escolas malcuidadas. Professores malformados. Alunos semianalfabetos, ainda que tenham diploma de curso superior. O mérito está sendo abolido, substituído por cotas e por aprovação automática de ano. E agora o MEC referenda um livro, distribuído a quase meio milhão de alunos, que apóia o falar errado. O governo não se importa de contrariar a Constituição que estabelece o Português como a língua oficial do Brasil. Como terá vida melhor alguém que, não aprendendo a língua, não vai se comunicar direito, nem vai conseguir um bom emprego sem se expressar da forma correta? Quem vai à escola é para aprender e não para ser vítima da esquizofrenia do politicamente correto. Se a idéia é evitar o preconceito linguístico, como diz o livro, então devem começar eliminando o preconceito de que o aluno pobre é incapaz de aprender o bom português. Aliás, se o MEC quer acabar com preconceito, que comece protegendo os melhores alunos, que são isolados, estigmatizados, chamados de nerds - e são os que têm o potencial de nos trazer, enfim, algum Prêmio Nobel. Se o professor diz que o aluno pode continuar falando 'nóis vai', porque isso não estaria errado, então esse é o pior tipo de pedagogia. Se um indivíduo vai à escola, é porque busca ascensão social e isso exige da escola que lhe ensine novas formas de pensar, agir e falar."
Nossas crianças quando não estão aprendendo o ofício do tráfico de droga nas ruas, estão recebendo merenda, bolsa auxílio e outras migalhas intencionalmente esmoladas para manter um "inteligente" índice baixo de "analfabetização". O principal, a educação que se devia receber, será testada mais à frente quando se tentará uma vaga a um determinado emprego, e aí, será vítima da chamada protelação do problema. Ou seja, com o atual sistema de ensino os educadores realmente acreditam que estão alfabetizando, basta constatar o aprendizado de um aluno da 8ª série que não consegue sequer escrever ou interpretar um bilhete de quatro linhas, então, tais alunos só conseguirão "trabalhar" mesmo na bandidagem.
A merenda escolar é um aparelho montado para arrecadação das doações de campanhas. Volta as doações multiplicadas por dez para as empresas do ramo, vencedoras em licitações forjadas e manipuladas, fornecendo a merenda para as escolas. Em quase todas as prefeituras, com armazenamento e prazo de validade, há os mais variados descuidos com os produtos de má qualidade e preços superfaturados da merenda escolar, quase sempre o lixo é destino destes produtos. Infelizmente, se não alimenta a cuca com o saber, satisfeitos são os pais com a barriga cheia de seus filhos.
Mas é assim mesmo, a democracia para funcionar bem exige que a população do país onde ela se instala tenha um certo nível de instrução e cultura que possibilite à maioria escolher bem os seus dirigentes. Isto porque a alma da democracia é o voto popular. Democracia, o sistema de governo menos imperfeito do mundo mas que só funciona em países onde o povo tem um alto ou bom nível educacional e cultural.
Queriam substituir os anos de chumbo de uma ditadura militar por uma chumbada-ditadura do proletariado, de Militares para os MILITANTES de agora, num país onde a maioria é analfabeta ou analfabeta funcional, os velhacos-meliantes passam a dominar através de várias técnicas, onde a compra do voto é uma delas. Mas como pode, afinal, um sem fim de falcatruas e delitos de corrupção serem parte da normalidade do dia a dia?
A corrupção como coisa natural na política e que o poder judiciário esteja emprenhado em defender bandidos enquanto o povo vive órfão de justiça. O fato é que no Brasil de hoje aceita-se tudo. Nunca antes na história desse país houve tantos roubos e desvios do dinheiro público. Foram mensalões, dossiês e mansões suspeitas, dólares e euros transportados em lugares indevidos, máfia das sanguessugas, máfia dos vampiros, e tantos outros. Numa terra onde vale mais o bonezinho dos sem-terra do que a boina da soberania nacional, rotinizou-se a propina, a picaretagem, a pilhagem do erário, o nepotismo, o compadrio, a quadrilhagem impune, a desfaçatez irônica e arrogante, os pugilatos eleitorais enfadonhos.
E faz parecer que lei existe para sancionar uma normalidade, na forma de um conjunto de disposições que livram "aqueles-alguns" que são mais iguais que outros. Definida pela cultura e pelos costumes é essa tal "normalidade" que procura cimentar os governos que chamam de "democrático", desde 1985.
Professor que não perdoava sequer cacófatos, o crítico literário Antonio Cândido depois de ver um "Lula" chegar a presidente do Brasil, acha, que dependendo do portador, a ignorância é virtude.
Nivelar a vida por baixo, impedir o enriquecimento intelectual, que faz pensar, tirar conclusões e não votar em demagogos e mentirosos. Um povo quanto mais ignorante mais facilmente será dominado. A história registra isto. Proteger a mediocridade só estimula a passividade.
Oras professor!
Ignorância é Força porque é preciso manter as pessoas na imbecilidade.
É de se lamentar a tragédia que envolve as crianças brasileiras, principais vítimas do processo que está lhes destruindo o futuro, sob as vistas complacentes...
Título e Texto: Plínio Sgarbi, Jaú, SP, 07-06-2011

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Não publicamos comentários de anônimos/desconhecidos.

Por favor, se optar por "Anônimo", escreva o seu nome no final do comentário.

Não use CAIXA ALTA, (Não grite!), isto é, não escreva tudo em maiúsculas, escreva normalmente. Obrigado pela sua participação!
Volte sempre!
Abraços./-