Coma
de tudo, esqueça o colesterol. Mas use adoçante no café
José Gameiro
A medicina moderna quer ser,
além de naturalmente curativa, altamente preventiva. Nas últimas décadas
estabeleceu um sem-número de relações causa-efeito entre hábitos/estilos de
vida e certas patologias. A focagem tem sido sobretudo no tabaco, na
alimentação e no exercício físico.
Sobre o tabaco parece não
haver dúvidas; sobre o exercício físico está garantido que se o fizermos
regularmente teremos a felicidade de correr, pelo menos, meias-maratonas, até
aos noventa anos, com mais ou menos luxações, e na parte final umas fraturas do
colo do fémur. Mas sobre a alimentação nunca se sabe bem o que comer…
Até há cerca de quarenta anos
não sentíamos qualquer culpa em comer um belo cozido à portuguesa recheado de
chispe, chouriço de sangue, farinheira, com um bom vinho tinto e uns doces de
ovos como sobremesa, para facilitar a digestão. Depois, começaram a ameaçar-nos
com o colesterol, carne o menos possível, nada de gorduras, ovos… nem pensar.
Salvou-se o vinho tinto porque surgiu o milagre do chamado paradoxo francês.
Conhecidos copofónicos, os franceses, parece, que têm menos riscos
cardiovasculares do que outros povos mais dados à cerveja e a outros álcoois.
Começou a época áurea para a
indústria farmacêutica da venda das estatinas, pílulas milagrosas que baixam o
colesterol, mas que provocam dores musculares, podem causar lesões hepáticas e
diabetes. Agora já podíamos comer outra vez o cozido à portuguesa desde que, à
noite, tomássemos o comprimidinho.
Depois da euforia inicial,
começaram a surgir resultados mais realistas. Sem história de doença coronária
anterior, após cinco anos consecutivos de toma diária, as estatinas diminuem o
risco de enfarte do miocárdio em 1,6 % e de AVC em 0,37, mas o risco de iniciar
uma diabetes é cerca de 2%.
Mas há sempre uma solução, e a
dieta mediterrânea veio salvar-nos. Muitos vegetais, muito peixe, muito
pãozinho, umas nozes e outros frutos secos, quando estivermos esparramados no
sofá a ver televisão, e viveremos saudáveis até aos noventa anos. Para termos a
certeza da longevidade basta pôr uma pequena aplicação no telemóvel que mede os
passos que damos diariamente e as escadas que subimos.
E então, não é que agora os
americanos – sempre os americanos –, nos vêm dizer que afinal as gorduras não
são assim tão más?
Parece que só uma pequena
parte de nós é hiper-reativo aos lípidos, a maior parte não tem repercussão nos
níveis de colesterol. Ovos com gema e tudo, à vontade. O demónio da moda é o
açúcar.

Só mais um pormenor, o vinho
tinto continua a valer, depois é só andar um bocado a pé para baixar a
alcoolemia e dormir a sesta…
E boa sorte para o centésimo aniversário. Já não conhecem ninguém, mas é tudo gente amiga.
E boa sorte para o centésimo aniversário. Já não conhecem ninguém, mas é tudo gente amiga.
Título e Texto: José Gameiro, Revista E, Expresso, 28-2-2015
Digitação: JP
Miam...miam...
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